SÃO PAULO, 28 MAR (ANSA) – O presidente Jair Bolsonaro recuou nesta quinta-feira (28) e disse que seu governo não tem como objetivo “comemorar” o golpe militar de 1964, cujo aniversário de 55 anos será no próximo domingo (31).
Segundo o mandatário, a intenção da ordem do dia que será lida nos quartéis em 31 de março é “rememorar” o episódio, “para o bem do Brasil no futuro”. Bolsonaro sempre negou que o país tenha vivido uma ditadura e, na última quarta (27), chegou a dizer que o regime militar tivera apenas “alguns probleminhas”.
“Não foi comemorar. Rememorar, rever, ver o que está errado, o que está certo. E usar isso para o bem do Brasil no futuro”, afirmou o presidente da República. A declaração contraria seu próprio porta-voz, Otávio Rêgo Barros, que afirmara no início da semana que Bolsonaro havia determinado a realização das “comemorações devidas” pelos 55 anos do golpe.
O presidente também comparou o regime de exceção e a Lei de Anistia, que permitiu a impunidade de militares envolvidos em mortes e torturas, com problemas conjugais. “Imagine que nós fôssemos casados, tivéssemos problemas e resolvemos nos perdoar na frente. É para não voltar naquele assunto do passado em que houve aquele mal-entendido entre nós. A Lei da Anistia tá aí e valeu para todos”, declarou.
A mudança de posicionamento chega após o presidente ter sido intimado a esclarecer a ordem sobre 31 de março em até cinco dias. Diversas ações na Justiça tentam impedir qualquer comemoração relativa ao regime militar.
O Ministério Público Federal até recomendou que as Forças Armadas no Rio de Janeiro se abstenham de realizar festejos para homenagear o golpe. O texto que será lido nos quartéis em 31 de março foi elaborado pelo Ministério da Defesa e diz que a ação dos militares interrompeu “a escalada em direção ao totalitarismo”.
“As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo”, afirma a mensagem. O regime vigorou por 21 anos e ficou marcado por torturas e assassinatos e pelas restrições às liberdades individuais, de imprensa e de organização política.
Em seus dois anos e sete meses de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) contabilizou pelo menos 434 mortos ou desaparecidos durante a ditadura.
“Cinquenta e cinco anos passados, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira. Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História”, conclui o texto. (ANSA)