Um estudo feito por pesquisadores brasileiros e australianos revelou um nível relativamente alto de mercúrio acumulado no rio Madeira. A extração artesanal de ouro nos últimos anos é apontada como a principal causa da poluição no maior afluente do rio Amazonas. Os resultados da pesquisa foram publicados em uma revista internacional.
O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, em parceria com pesquisadores da Queensland University of Technology, da Austrália. Além da parceria, o estudo também contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e da Shenzen University, na China.
Segundo a pesquisa, mesmo após o declínio do garimpo de ouro em minas de aluvião a partir de 1985, a garimpagem continua a ser a principal fonte de emissão de mercúrio na bacia do rio Madeira.
Pesquisadores chegaram a relatar no estudo que presenciaram garimpeiros descartando diretamente o mercúrio em lagos do rio Madeira. O metal é considerado tóxico e, portanto, representa um risco a saúde humana já que a contaminação pode acontecer pelo consumo de peixes da região.
Garimpeiros montam estruturas ao longo do rio Madeira para extração do ouro de aluvião. — Foto: Pedro Bentes/G1
Os pesquisadores fizeram a análise através de dados de sedimentos e de rochas de nove lagos do rio Madeira. O objetivo foi estimar a contribuição do garimpo para a concentração de mercúrio. Eles constataram que a quantidade de minério nos sedimentos do fundo dos lagos é mais elevado do que os encontrados nas rochas que circundam as margens do Madeira.
Dessa forma, os pesquisadores acreditam que, mesmo com a diminuição significativa da garimpagem na região, as emissões de mercúrio em anos anteriores contribuíram para altas concentrações nos sedimentos dos lagos, que costumam registrar evidências de poluição.
O estudo acrescenta, ainda, que as formações geológicas e do solo dos ecossistemas amazônicos influenciam o transporte de mercúrio. Muitos pesquisadores da região afirmam que o Madeira, que nasce nos Andes, é um rio novo e em formação constante.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista internacional Ecotoxicology and Environmental Safety.
A parceria internacional, que teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP (Fapesp), permitiu ampliar as investigações sobre a concentração de mercúrio no rio Madeira, que vêm sendo feitas pela Fapesp desde a década de 1990.
As conclusões alcançadas pelo estudo no rio Madeira agora poderão servir de modelo para uma abordagem semelhante na França.
O autor do estudo, Daniel Marcos Bonotto, professor da Unesp, afirmou que pretende-se usar a mesma abordagem estatística para estimar fontes de emissão de cromo pela indústria de calçados em rios franceses.