Para contar a história de Flamengo 2 x 0 Emelec é necessário voltar algumas horas antes do jogo. Toda a atmosfera criada ao longo desse 31 de julho influenciou no que aconteceu em campo. A torcida foi ao Ninho do Urubu apoiar a equipe à tarde. Horas depois, “corredor de fogo” na chegada ao estádio, sinalizadores… O Maracanã é acostumado com festa. Mas nessa quarta-feira foi especial. Impossível o time não se contagiar. E o Rubro-Negro deve muito a sua torcida o fato de estar classificado, após nove anos, para as quartas de final da Libertadores.
Dentro do estádio, com quase 70 mil vozes gritando e cantando sem parar, o Flamengo correspondeu. Foram 25, 30 minutos de intensidade total, em que o time praticamente não deixou o Emelec respirar. Tempo necessário para o Flamengo marcar duas vezes com Gabigol e acabar com a vantagem dos equatorianos.
Fora a incrível chance perdida pelo próprio Gabigol com apenas três minutos de jogo, tudo deu muito certo para o Flamengo no primeiro tempo. Pelo lado direito, Rafinha, Gabigol e Everton Ribeiro – apesar de nitidamente ainda não estar em seu melhor ritmo – envolveram os equatorianos. Na esquerda, Gerson, cada vez mais à vontade, se entendeu com Bruno Henrique.
Em 19 minutos o Flamengo já vencia por 2 a 0 e passava a impressão de que poderia resolver a classificação no primeiro tempo. Mas não resolveu… e acabou sofrendo por isso.
Falta gás, sobra tensão
Logo nos primeiros minutos deu para perceber que o segundo tempo teria outro roteiro. O combustível queimado em excesso no primeiro tempo fez falta. Faltou gás, intensidade, e o Emelec cresceu. E assustou.
– É impossível uma equipe jogar como o Flamengo fez por 45 minutos, quando o Emelec não fez um arremate. Foram 70% de posse de bola, como que você quer que uma equipe seja, no Brasil, China ou Europa, como o Flamengo foi por 105 metros pressionando o portador da bola e chegue na segunda parte com a mesma intensidade? Sabe onde isso acontece? No PlayStation. Quero agradecer aos jogadores por fazerem tudo que deviam fazer – analisou Jorge Jesus.
Foi um segundo tempo de poucas chances e muita tensão. O Flamengo teve uma excelente chance com Thuler, outra boa oportunidade em arrancada de Bruno Henrique e só. Valente, o Emelec não se limitou a defender e tentava encaixar contra-ataques.
Thuler, 20 anos, parecia um veterano em campo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Nesse ponto, vale destacar a atuação da defesa rubro-negra. Pablo Marí e Thuler, reservas até semana passada, foram impecáveis. Em seu segundo jogo, o espanhol vai mostrando até aqui que o Flamengo fez uma aposta certeira. O jovem Thuler, de 20 anos, parecia um veterano. Que partida do garoto.
Se a defesa era sólida, o ataque perdeu força. As substituições não incendiaram o time. Faltou ritmo a Arrascaeta, que voltava de lesão. O estreante Reinier e Berrío não conseguiram manter o nível de Gabigol e Gerson, que pediram para sair. Bruno Henrique até tentava, mas estava exausto. Rafinha já não subia com a mesma frequência. O sistema ofensivo estava sem combustível. A disputa por pênaltis foi o caminho natural.
Sobriedade que faltou na Copa do Brasil sobra nos pênaltis
Nas penalidades, a tranquilidade que faltou na Copa do Brasil sobrou diante do Emelec. Arrascaeta, Bruno Henrique, Renê e Rafinha cobraram com sobriedade, calma e categoria que faltaram contra o Athletico, há duas semanas.
Coube a Diego Alves, vaiado domingo contra o Botafogo, defender a cobrança de Dixon Arroyo. Queiróz acertou o travessão, e o Maracanã explodiu. Ufa! Foi sofrido, mas após nove anos o Flamengo está de volta às quartas de final da Libertadores.