Bachelet disse em uma entrevista que houve redução do espaço democrático brasileiro. Em resposta, na saída do Palácio do Alvorada, Bolsonaro afirmou que Bachelet defende “direitos humanos de vagabundos”. Também referiu-se à ditadura militar de Augusto Pinochet, responsável pela morte do pai de Bachelet.
“Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles o seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Acho que não preciso falar mais nada para ela”, declarou Bolsonaro.
Para a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Bolsonaro desrespeita a luta pela liberdade. Ela lembrou das declarações do presidente da República contra Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que foi morto pela ditadura brasileira.
“As declarações são vexaminosas. A ex-presidente do Chile foi profundamente agredida hoje na sua história, na sua dor de filha”, disse Feghali.
Democracia x ditaduras
O líder do PT, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), afirmou que as críticas de Bachelet foram feitas no âmbito de suas atribuições na Organização das Nações Unidas, em um contexto democrático. Para ele, Bolsonaro extrapolou na sua resposta ao atacar a ex-presidente e enaltecer a ditadura militar chilena.
“Diante de um relatório, algo absolutamente normal no mundo civilizado, no Estado Democrático de Direito, foi agredida barbaramente pelo presidente da República, que teve a coragem de ofender a memória do seu pai, morto nos cárceres da ditadura Pinochet, pela tortura a que foi submetido”, condenou.
O deputado José Guimarães (PT-CE) disse que o Parlamento precisa reagir contra elogios a ditaduras. “Não se trata de oposição e governo: não é possível mais esta Casa silenciar, nos sentimos agredidos por gestos e palavras do presidente, atos que maculam a imagem do País”, declarou.
Moção de solidariedade
O líder do Psol, deputado Ivan Valente (Psol-SP), disse que está colhendo assinaturas a uma moção de solidariedade à presidente chilena.
A reação de autoridades chilenas foi destacada pelo deputado Bira do Pindaré (PSB-MA). “O presidente chileno, que é aliado de Bolsonaro, foi à televisão condenar as declarações. Bolsonaro ataca a memória de todo um povo”, disse.
Pindaré destacou que a população chilena não celebra o regime ditatorial como faz Bolsonaro.
A ditadura militar chilena foi estabelecida em 1973 e comandou o país até 1990. O regime de exceção foi liderado por uma junta militar comandada pelo general Augusto Pinochet, em um período que registrou mais de 3 mil mortos ou desaparecidos políticos.
- Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Pierre Triboli