As charges censuradas de Bolsonaro

O cancelamento de uma exposição em Porto Alegre é ao mesmo tempo revoltante e assustador. A proibição, no entanto, foi um tiro no pé: fez com que os artistas ganhassem mais notoriedade

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Uma exposição de críticas ácidas ao governo brasileiro na Câmara Municipal de Porto Alegre durou apenas algumas horas. “Independência em Risco”, organizada pela Grafistas Associados de Porto Alegre (Grafar), retratava o presidente Jair Bolsonaro em situações vexatórias, como a que ele aparecia olhando o seu reflexo em uma privada suja ou lambendo os sapatos do presidente dos EUA, Donald Trump. Eram 36 desenhos expostos em painéis que foram removidos por determinação da presidente da Câmara, a vereadora Monica Leal (PP). “Independentemente de quem fosse retratado, não é concebível uma exposição que ofenda o presidente da nação”, justificou a vereadora. O evento foi organizado com apoio do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), que solicitou o espaço.

PELA LIBERDADE No dia 7 de setembro, os chargistas organizaram um ato em frente à Câmara contra a censura (Crédito:Stela Pastore )

O chargista Leandro Dório, que estava à frente da organização da mostra, disse que foi “a primeira vez, durante a democracia, que um evento como esse foi cancelado no Rio Grande do Sul”. Ele explicou que a Grafar decidiu recorrer ao espaço público porque a entidade vinha encontrando dificuldades para encontrar outro local para realizar a mostra – muitos rejeitam exposições de cunho político – e que a decisão da direção da Câmara de Vereadores foi surpreendente. “Temos o direito de concordar ou discordar. No passado já fizemos exposições sobre medidas da Dilma, criticamos os planos de Sarney e Collor, e as privatizações de FHC”, afirma.

CENSORA A vereadora Monica Leal cancelou a mostra por “ofender o presidente da nação” (Crédito:Elson Sempé Pedroso/CMPA)

Povo sem casa

A situação é mais revoltante, segundo os chargistas, porque agora nem na chamada “casa do povo” há espaço para críticas e divergências. De acordo com Leandro Bierhals, presidente da Grafar, era esperada alguma resistência, principalmente por causa da temática, mas ele jamais imaginou que haveria uma censura pura e simples às charges. “Podiam dizer que não concordavam e até esperávamos um debate sobre o tema. Mas não imaginávamos que a exposição fosse simplesmente cancelada, de forma unilateral”, explica.

A intenção de impedir a exposição das charges, e consequentemente debater a opinião dos cartunistas, apenas conseguiu amplificar o alcance da mostra. Os chargistas receberam diversos convites de locais que gostariam de tornar públicas as “charges proibidas”, incluindo galerias de fora do País – há grupos na França que estão interessados em expor os desenhos. Os chargistas explicam que a censura acabou favorecendo a repercussão positiva dos seus trabalhos e que, obviamente, eles não vão se intimidar. “Passei a ter vontade de expor e trabalhar ainda mais para tentar entender o que realmente acontece com o País nesse momento”, diz Dório. Mais uma vez, a união dos artistas venceu a censura.

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