‘Listras do aquecimento global’ mostram como o mundo está cada vez mais quente

Criação do cientista inglês Ed Hawkins traduz para a imagem uma sequência de dados sobre temperaturas da Terra desde o século XIX; listras azuis representam anos mais frios e vermelhas, mais quentes.

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O que um carro elétrico, um bonde alemão e um vestido têm em comum? Se depender do climatologista britânico Ed Hawkins, esses objetos podem ser o início de uma conversa séria sobre o aquecimento global.

Hawkins criou um sistema de código de barras azul e vermelho que denuncia o aumento das temperaturas. Como mostram as fotos abaixo, as cores não ficaram restritas aos cartazes de protestos. “Essa repercussão é fantástica”, afirmou o cientista ao G1. Na imagens criadas por ele, cada listra representa um ano e o conjunto mostra a evolução das temperaturas do planeta desde o ano 1850 até 2018.

O código em cinco pontos

  1. O que são essas listras? A “listras do aquecimento” são uma representação visual da mudança nas temperaturas da terra no último século. Cada listra representa a temperatura média de uma região durante um ano.
  2. O que mostra o gráfico? Os anos mais frios estão em azul, já os mais quentes, em vermelho. Nos anos mais recentes, o vermelho predomina.
  3. Por que não há números? O gráfico foi criado para ser o “mais simples possível”, e sua função é alertar para os riscos das mudanças climáticas. Há uma série de fontes específicas sobre como as temperaturas se transformaram, mas elas estão limitadas à comunidade científica.
  4. Como ele foi criado? As informações vem da base de dados sobre a temperatura global da Berkeley Earth.
  5. As cores pelo mundo Um carro elétrico, um bonde na Alemanha e até mesmo roupas já ganharam as listras que alertam para o aquecimento global

    Código de barras

    Hawkins, o cientista por trás deste padrão, explicou ao G1 a ciência escondida nas listras. O climatologista explica que o primeiro passo foi considerar uma base de dados com a temperatura de todo o planeta, inclusive cada país.

    Depois, foram selecionados os anos entre 1971 e 2000 por serem um período transitório do planeta, que ficou entre os anos mais quentes e os anos mais frios.

    A temperatura média deste período (1971-2000) serviu de base para analisar o quanto cada ano desde 1850 está acima ou abaixo do padrão.

    “A data foi escolhida porque está mais ou menos no meio do caminho entre os anos mais quentes e os mais frios, dessa forma a gente consegue dividir os tons, com o ano mais quente em vermelho escuro e o mais frio, azul escuro”, destacou Hawkins.

    Por exemplo: a média de temperatura no Brasil entre 1971 e 2000 foi de 25,2°C. Os anos que ficaram acima deste valor foram representados pelas barras em tons avermelhados. 2015 foi o ano mais quente, com 26,34°C de média e recebeu o tom mais escuro de vermelho. Já 1917 é representada pelo azul escuro, por ter sido o ano mais frio no período analisado.

    O pesquisador explicou que para a criação do gráfico brasileiro, foram considerados os dados apenas após o início do século XX, porque, segundo ele, as médias anteriores são menos precisas no país.

    Segundo o especialista, a predominância do vermelho em anos mais recentes é um retrato do aumento nas temperaturas globais.

    Para começo de conversa

    A simplicidade da representação é uma vantagem, considerou Hawkins. Para ele, esta é “uma boa forma de começar uma conversa” sobre as mudanças climáticas que acabam ficando perdidas em tabelas e gráficos complexos dos meteorologistas.

    “Cientistas geralmente conversam com gráficos complicados. Esta foi a forma que encontrei de poder me comunicar com mais gente: usamos as cores para representar as mudanças, com o azul, para anos mais frios e vermelho para mais quente, assim não há dificuldade para entender”, disse o especialista.

    Ele contou que a ideia surgiu no ano passado, quando ele se apresentou em um evento público, em que a maioria dos presentes não era cientista, e ele afirmou que todos conseguiram entender o que ele falava.

    “Queria conversar com as pessoas, que não estavam acostumadas ao discurso científico. As pessoas instantaneamente reconheceram o que era apresentado.”

    Recentemente, o padrão criado pelo cientista para retratar o aquecimento global conquistou apoiadores que resolveram tirar do papel e aplicar este “termômetro visual” em superfícies inesperadas.

    “Foram muitas as formas inovadoras que eles conseguiram aplicar nosso gráfico, para começar uma conversa sobre as mudanças climáticas”, disse Hawkins ao G1.

    Greve global pelo clima

    O cientista endossou as marchas que resultaram na recente greve global pelo clima e celebrou a adesão de uma juventude em uma causa como esta. Citou a jovem ativista sueca com a Greta Thunberg como um dos exemplos desta geração que “despertou” para este tema.

    “É brilhante ver gente tão jovem tomar a iniciativa de algo que cientistas vêm alertando há décadas e que não tiveram respostas e ações”, disse Hawkins.

    Para ele, a mensagem dada pelos jovens é clara e está cada vez mais presente na mídia. “As pessoas, estão falando disso, das implicações e riscos do aquecimento global. Nós temos que falar disso.”

    O pesquisador da Universidade de Reading ressaltou a importância de se falar sobre as mudanças em nível regional. O projeto #ShowYourStripes, de sua autoria, também publica gráficos de países e assim, é possível acompanhar o avanço nas temperaturas em cada região do globo.

    “Os cientistas costumam falar com frequência sobre as mudanças globais. As pessoas experimentam estas mudanças, mas em suas regiões. As temperaturas aumentam globalmente, mas os efeitos são reais e são notados localmente.”

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