Os funcionários da Casa da Moeda do Brasil já estão acostumados a ouvir todo tipo de brincadeira sobre o seriado espanhol La Casa de Papel. Lançado na plataforma de vídeos americana Netflix em 2017, trata do bem-sucedido roubo de cerca de 1 bilhão de euros da empresa que fabrica cédulas e moedas na Espanha.
O roubo fictício aumentou a curiosidade, mas não alterou a rígida rotina da Casa da Moeda brasileira. A fábrica fica ao lado de um batalhão da Polícia Militar, à beira de uma estradinha coberta de pedregulhos na zona industrial de Santa Cruz, o último bairro da zona oeste da capital fluminense.
Antes de ter acesso à área interna da companhia, onde oito prédios baixos se espalham por uma área de 538.000 metros quadrados, jornalistas, prestadores de serviços e demais convidados têm bolsas e mochilas revistadas e seus antecedentes criminais checados por recepcionistas abrigadas em um cubículo de vidro blindado. Vigilantes seguem de perto os passos de quem é autorizado a entrar. O espaço aéreo acima da fábrica é controlado. Por essa rígida estrutura, ninguém diria que a Casa da Moeda do Brasil, instituição pública criada no país em 1694, está em perigo.
Mas a ameaça vem de outra frente. A empresa caminha para registrar em 2019 seu terceiro prejuízo anual consecutivo, de cerca de 206 milhões de reais, mais que o dobro das perdas de 2018. Nesse ritmo, ficaria sem caixa pouco antes do fim de 2020 — uma ironia: pode faltar dinheiro na Casa da Moeda.
O governo federal propôs uma solução: privatizar a Casa da Moeda, cuja exclusividade no fornecimento de notas para o Banco Central do Brasil foi quebrada no início de novembro, com um período de adaptação garantido até 2021.
Esse plano pode salvar a instituição e seus empregados — ou significar sua ruína, ameaçando a confiança no setor monetário do país. “A Casa da Moeda não se mantém. Quando a perda da exclusividade entrar em vigor, terá de conseguir contratos por ser competitiva ou terá de ser liquidada”, diz o empresário gaúcho Eduardo Zimmer Sampaio, apontado há cinco meses como o novo presidente.
“Esse é o pior dos cenários para uma instituição com 300 anos de história.” Desde junho, Sampaio está conduzindo uma reestruturação na Casa da Moeda. A ideia é ter uma empresa rentável, para venda ou não. “Temos uma estratégia de médio prazo para tornar a Casa da Moeda sustentável e competitiva, não importa quem será o dono, se o governo ou um ente privado”, afirma Sampaio.
O caso específico da instituição evidencia um dilema fundamental que a equipe econômica vai enfrentar para colocar em prática o projeto de privatizar no curto prazo diversas estatais: como avaliar a necessidade e a conveniência de vender essas empresas para além de seus (maus) resultados financeiros.
A reportagem completa sobre os novos rumos da Casa da Moeda do Brasil estão na edição 1198 de EXAME, disponível nas bancas, tablets e smartphones.