O sorriso estampado no rosto de Sebastião Rodrigues Nascimento, 80 anos, revela toda a emoção de voltar a enxergar, após sofrer anos em decorrência de uma lesão no olho que causou a cegueira: catarata. Surdo e mudo de nascença através do sentido da visão ele conseguia se comunicar com o mundo e devido a falta de visão viveu momentos de depressão. Há cerca de um ano a família aguardava ansiosa pela cirurgia .
“Nossa expectativa por essa cirurgia era grande. Meu tio, além da idade, ele é surdo e mudo. Toda a interação com a família sempre foi através da visão. Aproximadamente um ano, minha mãe vem correndo na rede pública em busca desse procedimento, e finalmente chegou esse momento”, disse Deusdedi Rodrigues Alves, sobrinho do paciente.
De acordo com o sobrinho de Sebastião, essa cirurgia significa muito, não só para a família, mas principalmente para o tio. “Essa cirurgia de catarata vai trazer de volta a autonomia dele, percebemos que ao longo do ano, ele já estava no processo de tristeza e depressão. Antes, ele era muito ativo, tudo ele fazia dentro de casa, e a falta da visão tirou a possibilidade da autonomia dele. Devido ao problema, ele não conseguia mais fazer as coisas, até suas necessidades básicas, e isso para um homem é muito difícil. E esse procedimento vai trazer também tranquilidade para a família”, afirmou Deusdedi Alves.
O secretário de Estado da Saúde, Fernando Máximo, explicou que o idoso estava na lista de espera juntamente com cerca de duas mil pessoas que aguardavam pelo procedimento e que começaram a ser atendidas em julho deste ano através do mutirão de cirurgias de catarata.
“Quando assumimos a pasta vimos que uma das prioridades era atender essas pessoas que aguardavam há mais de quatro anos por uma cirurgia e, como neste caso, já estavam até mesmo ficando cegas. Então fizemos a contratação através de licitação de um clínica terceirizada para atender mais de duas mil pessoas e zerar a fila de pacientes com catarata até o meio do ano que vem”, disse o secretário.
Sebastião Rodrigues atualmente mora com a irmã, que também é idosa, aos 74 anos Agenora Rodrigues não mede esforços para cuidar do irmão.
“Devido ele não falar, eu só percebi que ele estava ficando cego porque deixou de fazer algumas atividades que costumava fazer dentro de casa. Foi então que começou a minha luta nas unidades de saúde, quando eu e minha família estávamos pensando em pagar essa cirurgia, o que não seria fácil. Então recebemos uma ligação para irmos até o consultório, e foi através desse mutirão realizado pela Secretaria de Saúde que conseguimos realizar nosso sonho, pois não era só o desejo dele, como também o nosso. No dia que ele veio fazer a cirurgia eu nem dormi direito, estava muito ansiosa, queria ver meu irmão enxergando novamente”, disse emocionada Agenora Rodrigues.
“Estou me sentindo vitoriosa. Há mais de um ano espero por essa cirurgia do meu irmão. Eu já tinha procurado uma clínica particular, mas era muito caro, enfrentamos muitas dificuldades e por ser uma cirurgia de risco, com anestesia geral, fiquei ainda mais nervosa. Mas tudo valeu a pena e ver o sorriso do meu irmão, não tem preço”, completou Agenora Rodrigues.
A oftalmologista Renata Veloso, especialista em cirurgia de catarata, disse que o procedimento realizado no paciente foi a facoemulsificação, método da cirurgia de catarata onde é realizado uma incisão na córnea. Uma cirurgia que leva ponto nos olhos, sendo indicada quando a catarata está muito grande e quando o paciente está há um tempo sem enxergar.
“São feitas incisões menores de 3,5mm com um laser nos olhos. É inserida através dessa ruptura uma espécie de cânula no globo ocular, ligada a um equipamento ultra-sônico, que aspira e dilui a catarata. Em seguida, é implantada uma lente intraocular através da incisão, essa técnica é mais segura para esse tipo de catarata”, avalia a oftalmologista.
No retorno para avaliação do pós-operatório, a médica concluiu que o resultado superou as expectativas. “O senhor Sebastião voltou a enxergar e a tendência é que a visão volte gradativamente a cada dia. Agora, é ter alguns cuidados, repouso, utilizar os colírios corretamente, e vamos acompanha-lo até 30 dias. Estando tudo bem, vamos dar alta desse olho operado e começar novos procedimentos para a realização do outro olho”, enfatizou a oftalmologista.
MUTIRÃO DE CATARATA
Em Rondônia, de acordo com dados do Sistema de Regulação do (Sisreg), 2.263 pessoas aguardam na fila de espera, desde março de 2015, para a realização de cirurgia de catarata.
É importante destacar que há situações em que o paciente necessita de cirurgia em apenas um dos olhos. Também há os que precisam do procedimento nos dois olhos, ou seja, podendo chegar a 4 mil cirurgias em espera.
Com o objetivo de reduzir esta fila, no dia 10 de julho, quando se comemora o Dia da Saúde Ocular, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) iniciou um mutirão para a realização de 2.400 cirurgias de catarata , através da contratação de uma clínica de oftalmologia feita por meio de chamamento público.
Desde que iniciou, mais de 700 procedimentos foram realizados no mutirão. Entre os dias 21 a 24 de novembro, uma força tarefa foi realizada, quando mais de 300 cirurgias foram feitas, visando agilizar os atendimentos.