O número de pessoas de Rondônia com trabalhos formais (carteira assinada) e de quem trabalha na informalidade se manteve estável no ano passado, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em média, ao menos 240 mil pessoas trabalham por conta própria todo mês em Rondônia.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram os números referentes aos empregados e empregadores. A relação ficou da seguinte maneira em 2019:
Nº de empregadores
- janeiro, fevereiro e março: 24 mil
- abril, maio e junho: 30 mil
- julho, agosto e setembro: 31 mil
Nº de empregadores com registro no CNPJ
- janeiro, fevereiro e março: 17 mil
- abril, maio e junho: 18 mil
- julho, agosto e setembro: 22 mil
Nº de pessoas trabalhando por conta própria
- janeiro, fevereiro e março: 247 mil
- abril, maio e junho: 259 mil
- julho, agosto e setembro: 245 mil
Nº de trabalhadores por conta própria com registro no CNPJ
- janeiro, fevereiro e março: 28 mil
- abril, maio e junho: 41 mil
- julho, agosto e setembro: 30 mil
O levantamento do instituto mostra que no primeiro trimestre de 2019 (janeiro – fevereiro – março), a taxa de pessoas em trabalho formal e informal foi de 91,1%. Já no segundo trimestre (abril – maio – junho), a porcentagem é de 93,2%. No penúltimo trimestre o total é de 91,8%. O último semestre de 2019 ainda está sendo fechado pelo IBGE.
Como é viver do trabalho informal?
Letícia Valente, de 28 anos, mora em Porto Velho e faz parte do grupo que trabalha na informalidade. Ela conta que chegou na capital rondoniense há três anos e não conseguia emprego de carteira assinada.
Foi no trabalho informal que Letícia conseguiu, além de um renda financeira, uma forma de frear um início de depressão emocional na vida dela.
“Fui chamada para fazer algumas entrevistas, mas nunca consegui passar dessa fase. Nessa época eu quase entrei em depressão por não conseguir uma vaga. Mas para não ficar parada, comecei a vender saladas de frutas, porém o lucro era pouquíssimo”, diz.
Mas o que deu certo para alavancar a renda financeira, afirma Letícia, foi o trabalho com a técnica de lettering [a arte de desenhar letras]. Após finalizar uma parede na própria casa e ter postado a arte nas redes sociais, o retorno dos futuros clientes foi quase imediato.
“Deu muito certo, recebi várias mensagens de clientes pedindo para fazer o orçamento. Fechei o primeiro serviço com uma empresa. Foi um sucesso o trabalho, abriu muitas portas para mim”, conta.
Sobre o lucro, a artista ressalta não ter o que reclamar. “Percebi que ganhava até melhor que muitas pessoas que trabalham de carteira assinada. Logo de início consegui bancar o aluguel de casa e pagar algumas contas. Fiquei feliz e me senti útil por fazer algo que eu gosto”, ressalta.
A pipoca de cada dia
Para Paulo Tedros, de 29 anos, também faz parte do seleto grupo de trabalho informal em Porto Velho. Ele vende pipocas gourmet e diz que a ideia do negócio surgiu quando ele ficou “apertado” para pagar os estudos.
“Tive a ideia da venda das pipocas junto com minha cunhada, no mês de janeiro do ano passado.Foi quando fui fazer o curso técnico de enfermagem. No início vendia as pipocas apenas nos domingos e isso já dava para pagar meu curso”, lembra.
A venda das pipocas gourmet deram tão certo que, após Paulo chegar das férias do curso, fez um teste para ver se poderia aumentar o lucro. Assim ele decidiu sair mais vezes na semana para oferecer seus produtos.
“Sempre trabalhei como vendedor, sei que é preciso ser ousado na hora de oferecer meu produto. Foi quando comecei a ter uma visão maior do negócio. Isso me incentiva a querer crescer ainda mais com a vendas das minhas pipocas”, explica.
Opinião de empregado
Já para Bruno Valderes a situação é outra. Ele é formado em contabilidade e antes mesmo de concluir o curso já estava empregado na área. O contador está vinculado na mesma empresa há três anos.
“A vantagem de carteira assinada é que posso comprovar minha renda e também tenho um fundo de garantia. Isso para caso aconteça um acidente comigo e eu tenha que me afastar pelo INSS. A desvantagem é a carga tributária em cima da folha. Os descontos são altos e não há uma retribuição por conta desse desconto”, aponta.
O que diz o especialista?
O G1 conversou com o economista Otacílio Carvalho, que falou sobre os resultados dos dados levantados pelo IBGE de Rondônia em relação ao trabalho formal e informal. O especialista destacou pontos de equilíbrio quanto ao levantamento feito pelo instituto.
“A questão do trabalho informal tem uma forte relação com o mercado de trabalho formal. O fato é que a estabilidade do emprego formal também vem estabilizando o trabalho informal em Rondônia. O primeiro passo de uma pessoa que foi demitida, inicialmente é procurar outro emprego no trabalho formal. Não encontrando, aí vem a questão de sobrevivência. Elas partem para o trabalho informal”, pontua.
Quanto a estabilidade do trabalho informal em Rondônia, o economista, explica ser ‘normal’ essa prática no estado.
“É visível o aumento do trabalho informal, mas isso é normal nos grandes centros. São os camelôs, vendedores ambulantes. Se vê muito em áreas estratégicas da capital como nas avenidas Jatuarana e Amador dos Reis. Lugares de muito movimento comercial. E isso não está atrelado a uma questão de curto prazo, mas sim de longo prazo”, ressalta.
Com o resultados dos estudos que Otacílio realizou no final da década de 90 e em 2013, o especialista destaca o perfil encontrado das pessoas trabalhando na informalidade.
“Na maioria tem delas é de um perfil de baixa taxa escolaridade e que não buscou uma qualificação técnica, estão ali há um bom tempo. No entanto, isso não decorre primordialmente por conta do desemprego, mas sim por algumas características bem interessantes. Foi o que descobri com os estudos. Elas estão ali por opção mesmo. Muitas delas responderam que se estivessem no mercado de trabalho estariam ganhando menos do que tiram no trabalho informal. Elas estão lá por opção e não por estratégia”, aponta.
Segundo Otacílio, ainda há uma outra parcela da população que está no trabalho informal em busca de um complemento da renda familiar, como os motoristas de aplicativos e entregadores de refeições.
“É o esposo ou a esposa quem tem o companheiro que é servidor público ou que trabalha formalmente e está ali para ajudar com a renda familiar, isso é muito normal”.