O secretário estadual Gilberto Figueiredo é um dos gestores estaduais de Saúde que assinam a carta em repúdio ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na noite de terça-feira (24), sobre a crise da Covid-19 (o novo coronavírus).
Na carta, os secretários estaduais de Saúde dizem que assistiram estarrecidos ao pronunciamento de Bolsonaro, que afirmou em rede nacional que o Brasil deve voltar à normalidade e que a Covid-19 é uma “gripezinha”.
“Temos, juntamente com o Ministério da Saúde, os municípios e a própria sociedade brasileira, empreendido uma intensa luta no enfrentamento da Covid-19. Luta que envolve trabalho, sacrifício, solidariedade, empatia, compaixão com o sofrimento das pessoas e que depende de maneira imprescindível do alinhamento de entendimento e de ações, assim como da união de esforços e de uma direção única e firme”, diz trecho da carta.
Os secretários dizem que “ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negando todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu principal governante: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar”.
Na carta, eles citam a tentativa de desmobilizar a sociedade e citam que a atitude do presidente dificulta o trabalho de todos os que estão engajados na tentativa de conter a pandemia do coronavírus.
“Infelizmente o que vimos em seu pronunciamento foi uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias de todo o país. Sua fala dificulta o trabalho de todos, inclusive de seu ministro e técnicos”.
Por fim, os secretários ressaltam que a economia do país, ainda que passe por instabilidades, vai se recuperar, mas ressaltam que as vidas perdidas por causa do coronavírus não serão recuperadas.
“A economia, com trabalho, disciplina, organização e espírito público, se recuperará. Seremos solidários e trabalharemos sem descanso para permitir uma rápida recuperação da nossa economia. Mas é preciso que se entenda, vidas perdidas, não serão recuperadas jamais”.
Veja, abaixo, a íntegra da carta:
“Carta dos Secretários Estaduais de Saúde do Brasil após pronunciamento do Presidente da República
Assistimos estarrecidos ao pronunciamento em cadeia nacional do Presidente da República, Jair Bolsonaro.
É preciso demonstrar ao Brasil as suas consequências e a necessidade de que a população perceba a gravidade do momento que estamos vivendo.
Temos, juntamente com o Ministério da Saúde, os municípios e a própria sociedade brasileira, empreendido uma intensa luta no enfrentamento da Covid-19.
Luta que envolve trabalho, sacrifício, solidariedade, empatia, compaixão com o sofrimento das pessoas e que depende de maneira imprescindível do alinhamento de entendimento e de ações, assim como da união de esforços e de uma direção única e firme.
Todas as decisões e recomendações do Conass e do Ministério da Saúde têm se baseado em evidências científicas, na realidade nacional e internacional e buscado inspiração nas melhores práticas e exemplos de condutas exitosas ao redor do mundo.
É este o esforço que temos empreendido em defesa de nossa pátria e de nossos irmãos e irmãs brasileiros. É dessa forma, desassombrada e corajosa, na direção correta que queremos seguir na missão de defender nossa gente.
Não temos qualquer intenção de politizar o problema. Temos construído, sem dificuldade, independente de colorações partidárias, políticas e ideológicas, consensos para o bem do Sistema Único de Saúde – o SUS e, sobretudo com a saúde do povo brasileiro. Este é nosso compromisso. É isso que norteia nossas ações e esforços.
Já temos dificuldades demais para enfrentar.
Não podemos permitir o dissenso e a dubiedade de condução do enfrentamento à Covid-19. Assim, é preciso que seja reparado o que nos parece ser um grave erro do Presidente da República.
Ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negando todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu principal governante: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar.
Infelizmente o que vimos em seu pronunciamento foi uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias de todo o país.
Sua fala dificulta o trabalho de todos, inclusive de seu ministro e técnicos.
Todo o apoio à atuação do Ministério da Saúde e sua equipe, que tem trabalhado técnica e cientificamente em todos os momentos. Com saúde não se pode brincar e nem fazer apostas, diante do risco que corremos. É preciso discernimento, coragem e determinação para liderar, unificar e auxiliar a nação a superar mais este desafio de Emergência em Saúde Pública.
Temos plena consciência de que o Brasil e o mundo irá enfrentar uma grave recessão econômica, aprofundamento das desigualdades sociais e empobrecimento.
A economia, com trabalho, disciplina, organização e espírito público, se recuperará. Seremos solidários e trabalharemos sem descanso para permitir uma rápida recuperação da nossa economia.
Mas é preciso que se entenda, vidas perdidas, não serão recuperadas jamais.
Que Deus abençoe cada um de nós que temos trabalhado intensivamente e dormido pouco.
Que Deus abençoe e proteja todos os brasileiros e brasileiras.
#ficaemcasa
Secretários de Estado da Saúde do Brasil