Em São Paulo, 21 mil casos suspeitos de Covid-19 esperam por resultados de exames

Coordenador de Controle de Doenças do estado atribui o não cumprimento do prazo previsto pelo próprio governo a dificuldades na estrutura dos laboratórios e à falta de insumos.

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Os números oficiais da Covid no Brasil ainda estão muito distantes da realidade porque faltam testes para detectar o coronavírus nos pacientes. Só no estado de São Paulo, por exemplo, 21 mil casos suspeitos ainda esperam por resultados.

Flávio e a família estão isolados em casa há 11 dias, desde que a mãe morreu. Maria de Lourdes, de 58 anos, teve falta de ar e comprometimento dos pulmões. Ela fez teste do novo coronavírus, 13 dias atrás, e o resultado ainda não saiu.

“Sabe Deus quantas mais pessoas estão passando pela mesma situação que eu. Os números apresentados são frios, mas para as famílias eles são um alento, de pelo menos você saber, efetivamente, o que levou o seu ente querido”, diz Márcio Santana, filho de Maria de Lourdes.

No fim de março, a Secretaria da Saúde de São Paulo informou que, em duas semanas, iria ampliar de 400 para 8 mil o número de testes de Covid-19 processados por dia. O prazo venceu nesta sexta-feira (10) e o número ainda está muito longe da meta. São apenas 1.300 exames por dia. Enquanto isso, a fila de espera cresce.

Segundo o boletim epidemiológico do governo de São Paulo, no dia 8 de abril, havia mais de 21 mil exames em análise; outros 6,3 mil para triagem, e quase 2 mil para encaminhar. O que dá mais de 30 mil.

O coordenador de Controle de Doenças do estado diz que em vez de 30 mil, o correto é considerar 21 mil exames à espera de um resultado. “Tem testes que chegam em duplicidade, tem testes que chegam sem possibilidade de análise por conta da qualidade do material, e tem testes que o sistema informa que foram enviados, mas eles, na verdade, não chegaram, não foram recebidos pelo laboratório”, afirma Paulo Menezes.

Ele atribui o não cumprimento do prazo previsto pelo próprio governo a dificuldades na estrutura dos laboratórios e à falta de insumos. “Muitos países estão comprando quantidades muitos grandes e o Brasil também tem alguma dificuldade de conseguir o quantitativo necessário. Agora, foi refeito o plano de expansão e nós pretendemos chegar a 8 mil até o final do mês de abril”, explica Paulo.

Amilcar Tanuri, professor de virologia da UFRJ, concorda que a dependência de insumos produzidos no exterior é o grande gargalo e leva a subnotificação de casos. “Nosso nível de testagem está muito baixo em relação à nossa população. É uma quantidade muito grande de testes sem ser feitos e isso atrapalha também na questão da contagem de casos. Eu acho que é uma lição pra gente, que quando acabar essa epidemia, que o Brasil tem que ser autossuficiente nesse reagente, para a gente ter um preparo para as próximas epidemias”.

Quem perdeu um parente e ainda enfrenta o drama dessa epidemia, quer uma resposta. “Você passa a se questionar se efetivamente estão nos falando a verdade; uma vez que essa verdade não chega nunca”, diz Márcio.

O Conselho regional de medicina de São Paulo afirmou ter encontrado indícios de irregularidades no armazenamento de 20 mil amostras para testes de Covid-19 no Instituto Adolfo Lutz. O material estava em geladeiras indicadas para a conservação por até 72 horas. E, segundo o conselho, a capacidade atual de fazer os exames não garante que as amostras sejam analisadas dentro desse prazo.

A Coordenadoria de Controle de Doenças de São Paulo, responsável pelo Instituto Adolfo Lutz, declarou que a denúncia não procede, que não há 20 mil amostras no laboratório, mas sim, 17 mil, que as temperaturas de conservação não interferem na qualidade das análises, e que o instituto possui geladeiras e freezers com capacidade para armazenamento, seguindo protocolo da Organização Mundial da Saúde. A coordenadoria afirmou que está à disposição do conselho para esclarecimentos.

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