É #FAKE que máscaras importadas da China são distribuídas contaminadas com o novo coronavírus

Especialistas explicam que vírus não sobrevive ao traslado de dias. Além disso, equipamentos têm sido importados pelo Ministério da Saúde para uso por profissionais de saúde; não há distribuição para o público em geral.

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Circulam nas redes sociais mensagens que dizem que máscaras importadas da China estão sendo distribuídas contaminadas com o novo coronavírus e que, por isso, devem ser evitadas ou, se usadas, precisam ser lavadas com água sanitária. É #FAKE.

A informação falsa se refere às milhões de máscaras compradas pelo Ministério da Saúde na China como parte de um lote de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os profissionais de saúde – e não para a população em geral. Governos estaduais também adquiriram equipamentos para médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que não há qualquer evidência de nada do exposto na mensagem falsa. “Os vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias”, explica.

Da mesma forma, especialistas entrevistados são unânimes ao afirmar que o novo coronavírus não é capaz de resistir nas máscaras durante todo o traslado China-Brasil. “Não há risco, seja em máscara, brinquedo ou tecido trazido da China. Não existe como, nesse período entre embalagem e voo de 24 horas, haver risco de contaminação. Não há possibilidade biológico de o vírus se manter vivo nessas condições”, diz o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Não é preciso esterilizar a máscara, ela vem pronta para uso. Elas não são esterilizadas, nem necessitam ser. E tem outro detalhe: se alguém está preocupado com o produto chinês, está redondamente enganado. Hoje, tem muito mais coronavírus circulando aqui do que lá. Então se for se preocupar, se preocupa com produto brasileiro, não chinês.”

A equipe do Fato ou Fake já desmentiu um boato sobre produtos importados do país asiático.

Segundo o infectologista Leonardo Weismann, um estudo publicado mês passado na revista científica “New England Journal of Medicine” já atestou a impossibilidade da resistência do vírus por muito tempo: “Este é mais um boato, e já foi desmentido antes. Mesmo que as máscaras estivessem contaminadas, o SARS-CoV-2 não sobrevive ao tempo de transporte até chegar aqui. O estudo mostrou que o vírus pode ser detectado por até 72 horas em superfícies de plástico e até 24 horas em papelão”, explica o médico, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A pesquisa, realizada por cientistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Universidade da Califórnia, de Los Angeles e de Princeton, foi publicada em março. O trabalho avaliou a resistência do novo vírus em cinco materiais diferentes, e concluiu que ele resiste mais em materiais como aço inox e plástico (3 dias), e menos em papelão (um dia) e cobre (4 horas).

O pneumologista Rodolfo Berhsin Hugg, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, endossa: o temor de que as máscaras cheguem infectadas é injustificável. “Esse risco é totalmente infundado. Essas máscaras são vistoriadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária na entrada no país e, caso ocorresse contaminação, elas seriam recusadas”, aponta.

“A informação também não se justifica quando se refere aos Estados Unidos. Eles possuem critérios de qualidade bem elevados, e as máscaras seriam recusadas também. Imaginem a repercussão se as autoridades americanas identificassem uma irregularidade dessa magnitude?”, diz o médico. Ele ratifica que não há qualquer necessidade de limpeza do material antes de usar: basta posicionar máscara no rosto. “Higienizar pode, inclusive, destruir as máscaras”.

A pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, lembra que não há relatos na literatura médica de contaminação pelos EPIs. “Essa hipótese é absurda. O uso de água sanitária é para lavagem das máscaras caseiras”, explica a médica. “As máscaras de uso em ambientes de saúde passam por controles de qualidade e não são ‘lavadas’ com água sanitária. O que ocorre é que, mesmo utilizando EPI, é possível que o profissional se contamine ao colocá-los ou retirá-los. Por isso, há uma técnica para a utilização correta.”

Para a infectologista Flávia Gibara, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “obviamente é fake news” a contaminação das máscaras. “Muito provavelmente, em uma viagem, do momento em que a máscara é fabricada, embalada, transportada até o destino, passando por diferentes temperaturas e condições, em um tecido, há uma chance minúscula de que isso aconteça”, explica a especialista. “É muito pouco provável que esse vírus venha em uma máscara até o consumidor final, vindo de qualquer lugar”, acrescenta.

As mensagens têm sido compartilhadas em formato de áudio e texto. Uma diz que “na dúvida sobre a higiene dessas máscaras, e considerando o risco de estarem contaminadas, todos devem lavar suas máscaras, deixar de molho em água e água sanitária diluída e colocar para secar. Só aí elas estarão seguras para uso”. Diz ainda que “existem notícias, que podem ser boatos, sobre a contaminação de população nos Estados Unidos por máscaras chinesas”.

Uma outra vai além: “Minha colega do posto diz que vão distribuir máscaras. É para não aceitar. As máscaras estão vindo da China e estão contaminadas. É por isso que vão morrer milhões de pessoas. Não aceite as máscaras, mesmo se o agente comunitário bater na sua porta . É para comprar máscara em farmácia”.

Uma outra insinua que autoridades de saúde vão distribuir propositalmente máscaras contaminadas, e ainda diz que soube da informação “de fonte segura”. “Foi comprovado agora, foi a maior descoberta: todas as máscaras estão vindo contaminadas da China. Não usem”.

Uma das mensagens se refere especificamente ao estado de Alagoas, e alerta que a população não deve aceitar máscaras distribuídas nos postos de saúde. Só que, segundo as secretarias de Saúde do estado e da capital, Maceió, não há distribuição de máscaras em residências por agentes de saúde. Os órgãos ainda garantem a procedência confiável das máscaras que vêm sendo adquiridas aos profissionais.

Mensagem falsa que circula em Alagoas — Foto:  G1

A Secretaria de Saúde do município do Rio de Janeiro também diz que o áudio que circula na internet, pedindo para que as pessoas recusem máscaras a serem distribuídas pelo poder público, é “fake news”. “Não tem o menor sentido.” Segundo o órgão, a prefeitura vai priorizar a proteção dos profissionais de saúde e de outras categorias que precisam continuar trabalhando nesse momento.

No início do mês, a prefeitura anunciou a contratação de 600 costureiras para a confecção de 1,8 milhão de máscaras de pano para a população. Ou seja, não houve importação de máscaras da China neste caso.

Além dessa primeira iniciativa, o poder público municipal também anunciou no último sábado (18) a distribuição de mais um milhão de um modelo novo de máscara. Esses equipamentos são de celulose, biodegradável e com design mais eficiente, para evitar a contaminação do lado interno. As máscaras são descartáveis e duram um dia de uso, segundo a prefeitura.

Sobre as máscaras feitas de pano, por costureiras e indicadas para a população, a infectologista Fávia Gibara lembra que é importante lavá-la antes da primeira utilização e sempre que ela for utilizada na rua. “Eventualmente, essa máscara pode ter sido feita naquele mesmo dia por uma pessoa assintomática que tenha o vírus. Então, toda máscara de tecido tem que ser higienizada antes de ser vestida e a cada uso”, alerta.

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