O Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), representado pelo Dr. Mário Vianna, entregou para a Assembleia Legislativa do Estado (ALE) um pedido de impeachment do governador do Amazonas, Wilson Lima, e do vice-governador Carlos Almeida Filho. A categoria alega má gestão da saúde no período da covid-19 no Amazonas no documento entregue nesta terça-feira (21).
A ALE-AM recebeu o pedido, protocolou e o documento será analisado pelos deputados estaduais. Conforme o último balanço da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) divulgado nesta terça-feira (21), o Amazonas registra 2.270 casos confirmados do novo coronavírus e 193 mortes. Com o aumento das mortes, contêineres frigoríficos foram instalados no cemitério público no Tarumã, Zona Oeste, onde corpos das vítimas estão sendo enterrados em valas comuns.
O G1 entrou em contato com o Governo do Estado, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
No Amazonas, o período de estado de calamidade pública foi prorrogado por mais 180 dias em virtude do aumento no número de casos de contaminação por coronavírus na região.
Em dezembro de 2019, os deputados estaduais Wilker Barreto (Podemos) e Dermilson Chagas (PP) protocolaram na ALE-AM, um outro pedido de impeachment do governador Wilson Lima e do vice-governador, Carlos Almeida Filho, pelo mesma questão que o Simeam alega: prática de crimes de responsabilidade e improbidade administrativa.
Na ocasião, os dois deputados afirmaram que a denúncia se baseava na “grave crise da saúde pública no Estado” e na “omissão do Governo em propor soluções para as problemáticas como a falta de medicamentos e insumos nas unidades hospitalares, ausência de equipamentos para exames e atraso de quase seis meses de salários para os profissionais terceirizados da saúde”.
Segundo publicação no Diário Eletrônico da ALE-AM, a mesa diretora da casa rejeitou o pedido dos dois deputados “pela falta de fundamentação com relação aos elementos subjetivos da conduta, ausência de demonstração de nexo de causalidade, além da ausência de descreição precisa e clara dos fatos”
No novo pedido de impeachment desta terça-feira (21), feito pelo Simeam e destinado ao presidente de ALE-AM, deputado Josué Neto, os médicos relatam a “prática de crimes de responsabilidade e improbidade”, e pedem a perda do mandato público, bem como a inabilitação para exercer a função pública pelo prazo de cinco anos.
Na segunda-feira (20), o presidente de ALE-AM, deputado Josué Neto, assinou o pedido de intervenção federal na saúde pública do Amazonas, que foi aprovado no mesmo dia durante uma sessão ordinária virtual da Assembleia, realizada entre os deputados estaduais. O pedido foi aprovado com 13 votos a favor.
No mesmo dia da votação do pedido de intervenção federal na saúde pública do Amazonas, o vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, esteve em Manaus em uma reunião de portas fechadas com prefeito de Manaus, Arthur Neto, e o governador do Amazonas, Wilson lima. A pauta era para alinhar estratégias de combate ao novo coronavírus no Estado.
Segundo o documento do pedido de impeachment, “a probidade administrativa foi completamente quebrada no momento em que estes foram contra o princípio da economia das verbas públicas, com esvaziamento desenfreado e inconsequente dos cofres públicos do Amazonas”.
Em entrevista ao G1 na manhã desta quarta-feira (22), o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mário Vianna, que assinou e enviou o pedido de impeachment para a ALE-AM, disse que diversas ações, desde o início da gestão do governador Wilson Lima, o levou a entrar com o pedido. Ele disse que a situação se agravou com o avanço da pandemia do novo coronavírus no Estado.
“É o conjunto da obra. É sobre tudo. O mais grave é a falta de diálogo. Não existe diálogo da Secretária de saúde com os profissionais da saúde. A Susam acha que tem o poder de tudo, sabe tudo e não resolve nada. Toma decisão equivocada, não ouve os médicos. É um descontentamento geral, não só da área da saúde, mas, principalmente, nesse momento é a saúde”.
O presidente do sindicato falou também sobre a compra dos respiradores. Ele ressalta que deve ser feita uma investigação em relação às compras realizadas pelo estado. “Foi comprado por sete vezes a mais que o valor normal”, além de comentar sobre a falta de estrutura para os profissionais da saúde que atuam em linha de frente nas redes públicas de saúde do Amazonas.
Ao decorrer do documento, o sindicato descreve os gastos de patrocínio do governo com eventos durante a crise. O Simeam cita, ainda, que “o Amazonas enfrenta um cenário crítico e desolador”. Após a confirmação do primeiro caso de covid-19, no dia 16 de março, o governo decretou situação de emergência na saúde pública por 120 dias.
Entre os motivos do pedido, o sindicato relata a situação dos hospitais de Manaus durante a pandemia do novo coronavírus. Um dos trechos fala sobre a não-operação de 50% do Hospital Delphina Aziz, referência no tratamento de covid-19.
“Em um período que se mostra absolutamente delicado ao Estado do Amazonas, onde a sua população está falecendo por uma doença que causa uma pandemia global atualmente, e, também, onde o hospital referência no tratamento dessa doença não opera nem com 50% da sua capacidade, mas o Instituto responsável pela sua gestão recebe mensalmente o valor integral para execução do contrato”, diz trecho.
“Em meio à crise do novo coronavírus, o Governo do Estado do Amazonas se mostra com grande potencial de irresponsabilidade com a sua população, gastando desenfreadamente e sem sequer dar satisfação aos contribuintes acerca das medidas que estão sendo tomadas com suas próprias verbas”.
Com todos os relatos, o sindicato pede que a ALE-AM admita e autorize “a instauração do necessário processo de impeachment do Excelentíssimo governador do Estado do Amazonas e do vice-governador, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho”. Vianna finaliza com a motivação de que há uma “farta comprovação da prática de crime de responsabilidade e improbidade administrativa”.
Carreata em Manaus pediu saída do governador
O governo do Amazonas tem sido alvo de críticas por conta da forma que tem lidado com a crise na saúde pública diante da pandemia do novo coronavírus. No dia 19 de abril, centenas de motoristas contrariaram as medidas dos órgãos de saúde, se aglomeraram e realizaram uma carreata pelas principais vias de Manaus para pedir a saída do governador Wilson Lima.
O grupo de motoristas teve como destino, a fachada do Comando Militar da Amazônia, na Ponta Negra. Os motoristas desceram dos veículos e, mesmo com máscaras, e se aglomeraram em frente ao local. Em forma de protesto, com adesivos, eles pediam a saída do governador.
Manifestações de profissionais da saúde
Ao longo de 2019, o G1 acompanhou manifestações de profissionais da saúde que atuam em hospitais públicos de Manaus. Eles alegavam a falta de pagamento e pediam melhores condições de trabalho dentro das unidades hospitalares.
No dia 20 de março deste ano, quando o Amazonas registrava 81 casos de covid-19, enfermeiros terceirizados da saúde pública realizaram uma manifestação em frente ao Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Serviço de Saúde do Estado do Amazonas (Sindipriv)
No dia da manifestação, além de relatarem salários atrasados, os profissionais pediam materiais suficientes para atuarem na linha de frente em combate ao novo coronavírus.
“Além de não terem os equipamentos de proteção individual (EPIs). Em alguns hospitais, os enfermeiros são obrigados a usar as máscaras por 12 horas, porém, a eficácia do material dura apenas 4 horas. Sem salário e arriscando a vida dentro das unidades”, contou a presidente do sindicato, Graciete Mouzinho.
Em fevereiro de 2019, médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde do hospital 28 de Agosto fecharam a Avenida Mário Ypiranga durante um protesto. Naquele dia, opresidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mário Vianna, esteve no local, e, junto aos colegas, cobrou salários atrasados, além de melhores condições na unidade.
“Faltam insumos, medicamentos, fio cirúrgico, anestésicos, leitos. Há superlotação nas maternidades. As unidades neo-natal não têm vaga para bebês prematuros. Além do atraso no pagamento do salário. Todas as categorias terceirizadas da saúde estão com o salário atrasado, de todas as unidades SPAs, hospitais e Pronto-Socorros”, disse.
Casos de Coronavírus no Amazonas
No Amazonas, até o último boletim divulgado nesta terça-feira (21), foram registrados mais 110 casos de Covid-19, e foi alcançado um total de 2.270 casos confirmados. Também foram confirmadas mais oito novas mortes por Covid-19, totalizando 193 mortes no Amazonas. .
Conforme o boletim desta terça-feira, 1.170 pessoas com diagnóstico de Covid-19 estão em isolamento social ou domiciliar, o que corresponde a 51,54% dos casos confirmados no Amazonas. De segunda (20) para esta terça-feira, mais 91 pessoas se recuperaram da doença e estão fora do período de transmissão do vírus, totalizando, agora, 726 recuperados.