Mortes por síndromes respiratórias em 2020 superam média dos últimos 10 anos, apontam dados da Fiocruz

Além dos dados consolidados, estimativa aponta que total de mortes por SRAG no Brasil pode já ter superado 5,8 mil, segundo sistema Infogripe, da Fiocruz.

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O Brasil já acumula neste ano mais de 5,5 mil mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), número que é maior que a média registrada entre 2010 e 2019, de acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

São exatas 5.580 mortes por SRAG registradas até o dia 25, quando o Brasil contabilizava 4.016 mortes por Covid-19. A média entre os anos de 2010 e 2019 é de 2.019 mortes por SRAG.

A SRAG é uma doença respiratória grave que exige internação e é causada por vírus, seja ele o novo coronavírus (Sars-CoV-2), o Influenza (H1N1) ou outros. Os casos são reportados pelos hospitais ao Ministério da Saúde, e a Fiocruz consolida e divulga pela plataforma Infogripe.

De acordo com a Fiocruz e especialistas ouvidos pelo G1, os números indicam uma sub-notificação dos casos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

O número deste ano supera o que foi registrado em todo 2019, quando houve 3.811 casos de SRAG, e ultrapassa todo o período de 2016, quando houve um surto de H1N1 e foram contabilizados 4.785 casos da síndrome.

Estimativa aponta sub-notificação

Além do dado já contabilizado no ano todo, a Fiocruz também faz projeções com base nos padrões da síndrome respiratória.

Segundo essas estimativas, o número apontado é maior e ficaria em 5.866 desde março, considerando a soma do verificado nas semanas epidemiológicas 10 (01 a 7/3) até 16 (19 a 25/4) .

O colunista do G1 Hélio Gurovitz apresentou na quarta-feira (22), em primeira mão, as projeções da Fiocruz apontando que as mortes no país estão subestimadas, o que indica sub-notificação.

A estimativa da Fiocruz para essa projeção atual é feita com análise estatística. Ela leva em conta uma série de fatores dentro dos padrões da SRAG no Brasil conforme os registros dos últimos anos.

“As estimativas pegam uma média de crescimento (…). É um modelo estatístico que pega um histórico e faz mostra um cenário”, afirma Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe da Fiocruz.

O coordenador do Infogripe diz ainda que a sub-notificação é “inerente”. “Os dados sugerem, sim, mais casos de Covid”, disse Gomes. Para Prado, a sub-notificação de óbitos está em duas fontes: “óbitos em residências que não chegam ao sistema de dados de SRAG, e os que não identificam o coronavírus por meio de teste, por exemplo.”

De acordo com Paulo Inácio Prado, que trabalha com biologia quantitativa e é integrante Observatório Covid-19, a estimativa é a melhor possível para prever o número de mortes do Brasil antes da inclusão oficial dos dados.

“Eles [Fiocruz] usam uma técnica diferente que eles desenvolveram. É o melhor que podem fazer com o dado que a gente tem. Eles são um grupo de excelência, é a melhor estimativa que você tem, mas tem uma margem de erro. E sempre fazem para a semana epidemiológica anterior, e o que está correndo agora só vamos saber na outra semana”.

Metodologia e interpretação dos dados

Os dados filtrados pela Fiocruz podem ser menores do que os valores divulgados pelo Ministério da Saúde. Os motivos: os pesquisadores usam três sintomas para a inclusão dos casos de SRAG: febre, tosse ou dor de garganta e dificuldade para respirar.

Já o ministério passa a incluir como SRAG os pacientes que apresentam apenas um dos sintomas. Além disso, o ministério tem atualizado os dados diariamente, enquanto a plataforma da Fiocruz é alimentada uma vez por semana.

A Fiocruz verificou uma queda no número de mortes nas últimas semanas epidemiológicas. De acordo com Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe da Fiocruz, os dados são colocados aos poucos pelos hospitais e unidades de saúde e demoram muitas vezes para serem incluídos nas bases. Por isso, a queda nos índices, mas com o tempo todos os números são incluídos.

Internações por SRAG

Os dados do Infogripe também mostram aumento expressivo nas internações por SRAG neste ano no Brasil, em comparação com a média da última década.

Na contagem da Fiocruz, o Brasil teve 44,7 mil internações por SRAG, muito acima da média desde 2010, de 3,9 mil casos. Mesmo em 2016, quando houve um surto de H1N1, foram registrados 32,8 mil casos durante os 12 meses do ano.

“O número de casos está muito alto. Completamente fora do padrão”, afirma Marcelo Gomes.

Os motivos, segundo ele, são:

  • Há mais hospitalizações em decorrência da Covid-19
  • E a velocidade com que o vírus se espalha é maior que em anos anteriores (há uma “maior rapidez de disseminação”)

Um terceiro fator, diz, é que o sistema da Fiocruz passou a receber um número maior de notificações de hospitais privados. Por isso, a comparação deste ano com os anteriores não é perfeita. Mas, segundo Gomes, mesmo descontando os dados de hospitais privados, a alta seria expressiva.

“Outro fator, cuja contribuição não é tão grande, é o fato de que nos últimos anos quem reportava fundamentalmente era praticamente só a rede pública. E, neste ano, a rede privada também passou a reportar. Mas a contribuição não é tão grande quanto os outros [fatores].”

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