Máscaras, capacetes e ‘sacos’: entenda as técnicas de respiração não invasiva para pacientes com Covid-19

Estratégia é usada para ajudar o paciente a respirar em casos menos graves da doença; o método não substitui os respiradores, explicam especialistas ouvidos pelo G1.

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Além dos respiradores mecânicos, existem outras ferramentas, não invasivas, que podem ajudar os pacientes com Covid-19 a respirar melhor: máscaras, “sacos” e até capacetes conseguem concentrar a quantidade de oxigênio que a pessoa recebe, melhorando a respiração.

Nenhum deles substitui os ventiladores, explicam especialistas ouvidos pelo G1, mas podem ser alternativas para casos menos graves da doença ou, ainda, para ganhar tempo até o paciente ser intubado – no caso da falta de respiradores, por exemplo.

A reportagem conversou com especialistas para entender como os aparelhos funcionam. A principal semelhança entre eles é que são métodos não invasivos de respiração mecânica, ou seja: o paciente não é intubado e fica acordado. A pessoa continua fazendo o esforço de respirar, mas tem a ajuda da ferramenta.

Os três funcionam como interfaces diferentes para uma função semelhante, explicam os especialistas, como se fossem modelos diferentes de um monitor de computador, e há divergências entre estudos que apontam vantagens de um sobre o outro.

Veja detalhes:

Máscaras

As máscaras podem cobrir porções diferentes do rosto, de acordo com o modelo. Algumas englobam somente o nariz e a boca, e outras parecem as usadas por mergulhadores. Elas têm tubos – de entrada e saída –, que fornecem oxigênio e retiram o gás carbônico exalado pelo paciente de dentro da máscara, para que ele não sufoque.

A máscara ajuda porque há maior concentração de oxigênio no ar que o paciente respira, explica Jaques Sztajnbok, chefe da UTI do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, referência no tratamento de Covid-19.

“A proporção de oxigênio no ar inspirado é maior. A fração de oxigênio no ar ambiente que a gente respira, de todos os gases, normalmente é de 21%. Se eu começo a injetar oxigênio ali [na máscara], ele começa a subir para 40%, 60%, eventualmente oxigênio puro, 100%, eu aumento a oferta de oxigênio para o organismo”, explica Sztajnbok.

“Supondo que ele [o paciente] tenha 20% de reserva pulmonar, se esse 20% está respirando um ar que tem 20% de oxigênio, tem um certo aporte de oxigênio. Agora, se esse mesmo 20% de reserva pulmonar está respirando um ar que é 100% de oxigênio, estou teoricamente aumentando cinco vezes a quantidade de oxigênio que estou dando para ele”, diz.

O princípio de funcionamento é o mesmo para todas as ferramentas, afirma Sztajnbok.

Capacetes

'Capacete' respiratório fabricado pela LifeTech — Foto: Divulgação/LifeTech

Os capacetes, diferente das máscaras, funcionam como “bolhas” ao redor da cabeça da pessoa. Quem defende a ferramenta afirma que ela pode diminuir a disseminação de aerossóis – as gotículas de saliva expelidas pelo paciente – e, assim, diminuir a chance de contaminação da equipe pela Covid-19. Mas há divergências.

Segundo André Nathan, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, alguns hospitais ao redor do mundo têm proibido as técnicas de auxílio à respiração de forma não invasiva (sem intubação) por causa dos riscos que os aerossóis apresentam às equipes.

“Cada semana sai um trabalho novo. Até onde eu li, os capacetes permitiam que se fizesse a modalidade de respiração não invasiva sem risco tão grande”, explica André Nathan. “Tem estudos dizendo que é a mesma coisa, tem estudos dizendo que é melhor”, afirma, mas destaca que os capacetes não ganharam força no Brasil, sendo mais usados em países como Itália e o Reino Unido. Um dos motivos, diz, seria o preço – ao menos antes da pandemia.

Com o surgimento da Covid-19, entretanto, já há quem aposte neles, por causa da possibilidade de menor contaminação: foi o caso do empresário Guilherme Souza, presidente da Life Tech Engenharia, em São Paulo. Ele e o fisioterapeuta Thiago Marraccinni, que avaliou os capacetes para a empresa, acreditam que a ferramenta traz mais conforto.

“As máscaras pegam a face como um todo. Acabam fazendo uma ferida no rosto – escaras, úlceras. O tempo de uso é mais limitado”, afirma Marraccinni. “O capacete tem melhor conforto, melhor vedação e prolonga o tempo de uso. Outra vantagem é a visão de 360 graus”.

Segundo Guilherme Souza, da LifeTech, a empresa tem capacidade de produção de até 5 mil unidades por mês, e já vendeu para hospitais privados. Também está em negociação para testes com os hospitais das Clínicas de São Paulo e Minas Gerais.

Mas há quem discorde das possíveis vantagens dos capacetes.

“O capacete é outra forma de usar [a máscara] – não tem nada que diga que essa forma de usar é melhor que as outras”, afirma Laerte Pastore, que coordena a UTI do Sírio. “O que tem de estudo com isso é que não diminui [a contaminação]. Existem inclusive guias da Sociedade de Terapia Intensiva que dizem que tanto faz usar o capacete quanto as máscaras”.

Ele afirma que, se a máscara estiver bem fixada, a chance de contágio é a mesma. Além disso, a dificuldade de adaptação ao equipamento – alguns pacientes podem se sentir claustrofóbicos – é outra desvantagem, além do fato de serem mais caros que as máscaras.

‘Sacos’

Os “sacos” funcionam de forma semelhante aos capacetes e às máscaras.

“É um saco plástico, hermeticamente fechado. Nada mais é que uma interface diferente da máscara”, explica André Nathan. Ele ressalta, entretanto, que o plástico é feito de materiais testados e segue padrões de qualidade.

Assim como os capacetes e as máscaras, os “sacos” (conhecidos como “tendas”) funcionariam “para pacientes que tolerarem ficarem em respiração espontânea”, explica Jaques Sztajnbok, do Emílio Ribas. Serviria para fornecer mais oxigênio e minimizar a contaminação ambiental. Essa é a teoria – mas teria que medir a contaminação ambiental”, pondera.

Eles ajudam a evitar a intubação?

20 de abril: profissional de saúde cuida de paciente na UTI do Emílio Ribas, centro de referência para tratamento de Covid-19 em São Paulo. — Foto: Miguel Schincariol/AFP

Na opinião de Laerte Pastore, é difícil evitar que o paciente seja intubado em casos de Covid, mas a respiração não invasiva permite que as equipes ganhem tempo.

“Com isso você consegue ganhar um tempo, ficar algumas horas para que possa ser transferido. Se você não tiver aparelhos suficientes, é um auxílio. Já é muito usado nas UTIs”, afirma.

Jaques Sztajnbok, do Emílio Ribas, lembra que há controvérsias sobre o uso de estratégias não invasivas para pacientes de Covid. A intubação permitiria diminuir a disseminação dos aerossóis e a chance de contágio – mas intubar um paciente cedo demais também traz riscos, afirma.

“A ventilação mecânica não é fisiológica – é, por si só, uma causa de lesão pulmonar”, diz. “Mas, se demorar demais para entubar, também é arriscado. Por isso que a qualidade do profissional de saúde que é o grande determinante para o desfecho”, explica.

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