Além dos respiradores mecânicos, existem outras ferramentas, não invasivas, que podem ajudar os pacientes com Covid-19 a respirar melhor: máscaras, “sacos” e até capacetes conseguem concentrar a quantidade de oxigênio que a pessoa recebe, melhorando a respiração.
Nenhum deles substitui os ventiladores, explicam especialistas ouvidos pelo G1, mas podem ser alternativas para casos menos graves da doença ou, ainda, para ganhar tempo até o paciente ser intubado – no caso da falta de respiradores, por exemplo.
A reportagem conversou com especialistas para entender como os aparelhos funcionam. A principal semelhança entre eles é que são métodos não invasivos de respiração mecânica, ou seja: o paciente não é intubado e fica acordado. A pessoa continua fazendo o esforço de respirar, mas tem a ajuda da ferramenta.
Os três funcionam como interfaces diferentes para uma função semelhante, explicam os especialistas, como se fossem modelos diferentes de um monitor de computador, e há divergências entre estudos que apontam vantagens de um sobre o outro.
Veja detalhes:
Máscaras
As máscaras podem cobrir porções diferentes do rosto, de acordo com o modelo. Algumas englobam somente o nariz e a boca, e outras parecem as usadas por mergulhadores. Elas têm tubos – de entrada e saída –, que fornecem oxigênio e retiram o gás carbônico exalado pelo paciente de dentro da máscara, para que ele não sufoque.
A máscara ajuda porque há maior concentração de oxigênio no ar que o paciente respira, explica Jaques Sztajnbok, chefe da UTI do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, referência no tratamento de Covid-19.
“Supondo que ele [o paciente] tenha 20% de reserva pulmonar, se esse 20% está respirando um ar que tem 20% de oxigênio, tem um certo aporte de oxigênio. Agora, se esse mesmo 20% de reserva pulmonar está respirando um ar que é 100% de oxigênio, estou teoricamente aumentando cinco vezes a quantidade de oxigênio que estou dando para ele”, diz.
O princípio de funcionamento é o mesmo para todas as ferramentas, afirma Sztajnbok.
Capacetes
Os capacetes, diferente das máscaras, funcionam como “bolhas” ao redor da cabeça da pessoa. Quem defende a ferramenta afirma que ela pode diminuir a disseminação de aerossóis – as gotículas de saliva expelidas pelo paciente – e, assim, diminuir a chance de contaminação da equipe pela Covid-19. Mas há divergências.
Segundo André Nathan, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, alguns hospitais ao redor do mundo têm proibido as técnicas de auxílio à respiração de forma não invasiva (sem intubação) por causa dos riscos que os aerossóis apresentam às equipes.
Com o surgimento da Covid-19, entretanto, já há quem aposte neles, por causa da possibilidade de menor contaminação: foi o caso do empresário Guilherme Souza, presidente da Life Tech Engenharia, em São Paulo. Ele e o fisioterapeuta Thiago Marraccinni, que avaliou os capacetes para a empresa, acreditam que a ferramenta traz mais conforto.
Segundo Guilherme Souza, da LifeTech, a empresa tem capacidade de produção de até 5 mil unidades por mês, e já vendeu para hospitais privados. Também está em negociação para testes com os hospitais das Clínicas de São Paulo e Minas Gerais.
Mas há quem discorde das possíveis vantagens dos capacetes.
“O capacete é outra forma de usar [a máscara] – não tem nada que diga que essa forma de usar é melhor que as outras”, afirma Laerte Pastore, que coordena a UTI do Sírio. “O que tem de estudo com isso é que não diminui [a contaminação]. Existem inclusive guias da Sociedade de Terapia Intensiva que dizem que tanto faz usar o capacete quanto as máscaras”.
Ele afirma que, se a máscara estiver bem fixada, a chance de contágio é a mesma. Além disso, a dificuldade de adaptação ao equipamento – alguns pacientes podem se sentir claustrofóbicos – é outra desvantagem, além do fato de serem mais caros que as máscaras.
‘Sacos’
Os “sacos” funcionam de forma semelhante aos capacetes e às máscaras.
“É um saco plástico, hermeticamente fechado. Nada mais é que uma interface diferente da máscara”, explica André Nathan. Ele ressalta, entretanto, que o plástico é feito de materiais testados e segue padrões de qualidade.
Assim como os capacetes e as máscaras, os “sacos” (conhecidos como “tendas”) funcionariam “para pacientes que tolerarem ficarem em respiração espontânea”, explica Jaques Sztajnbok, do Emílio Ribas. Serviria para fornecer mais oxigênio e minimizar a contaminação ambiental. Essa é a teoria – mas teria que medir a contaminação ambiental”, pondera.
Eles ajudam a evitar a intubação?
Na opinião de Laerte Pastore, é difícil evitar que o paciente seja intubado em casos de Covid, mas a respiração não invasiva permite que as equipes ganhem tempo.
“Com isso você consegue ganhar um tempo, ficar algumas horas para que possa ser transferido. Se você não tiver aparelhos suficientes, é um auxílio. Já é muito usado nas UTIs”, afirma.
Jaques Sztajnbok, do Emílio Ribas, lembra que há controvérsias sobre o uso de estratégias não invasivas para pacientes de Covid. A intubação permitiria diminuir a disseminação dos aerossóis e a chance de contágio – mas intubar um paciente cedo demais também traz riscos, afirma.
“A ventilação mecânica não é fisiológica – é, por si só, uma causa de lesão pulmonar”, diz. “Mas, se demorar demais para entubar, também é arriscado. Por isso que a qualidade do profissional de saúde que é o grande determinante para o desfecho”, explica.