Um protocolo atualizado para o uso do medicamento cloroquina no tratamento da Covid-19 está sendo preparado pelo Ministério da Saúde, conforme nota divulgada na noite desta sexta-feira (15). De acordo com a pasta, o uso do medicamento será indicado também em casos leves.
A decisão será tomada mesmo depois de estudos recentes apontarem que a droga utilizada contra a malária não teve a eficácia comprovada contra o coronavírus Sars-Cov-2, que possui efeitos colaterais e pode estar associada a aumento de mortes entre os pacientes de Covid-19 (leia mais abaixo).
A medida vai se aplicar também à hidroxicloroquina, que é um derivado da cloroquina e guarda as mesmas propriedades, mas tem a toxicidade atenuada.
Médicos, os dois ex-ministros da Saúde da gestão Bolsonaro eram contra a ampliação do protocolo. O ex-ministro Nelson Teich, exonerado nesta sexta-feira, lembrou que o medicamento tem efeitos colaterais e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a dizer que o uso de cloroquina em casos leves poderia levar ao aumento de hospitalizações por causa de problemas cardíacos.
Protocolo anterior
De acordo com o próprio Ministério da Saúde, antes do novo documento que está em elaboração, o protocolo válido é o publicado em 1º de abril de 2020.
O documento relata que distúrbios vasculares e retinopatia estavam entre os efeitos colaterais. Também afirmavam que era “estreita” a janela terapêutica (margem entre a dose terapêutica e dose tóxica). “O seu uso deve, portanto, estar sujeito a regras estritas, e automedicação é contra-indicada.”
Mesmo com ressalvas, o protocolo previa o uso em duas situações: “pacientes hospitalizados com formas graves da Covid-19” e em “Casos críticos da Covid-19”. A dosagem indicada mudava em cada condição, mas o tratamento indicado permanecia limitado ao máximo de cinco dias.
O protocolo também fazia recomendação de que deveria ser mantido o monitoramento do funcionamento do coração por meio de eletrocardiograma.
Estudos recentes não mostram eficácia contra o coronavírus
No início de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a contabilizar que eram feitos estudos em 74 países para tentar entender como funcionava a hidroxicloroquina contra o Sars CoV-2. Resultados mais robustos começaram a sair nas últimas duas semanas.
Três estudos tiveram destaque e mostraram que não houve comprovação de eficácia da substância no tratamento da Covid-19. O primeiro deles foi publicado na revista britânica “The New England Journal of Medicine” e investigou a efetividade do tratamento em pacientes hospitalizados em um hospital de Nova York. De acordo com os autores, não foram encontradas evidências de que a droga tenha reduzido o risco de entubação ou de morte. Participaram 1.446 pessoas.
Outra pesquisa, também feita em Nova York, mostrou mais evidências de que a hidroxicloroquina pode não ser eficaz contra a Covid-19. O estudo avaliou o uso da substância em 25 hospitais da região metropolitana da cidade. Desta vez, foram analisados os dados de 1.438 pacientes com a doença – e os que receberam o medicamento tiveram uma taxa de mortalidade maior.
Por último, divulgado nesta quinta-feira (14) na revista “The BMJ”, cientistas mostraram que não ficou comprovada a eficácia no tratamento da Covid-19 também em pacientes leves a moderados. O total de participantes (150) foi dividido em dois grupos: 75 receberam a hidroxicloroquina, 75 não receberam. A eficiência contra o Sars Cov-2 foi a mesma, sendo que 10% dos pacientes que receberam o remédio apresentaram diarreia e dois desenvolveram efeitos colaterais graves.