Cidade de SC teve 80% das casas destelhadas após ‘Ciclone Bomba’ atingir 134 KM/H

Siderópolis registrou a maior intensidade do vendaval que atingiu Região Sul; fenômeno assustou moradores de município com 14 mil habitantes

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“Começou com rajadas fracas e logo, bem rápido, o vento ficou muito forte. Foram mais ou menos duas horas e meia de terror”. O relato é de Gisela de Bem Vicente, empresária de Siderópolis, em Santa Catarina, onde foi registrada a mais forte rajada de vento durante a passagem de um ciclone extratropical, o “ciclone bomba” pela Região Sul do Brasil.

O vento alcançou a velocidade de 134 quilômetros por hora no município de 14 mil habitantes, situado a 215 quilômetros de Florianópolis. A informação é do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram), vinculado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

O vendaval deixou estragos pela cidade. A Defesa Civil de Siderópolis informou que, de cada dez casas, oito foram destelhadas pela força do vento. Entre elas a residência onde mora Gisela de Bem Vicente. A empresária vive em uma chácara com um lago em frente. Ela relata que por volta das 16h as rajadas ficaram mais fortes ao ponto de terem conseguido empurrar a canoa para fora da água e arrastá-la pela chácara.

“Tivemos muitas telhas quebradas, o barco que estava na água voou e a mesa de churrasco com bancos também. O barco rachou todo com a fúria do vento, arrancou calhas da casa, tudo indo com o vento, bem triste”, disse Gisela.

Clube de Mães em Siderópolis perdeu grande parte do telhado com os ventos Foto: Reprodução
Clube de Mães em Siderópolis perdeu grande parte do telhado com os ventos Foto: Reprodução

A ventania diminuiu por volta das 19h. A empresária aproveitou a trégua para pegar o carro e viajar com sua mãe, sua irmã e seus três filhos para a casa da família em Criciúma. “Quando saímos vimos muitos estragos, telhados arrancados, muitas árvores na estrada”, conta.

A Prefeitura de Siderópolis informou que ainda contabiliza os danos provocados pelo ciclone no município. Foram registrados destelhamentos de casas, restaurantes, galpões e pousadas rurais, além da queda de postes e árvores.

Um dos estabelecimentos danificados foi o prédio no qual costumava se reunir o Clube de Mães, onde mulheres faziam aulas de artesanato uma vez por semana.

Apesar dos danos materiais, o ciclone não fez vítimas em Siderópolis. As comunidades rurais foram as mais afetadas pela força do vento. A coordenadora Municipal de Proteção e Defesa Civil do município, Jéssica Lúcia Destro, explicou que essas localidades ficam próximas do costão da Serra do Rio do Rastro e estão em áreas mais abertas. E, portanto, mais vulneráveis ao vento.

Muitas árvores tombaram com os ventos fortes que atingiram a cidade Foto: Reprodução
Muitas árvores tombaram com os ventos fortes que atingiram a cidade Foto: Reprodução

“As previsões anunciavam, estávamos todos alertas, mas o que se viu ontem foi algo fora do normal. Eu não me recordo de um vento tão forte. Em 2016 tivemos problemas com chuva forte e granizo, mas nada semelhante a isso. O que as pessoas mais velhas estão dizendo é que nunca foi visto um vento forte desse jeito por aqui”, afirmou Jéssica Destro.

O primeiro vendaval pegou o comércio ainda aberto e os comerciantes e funcionários tiveram que fechar as portas às pressas. A partir das 22h as rajadas de vento recomeçaram ainda mais violentas, segundo a Defesa Civil.

“Eu passei o dia em visitas às casas, igrejas e estabelecimentos danificados. Como ninguém se machucou, o que mais preocupa são os prejuízos causados nas agroindústrias, como os aviários e laticinios”, explicou Jéssica Destro.

Além dos danos físicos, as agroindústrias ficaram sem energia elétrica ao longo do dia. Há produtos armazenados em câmaras frias e as vacas ficaram sem serem ordenhadas, uma vez que a ordenha é elétrica. “Sem ordenhar os animais podem ter mastite e isso pode acarretar ainda mais prejuízos. Temos que torcer para o restabelecimento da eletricidade”, afirmou Destro.

Placa de loja de automóveis entortou e quase alcançou o chão Foto: Reprodução
Placa de loja de automóveis entortou e quase alcançou o chão Foto: Reprodução

Outras sete cidades catarinenses registraram ventos com mais de 100 quilômetros por hora: Indaial (120,96 km/h), Urupema (126,47 km/h), Joinville (119,59 km/h), Tangará (111,49 km/h), Major Vieira (108,72 km/h), Rancho Queimado (108,65 km/h) e Chapecó (108,36 km/h).

A meteorologista Laura Rodrigues, da Epagri/Ciram, explica que o ciclone extratropical é um fenômeno comum na costa sul do Brasil no período entre outono e inverno. Trata-se de um sistema de baixa pressão que provoca rajadas de vento. Mas quando há uma queda rápida e intensa de pressão atmosférica, ele resulta em vendavais ainda mais fortes e por esse motivo ganha o apelido de “ciclone bomba”.

O governo de Santa Catarina informou que o ciclone extratropical provocou ocorrências em ao menos 101 municípios. Até a tarde desta quarta-feira (01), nove pessoas haviam morrido e outras duas estavam desaparecidas por conta do evento climático.

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