Médico da Fiocruz diz que pedido do Ministério da Saúde cobre cloroquina é ‘pouco profissional’

MS orientou fundação a divulgar que medicamento pode ser utilizado nos primeiros dias de sintomas de Covid-19, nesta quinta-feira (16).

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Na manhã desta sexta-feira (17), o médico sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador e pesquisador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, disse em entrevista à jornalista Julia Duailibi na GloboNews que achou “pouco profissional” a orientação do Ministério da Saúde para que a instituição divulgue o tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina como medicamentos para uso nos primeiros dias de sintomas de Covid-19.

A orientação foi feita através de um ofício do ministério enviado à fundação nesta quinta-feira (16), datado de 29 de junho, e assinado pelo secretário de Atenção Especializada à Saúde, Luiz Otavio Franco Duarte. Também nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro falou que “não recomenda nada”, quando perguntado sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.

Na entrevista, o médico do Distrito Federal disse que achou “inusitado” uma orientação de forma “tão pouco profissional”. “A profissão médica tem uma série de ritos e cuidados, para proteger justamente as boas práticas, proteger os usuários do serviço de saúde”, afirma.

“Não é usual que por meio de um simples ofício que não tem uma base científica sólida, se oriente uma mudança em relação à conduta dos profissionais.”

Ele acrescentou que “no papel da Fiocruz em que ela orienta profissionais e a comunidade, ela afirma que não há base científica para indicação da cloroquina, ao contrário, há um conjunto de evidências de que ela não deve ser usada. Se ela recebe um comunicado do MS dirigido aos profissionais da assistência, ela não pode deixar de informar esses profissionais”.

“É estranho que algo dessa dimensão, nesse momento da epidemia, uma orientação de tratamento seja dada de uma forma improvisada. Não teve um comitê com pessoas da área, como costuma ser na orientação de tratamentos para doenças novas ou tratamentos diferentes.”
Cloroquina e Hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada contra a Covid — Foto: Reprodução/TV Globo

Cloroquina e Hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada contra a Covid — Foto: Reprodução/TV Globo

Sem resultados que comprovem eficácia da cloroquina

O uso da cloroquina é alvo de estudos e, apesar das primeiras evidências positivas nos testes in vitro, não há resultados que comprovem a eficácia da droga no tratamento ou na prevenção da Covid-19.

Por outro lado, pesquisas já apontaram que a droga não trouxe benefícios para diferentes perfis de pacientes, sejam os casos leves ou hospitalizados, e ela foi até mesmo associada à piora da situação.

“Claro, eles tem muita informação disponível para fazer o seu juízo e saber qual deve ser a conduta adequada. Mas quero deixar claro que a Fiocruz não esta fazendo nenhuma orientação ao país ou comunidade médico científica para fazer o uso da cloroquina”, afirma Claudio Maeirovitch.

OMS e Opas não recomendam uso

Em 10 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao ser questionada sobre as afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso de cloroquina, confirmou que não indica o uso para pacientes infectados com o novo coronavírus.

“A OMS não indica o uso da cloroquina em pacientes de coronavírus porque não conseguimos demonstrar um benefício claro a eles”, afirmou diretor de Emergências da OMS, Michael Ryan.

O diretor Marcos Espinal, do Departamento de Doenças Comunicáveis da Opas, que é braço da OMS nas Américas, reforçou em 19 de maio que “não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19”.

“Ainda não temos os resultados de testes clínicos que possam sugerir a eficácia desses dois medicamentos. Desde o começo, a Opas produziu uma revisão bastante sistemática. Acabamos de atualizar o documento, e não há evidência de que essas duas drogas sejam eficazes contra a Covid-19”, explicou Espinal.

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