Jovem negro denuncia que foi agredido e ameaçado com arma por homens em shopping na Ilha do Governador

Um segurança presenciou a agressão. Matheus Fernandes havia ido ao centro comercial para trocar um relógio que comprou para o Dia dos Pais.

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O entregador Matheus Fernandes, de 18 anos, denunciou que foi agredido e ameaçado por dois homens no Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, no Rio, nesta quinta-feira (6). O jovem, que é negro, foi ao centro comercial para trocar um relógio que havia comprado para o Dia dos Pais.

Para a mãe de Matheus, Alice Fernandes Bionde, a cor da pele foi o motivo da agressão e ameaça.

“Por causa da cor da pele, não tem outra explicação. Eu não sou tão negra, então eu posso ir no shopping, eu posso mexer em todas as roupas, eu posso comprar o que eu quiser, eu posso inclusive provar as coisas de graça. Agora, se ele está sozinho, ele não pode fazer nada disso, como foi o que aconteceu. Ele sozinho não pode comprar um relógio. Será que ele sempre vai precisar estar com a mãe do lado, alguém do lado, alguém branco?”, questionou a mãe do jovem.

Em imagens registradas do incidente, é possível ver Matheus no chão, imobilizado por um homem de camisa vermelha. Outro homem, de camisa preta, participa da ação. Pessoas que estavam no shopping se aproximam e exigem que ele seja solto.

Matheus trabalha como entregador de comida por aplicativo. Ele disse que percebeu que estava sendo seguido por homens à paisana e foi abordado por eles dentro da Renner do Plaza, quando ainda esperava para ser atendido.

“Po, chorei foi muito, muito, mas a gente tem que levar no sorriso, acontece. Não era pra acontecer, não era pra acontecer”, lamentou o jovem emocionado.
 

Os agressores ainda não foram identificados pela polícia. Segundo a Loja Renner e o Ilha Plaza Shopping, onde Matheus foi fazer a troca do presente, os agressores não são funcionários deles.

“Estava esperando pelo atendimento quando ele se aproximou de mim e disse: ‘Vamos ali’. Eu disse que não sairia dali e que não era nenhum ladrão. Fui tratado como se não fosse nada, e ainda colocaram uma pistola na minha cabeça. E por que isso? Porque estou com um relógio bacana sou ladrão? Não sou ladrão, não”.

As imagens mostram que um segurança do Plaza chegou a presenciar a agressão, mas, no momento em que o vídeo era gravado, ele não tomou nenhuma providência. Só depois que clientes do shopping reclamaram das agressões, os dois homens saíram.

Por telefone, Matheus afirmou que os homens estavam com o documento dele. “Ele devolveu minha carteira, mas não meu cartão”.

Matheus tentou registrar o caso na delegacia da Ilha do Governador, mas foi orientado a fazer o boletim de ocorrência on-line porque os atendimentos estão restritos por conta da pandemia.

Jovem negro é agredido quando tentava trocar relógio em shopping do Rio de Janeiro

O que dizem os envolvidos

A Renner, onde o rapaz tentou trocar o relógio, disse que os agressores que aparecem no vídeo não são colaboradores.

“A Renner informa que repudia e não compactua com qualquer forma de violência e discriminação. Estamos tomando as medidas necessárias para esclarecer o fato e já nos colocamos à disposição do Matheus Fernandes para dar o suporte necessário”, afirmou.

“A empresa reitera que não teve qualquer relação com o episódio em questão. No processo de apuração interna sobre o caso, ficou claro que os agressores não integram o quadro de colaboradores ou de prestadores de serviço da Renner”, destacou.

“Já pedimos esclarecimento ao shopping Ilha Plaza para entender o que ocorreu. Também estamos colaborando com as autoridades, fornecendo as imagens de nosso circuito interno de TV proativamente para facilitar a identificação dos agressores.”

O Ilha Plaza Shopping afirmou que lamenta profundamente o ocorrido e que repudia qualquer tipo de violência. Neste momento, o empreendimento está apurando rigorosamente os fatos para tomar as medidas necessárias.

“Os agressores não são funcionários do shopping. O nosso vigilante atuou de forma a controlar a situação. Estamos buscando as informações internamente sobre o que teria acontecido para tomarmos as medidas cabíveis. O shopping repudia a violência e iremos colaborar com as autoridades”, afirmou.

De acordo com a 37ª DP (Ilha do Governador), foi aberta investigação para apurar o caso e a vítima será ouvida nesta sexta-feira na delegacia. “As imagens do circuito interno do shopping estão sendo solicitadas para que possam ser analisadas. Outras diligências estão em andamento”, informou a Polícia Civil.

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