O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) embargou a indústria de calcário que estava sendo responsável pela mudança na paisagem de Lagoa da Confusão, na região oeste do Tocantins. Nas últimas semanas, resíduos do minério cobriram a vegetação da área e chegaram até a casa de moradores.
O caso ganhou repercussão após um morador da cidade gravar um vídeo mostrando uma rodovia próxima da mineradora. As imagens mostravam a vegetação da área totalmente branca como se a região estivesse enfrentando uma nevasca. Só que a área, na verdade, estava coberta pelo pó de calcário. Em outro vídeo é possível ver a nuvem de poeira avançando sobre a área urbana.
O calcário é muito utilizado na agricultura para corrigir os níveis da acidez do solo, favorecendo o aumento da produtividade das lavouras. Só que o contato direto com a substância causa riscos à saúde. No caso da inalação, além de irritação no trato respiratório, a exposição prolongada pode causar problemas respiratórios crônicos.
De acordo com o órgão ambiental, durante vistoria realizada foi verificado que a empresa estava em desacordo com a licença de operação e por isso foi multada e obrigada a paralisar as atividades imediatamente.
Poeira deixou vegetação branca em Lagoa da Confusão — Foto: Reprodução
Na semana passada, a empresa Calcário Cristalândia informou que estava providenciando a transferência da empresa para outro local e que iria cumprir o prazo já estipulado pelo Ministério Público, até janeiro de 2021.
Após o embargo, a mineradora afirmou que decidiu parar as atividades, por conta própria, após verificar o tamanho do incômodo que estava causando na população. Disse ainda que não vai voltar a operar no local e está licenciando uma nova sede para suas operações a cerca de seis quilômetros da cidade, mas que a pandemia vem causando atrasos no cronograma da mudança.
A paralisação das atividades vai causar a demissão de 33 funcionários, segundo a empresa.
Entenda
Moradores de Lagoa da Confusão informaram que a nuvem de calcário acontecia principalmente durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã. Um homem que pediu para não ser identificado contou que a indústria foi instalada anos atrás fora da cidade, mas com o crescimento habitacional ela acabou ficando inserida próximo da área habitada.
Segundo o médico Dowglas Oliveira, o risco é ainda maior para quem vive próximo das áreas mais afetadas. “O calcário é um minério que se deposita no pulmão e ocasiona microinflamações no tecido pulmonar, fazendo aumentar a fibrose. Um feito parecido com o que acontece com quem fuma. Porém, quem fuma apresenta outros sinais como o odor, já nesse caso a pessoa pode achar que não tem nada, mas a médio e longo prazo existe essa possibilidade de desenvolver um problema grave”, disse o clínico.
A empresa Calcário Cristalândia informou que “depois de quase três décadas funcionando naquele local foi adquirida judicialmente por um grupo empresarial que, durante as negociações fechou um acordo com o Ministério Público para retirar a planta daquele local, que era fora da zona urbana no início”.
Disse ainda que um novo lugar para funcionamento já foi escolhido e a empresa está preparando a mudança. Segundo a Calcário Cristalândia, o prazo ajustado com o Ministério Público se encerra em janeiro de 2021 e será cumprido. “A empresa desejava cumprir antes, mas a pandemia acabou impondo uma morosidade em todos os procedimentos”, disse.