Em entrevista ao canal do YouTube de seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente Jair Bolsonaro voltou a exaltar a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra , torturador da ditadura militar, citando que seu livro, A Verdade Sufocada, “deveria ser leitura obrigatória”. O presidente também mentiu e disse que “presos eram tratados com toda dignidade” no DOI-Codi .
“[O livro “A Verdade Sufocada, de Ustra”] narra fatos, como os presos – não era preso político não – terroristas eram tratados no DOI-Codi de São Paulo, tratados com toda a dignidade, inclusive as presas grávidas”, afirmou Bolsonaro na entrevista dada ao seu filho.
“Uma história realmente verdadeira, para quem não quer ser manipulado pela esquerda, não é aquela ‘historinha’ que a esquerda conta cheia de blá-blá-blá, sempre se vitimizando, lutando por democracia, etc, etc, etc”, ironizou o presidente.
De acordo com relatório elaborado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), Brilhante Ustra esteve à frente do DOI-Codi em um período marcado por pelo menos 45 mortes e desaparecimentos forçados no local. Se cumprir pena, ele morreu aos 83 anos em 2015.
Além de exaltar o torturador, Bolsonaro também celebrou o golpe militar de 1964, disse que o episódio “livrou o Brasil do comunismo ” e ainda atacou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) falando sobre seu primeiro marido.
“É um livro que não tem como ser contestado, são fatos, tal dia, tal hora, o primeiro marido da Dilma [Rousseff, ex-presidente] sequestrou avião em voo, e foi para Cuba. Tem os fatos aqui, recortes de jornal, noticiava o fato em si. Não tem como fugir disso aqui, como nós nos livramos do comunismo naquele momento, não tem que se envergonhar disso, é história com H, não é historinha contada pela esquerda, deveria ser leitura obrigatória, pessoas que queiram saber da verdade, o que foi aquele período pré-64 e um pouquinho depois do 64 também”, disse o presidente.
Um dos maiores saudosistas da ditadura militar no Brasil, Bolsonaro nunca fez questão de esconder esse lado “linha dura”. Em 2016, ao votar a favor do impeachment de Dilma, o então deputado federal se referiu a Ustra como “pavor de Dilma Rousseff”. Em outras ocasiões, o torturador já foi citado como “herói nacional” pelo hoje presidente da República.
“Pela forma como conduziu os trabalhos nessa casa, parabéns presidente Eduardo Cunha [hoje cumprindo prisão domiciliar]. Perderam em 64, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo Exército de Caxias, as nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim!”
Celebrado pelos apoiadores do impeachment de Dilma e vaiado pelos contrários, sobretudo quando exalta Ustra, Bolsonaro divide a Casa ao dar seu voto. Dois anos depois, ele se elege presidente, e a exaltação à tortura não abandona sua trajetória.