Líderes de vários destes países nos disseram que estavam trabalhando para atrair testes clínicos na esperança de que isso os ajudasse a negociar um acordo de fornecimento com o desenvolvedor da vacina. Em alguns lugares, essa estratégia foi bem-sucedida, mas em outros, não.
BBC News Mundo – É o caso da América Latina, onde também vimos muitos governos que tomaram a decisão de comprar algumas vacinas (como a russa Sputnik), mesmo quando os processos de ensaios clínicos e os resultados estavam sendo questionados por especialistas em saúde pública. A falta de acesso a outras vacinas aprovadas e mais seguras poderia levar os países menos desenvolvidos a administrar doses que não foram exaustivamente testadas?
Taylor – Os líderes desses países estão tomando decisões de saúde pública muito difíceis, e a estimativa muda a cada semana, conforme o fardo da doença muda e novas variantes são descobertas.
Mais recentemente, estamos vendo esses mesmos países comprando vacinas que não divulgaram dados robustos, mas que podem estar em um avião 24 horas após o fechamento do negócio.
Mas se sua escolha como líder é entre algo e nada, provavelmente algo é melhor.

Por outro lado, há relatos de países como Canadá ou EUA, que compraram doses suficientes para vacinar toda a sua população várias vezes. Qual é a lógica por trás desse “entesouramento”?
Muitos países ricos compraram vacinas suficientes para cobrir suas populações muitas vezes. Isso fazia sentido no mundo em que vivíamos seis meses atrás, porque ainda não sabíamos qual das vacinas candidatas, se alguma, chegaria ao mercado.
A maioria dos países ricos comprou doses de vários candidatos na esperança de que, se um ou dois deles chegassem ao mercado, eles teriam 100% de cobertura de sua população.
Como se viu, as vacinas covid-19 tiveram um sucesso além das expectativas. Já temos algumas no mercado e outras sairão nos próximos meses.
Na realidade, nenhum país rico tem doses adicionais de vacina neste estágio, mas as vagas de fabricação prioritárias para 2021 foram reservadas para a maioria das vacinas contra covid-19.
Isso significa que os países que compram agora podem ter que esperar meses ou até mais um ano.
BBC News Mundo – Uma das alternativas para essa situação é a Covax, esforço global que envolve países ricos e menos desenvolvidos pelo acesso equitativo às vacinas contra o covid-19. Quais seriam os principais desafios desta proposta?
Taylor – O principal desafio que a Covax enfrenta é o tempo.
Embora a iniciativa tenha tido sucesso na compra de vacinas, garantir a entrega em paralelo com o lançamento da vacina em países ricos é muito mais difícil.
As nações de baixa e média renda que contam com a Covax como uma parte importante de sua estratégia de vacinas precisam das doses agora, mas muitos dos espaços de fabricação prioritários já foram reservados por países ricos que fizeram acordos bilaterais.
Também é importante observar que a Covax é necessário, mas não suficiente.
Com 20% de cobertura populacional, é uma peça crítica da solução, mas os países pobres continuarão a enfrentar enormes lacunas no acesso às vacinas.
Temos que nos preocupar com a cobertura populacional restante de 40-50% necessária para alcançar nesses países a imunidade de rebanho (patamar necessário para que o vírus tenha dificuldade de se espalhar em meio a tantas pessoas imunizadas).
BBC News Mundo – Suponha que eu seja o primeiro-ministro de uma nação muito rica. Que argumento você me daria para me convencer de que não devo comprar doses suficientes para vacinar toda a minha população, porque assim fazendo, outros países menos desenvolvidos não terão acesso a essa vacina? Por que devo me preocupar com eles em vez de vacinar todos os meus concidadãos?
Taylor – É realmente um argumento para autopreservação. Ao garantir que outros países também tenham acesso à vacina, você está garantindo o sucesso da sua.
Os líderes dos países ricos devem garantir que suas populações sejam cobertas o mais rápido possível e seria considerado um grande fracasso se não o fizessem.
Eles também devem garantir que todos os países tenham acesso às vacinas ao mesmo tempo para cobrir suas populações mais vulneráveis, o que ajudaria a proteger a saúde e os serviços de emergência e reduzir as mortes.

Modelos recentes mostram que deixar de fazer isso pode devastar as economias das nações ricas e criar uma situação em que nunca estaremos livres desse vírus.
Muitos países, incluindo Canadá, Reino Unido e bloco da União Europeia, declararam seu compromisso de doar as doses excedentes para outros países, mas o tempo realmente faz diferença.
Os líderes dos países ricos devem começar a doar doses aos países mais pobres, continuando a vacinar suas próprias populações.
A Noruega já liderou e afirmou que doará doses paralelamente ao lançamento de sua própria vacina.
Os líderes dos países ricos devem escolher melhores resultados de longo prazo, correndo o risco de perdas políticas de curto prazo e encontrar maneiras de transmitir a importância e os benefícios disso para suas populações.
Isso requer uma liderança mais forte do que a que vimos até agora, mas, sem ela, mesmo os cidadãos dos países ricos se sairão muito pior.