Vidas: O Governo teria evitado cerca de 40% das MORTES por Coronavírus se LEVASSE a PANDEMIA a SÉRIO, se não espalhasse teorias da conspiração e não desencorajasse o uso de máscaras.

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(Mar a Lago - Flórida, 07/03/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro cumprimenta o Senhor Presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Foto: Alan Santos/PR

Cerca de 40% das mortes por coronavírus nos Estados Unidos teriam sido evitadas se o país tivesse se mantido com uma taxa média de mortalidade equivalente à de outras nações ricas na pandemia, aponta o relatório de uma comissão de acompanhamento de políticas de saúde pública no governo Donald Trump da prestigiada revista científica britânica “The Lancet”.

Embora a comissão critique a resposta “inepta e insuficiente” do ex-presidente Trump à Covid-19, o relatório afirma que as raízes dos problemas de saúde do país são muito anteriores.

Entre os problemas apontados para o desempenho americano abaixo do de outros países industrializados estão:

  • reação atrasada e inadequada do governo Trump
  • aumento histórico da desigualdade no país
  • falta de acesso a seguros de saúde, inclusive pelo enfraquecimento do Obamacare e pelas demissões em meio à crise

A comissão sugere uma longa lista de medidas para reverter as tendências que afetam negativamente a saúde dos americanos. Entre as soluções está a adoção de um sistema de saúde de financiador único (um sistema privado financiado pelo Estado) como o Medicare for All, defendido pelo senador Bernie Sanders durante sua tentativa fracassada de concorrer à presidência pelo Partido Democrata.

Quase 470 mil americanos morreram de coronavírus até agora e cerca de 27 milhões de pessoas foram infectadas. Os números são, de longe, os mais altos do mundo.

Trump é amplamente criticado por não levar a pandemia a sério rapidamente, espalhando teorias da conspiração, desencorajando o uso de máscaras e minando as iniciativas de cientistas e outros que buscavam combater a propagação do vírus.

 

O presidente dos EUA, Donald Trump, tira sua máscara protetora enquanto posa no topo da varanda Truman, na Casa Branca, após retornar de uma hospitalização no Centro Médico Walter Reed para tratamento da Covid-19, em Washington, nos EUA, em 5 de outubro — Foto: Erin Scott/Reuters/Arquivo

“Os EUA se saíram muito mal nesta pandemia, mas o estrago não pode ser atribuído apenas a Trump. Também tem a ver com falhas sociais . Isso não vai ser resolvido com uma vacina”, disse ao jornal britânico “The Guardian” Mary Bassett, integrante da comissão e diretora do Centro FXB para Saúde e Direitos Humanos da Universidade Harvard.

A comissão disse que Trump “trouxe infortúnio para os EUA e o planeta” durante seus anos no cargo, mas a crítica contundente não culpou só Trump, vinculando suas ações às condições históricas que tornaram sua presidência possível.

“Ele foi uma espécie de ponto culminante de um determinado período, mas não é o único arquiteto”, disse Bassett. “Decidimos que é importante colocá-lo em contexto, não para minimizar o quão destrutiva foi sua agenda política e seu fomento pessoal à fogueira da supremacia branca, mas para colocá-lo em contexto.”

Saúde pública degradada

A comissão enfatiza que o país entrou na pandemia com uma infraestrutura de saúde pública degradada. Entre 2002 e 2019, os gastos com saúde pública dos EUA caíram de 3,21% para 2,45% — cerca de metade da proporção gasta no Canadá e no Reino Unido.

Copresidentes da comissão da “Lancet”, os médicos Steffie Woolhandler e David Himmelstein, professores da City University of New York, que são defensores de um sistema de saúde único, ainda que privado, como o proposto “Medicare for All”, apontam que o relatório reúne décadas de políticas sociais, econômicas e de saúde que aceleraram as disparidades do país.
expectativa de vida dos americanos começou a ficar atrás de outras nações industrializadas há quatro décadas. Em 2018, dois anos antes da pandemia, 461 mil americanos teriam morrido a menos se nos EUA as taxas de mortalidade fossem semelhantes às de outras nações do G7, como Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.

“A coisa mais importante que precisamos fazer em nosso país é diminuir as enormes e crescentes desigualdades que surgiram”, disse Himmelstein ao jornal “USA Today”.

A Covid-19 afetou desproporcionalmente os afro-americanos, com taxas de mortalidade entre os negros até 50% maiores em comparação com os brancos. As mortes por coronavírus entre pessoas negras são de 1,2 a 3,6 vezes mais altas do que entre brancos e as disparidades são especialmente altas entre os adultos de meia-idade, possivelmente um sinal de condições de vida mais aglomeradas e empregos que não permitiam que as pessoas se distanciassem com segurança, indica o relatório.

Medidas de saúde pública como uso de máscara e distanciamento físico poderiam ter salvado muitas vidas, disse Woolhandler, mas Trump não conseguiu criar uma resposta nacional, deixando as decisões mais cruciais durante a pandemia para os estados.

Suas ações “fizeram com que muitos cidadãos não levassem [a Covid] a sério e interferiram no tipo de resposta coordenada que tem sido usada em muitos países que tiveram mais sucesso do que os EUA no controle da epidemia”, disse Woolhandler.

Além da resposta à pandemia de Covid-19, o relatório aponta que Trump enfraqueceu o chamado Obamacare e mais 2,3 milhões de americanos ficaram sem seguro-saúde, um número que não leva em conta aqueles que perderam a cobertura oferecida pelos seus empregadores durante a pandemia.

A comissão, porém, não atacou apenas Trump e buscou raízes históricas do desempenho ruim dos EUA na área da saúde:

  • A eleição de Ronald Reagan em 1980 marcou o fim do chamado “New Deal” e da era dos direitos civis em favor de “políticas neoliberais” que reduziram os programas sociais.
  • O relatório critica o apoio do democrata Bill Clinton a medidas que dificultaram o acesso a mecanismos de bem-estar social, além da assinatura de uma lei federal contra o crime que levou ao “encarceramento em massa”, prejudicando desproporcionalmente a população de latinos e negros.
  • Os planos de saúde privados cobraram “despesas gerais e lucros exorbitantes” ao estender uma cobertura subsidiada pelo governo aos americanos de baixa e média renda com a assinatura da lei de saúde do ex-presidente Barack Obama, o Obamacare, segundo o relatório.

“Ainda estamos em um buraco muito profundo. Temos 30 milhões de pessoas sem seguro. Temos dezenas de milhões de pessoas com seguro insuficiente ”, disse Woolhandler.

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