A Polícia Federal (PF) iniciou, na manhã desta sexta-feira (26), buscas em endereços ligados à Viação Saritur, em Belo Horizonte. A corporação investiga se empresários do setor do transporte foram vacinados ilegalmente contra a Covid-19.
A Operação Camarote apura a suposta importação e administração irregular de vacinas. A suspeita é de que houve importação irregular de doses da Pfizer e receptação, segundo a PF.
Buscas foram realizadas em uma garagem no bairro Caiçara, na Região Noroeste da capital, onde teria ocorrido a vacinação. O vídeo abaixo mostra uma movimentação anormal no local na última terça-feira (23). Imagens internas de segurança devem ser analisadas pela PF para tentar comprovar o episódio.
A PF investiga a suspeita de quatro crimes. Um deles é de importação de mercadoria proibida, caso a eventual aquisição das doses tenha ocorrido antes da aprovação da lei que trata da compra de vacinas por pessoas jurídicas.
Caso as doses tenham sido compradas após a aprovação da lei, a suspeita é de crime de descaminho. Ainda é apurado se houve falsificação ou adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, caso o episódio tenha ocorrido antes do registro da vacina da Pfizer na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Também é apurada suspeita de receptação pelas pessoas que receberam a vacina.
Antes das 6h, policiais saíram da sede da Polícia Federal, na Região Oeste de Belo Horizonte. Ao todo, quatro mandados de busca e apreensão foram expedido pela 35ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte para que sejam recolhidas provas relativas ao caso.
Denúncia
A informação sobre a vacinação dos empresários foi publicada na edição online da revista Piauí. Além da PF, o Ministério Público Federal (MPF) investiga a denúncia.
De acordo com a reportagem, um grupo de políticos, empresários e familiares, teria sido vacinado com doses da Pfizer. A farmacêutica negou a venda de vacinas fora do Programa Nacional de Imunização (PNI).
De acordo com a Piauí, os organizadores da vacinação foram os donos da Viação Saritur. Um deles, Rubens Lessa, é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano. Por mensagem ao G1, ele se limitou a dizer: “Tenho conhecimento deste assunto”.
Entre os vacinados, segundo a revista, também estariam o ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) Clésio Andrade e o deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT).
Ao G1, Andrade disse que desconhece o assunto e que está em quarentena, no Sul de Minas, há dois meses. Mas à revista Piauí, afirmou: “Estou com 69 anos, minha vacinação [pelo SUS] seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim”. Questionado pela TV Globo, o ex-senador não confirmou a declaração.
Silveira Júnior negou que tenha participado da vacinação. Já o empresário Rubens Lessa, em nota, afirmou que o “endereço da empresa mencionado na reportagem não pertence ao Grupo Empresarial SARITUR, esclarece que os nomes citados na reportagem não fazem parte da direção do Grupo e que, o assunto tratado na matéria, era de total desconhecimento da diretoria da empresa”.
Movimentação anormal
A TV Globo confirmou que houve uma movimentação anormal em uma das garagens de ônibus da Viação Saritur na última terça-feira, que chamou a atenção de vizinhos.
Um vídeo mostra a fila de veículos no estacionamento. Em uma das vagas, uma pessoa com jaleco branco retira algo do porta-malas. Ela dá a volta e para em frente ao motorista e faz um movimento parecido com o que seria a aplicação de uma vacina.
Um boletim de ocorrência foi registrado no dia da suposta vacinação. De acordo com o documento, os seguranças disseram aos policiais que houve uma pequena reunião dos diretores da empresa, mas que todos já haviam deixado o local quando os policiais chegaram.
Na saída, os policiais foram abordados por um morador que confirmou ter visto no pátio da empresa aproximadamente 25 veículos com seus condutores e passageiros, sendo vacinados por uma mulher de jaleco branco. E que crianças também foram vacinadas. Os policiais entraram na empresa, mas nada foi constatado pelas equipes.
O imunizante Comirnaty ainda não está disponível em território brasileiro. A Pfizer e a Biontech fecharam um acordo com o Ministério da Saúde contemplando o fornecimento de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 ao longo de 2021.