Ociosidade atinge 45% e já causa o fechamento de frigoríficos no Brasil

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A combinação entre escassez de matéria-prima, aumento de custos e um mercado interno enfraquecido já levou os frigoríficos brasileiros a reduzirem em mais de 45% sua produção neste ano, segundo levantamento da taxa de ociosidade do setor feito pela Scot Consultoria.

Na Bahia, Estado que apresenta a maior taxa de ociosidade entre os 13 considerados na pesquisa, esse percentual chega a 60%, refletindo uma dura estratégia de reduzir a operação para controlar os custos.

“A gente percebe que muita indústria está fazendo dois tipos de abate: ou pulando dias da escala, abatendo de duas a três vezes por semana, ou abatendo todos os dias, porém, diminuindo o ritmo de abate diário”, explica Rodrigo Queiroz, analista de mercado da consultoria.

Ele destaca as duas estratégias como as principais usadas pelo setor para fazer frente ao cenário atual. Segundo Queiroz, “todas as indústrias frigoríficas hoje estão com dificuldades de encontrar animais para a abate”, mas o cenário é pior para aquelas que dependem do mercado interno.

“O principal importador hoje da carne brasileira é China e Hong Kong, e essa demanda bem aquecida da China fez com que a procura da indústria frigorífica por esses animais, principalmente as que exportam, aumentasse, prejudicando as indústrias menores que não têm a certificação de exportação”, destaca.

A situação, explica o analista, fez com que a margem de comercialização da carcaça bovina superasse a da carne desossada, tornando mais lucrativo para essas empresas abater os animais e enviá-los para serem processadas em plantas menores.

“Hoje, o cenário encontra-se bem complicado. Falando em desossa, com os preços atuais, a gente está com uma margem de comercialização de praticamente zero”, aponta o analista. Os cálculos da consultoria desconsideram demais custos da operação, como mão de obra.

Para o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga, este é o pior cenário que uma empresa do setor poderia enfrentar, já que a carne desossada possui maior valor agregado.

“Uma planta que opera com 50%de ociosidade ou às vezes até mais fica numa situação muito difícil. Porque ela tem custos elevados e a receita está baixa por estar operando muito abaixo da capacidade, com dificuldade de honrar os compromissos”, pontua Mestefaga.

Situação “dramática”

Segundo ele, a situação dos pequenos e médios frigoríficos voltados para o mercado interno é “dramática” e o fechamento de unidades cada vez mais frequente. “Às vezes, é a única opção que a empresa tem. Ela não tem como continuar abatendo porque compra matéria-prima cara e o retorno para vender a carne no mercado interno é negativo”, destaca o representante do setor.

Nem a Abrafrigo nem a Scot têm um levantamento sobre o número exato de frigoríficos que fecharam as portas nos últimos meses, mas destacam casos emblemáticos, como a Frigol em Goiás, a uma unidade da JBS em Juína, no Mato Grosso.

Segundo a empresa, o fechamento se deu “por razão estratégica de remanejamento da produção de carne bovina para a unidade de Brasnorte, com estrutura mais moderna e maior escopo de atividades”.

Sem perspectivas de uma melhora expressiva na oferta de animais no curto prazo, a situação da indústria para os próximos meses depende da melhora das condições da economia e a retomada do consumo no mercado interno.

Neste sentido, o presidente da Abrafrigo considera fundamental o avanço da vacinação para a retomada da atividade econômica a níveis normais, com a reabertura dos canais de alimentação fora de casa, por exemplo.

“Estamos ainda tratando de coisas muito incertas. Tudo são só hipóteses e cenários. A situação para a indústria vai continuar desfavorável neste ano e, dentro deste contexto, não é difícil a gente imaginar que devam ter outras empresas em situação de fechamento, nem que seja temporário”, conclui Mustefaga.

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