Atuação da polícia em manifestação no Recife deve ser investigada por MP

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O Centro de Apoio Operacional de Defesa Social e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) anunciou, na manhã desta segunda-feira, que abriu um inquérito para investigar a atuação da Polícia Militar na manifestação do último sábado, no Centro do Recife . O órgão classificou a atuação da PM como “ilegal e arbitrária”, e afirmou que vai investigar possíveis violações de direitos humanos por parte dos agentes que atuaram nos protestos contra o presidente Jair Bolsonaro.

Mesmo com protestos pacíficos na capital do estado, policiais utilizaram balas de borracha para dispersar os manifestantes e duas pessoas atingidas perderam a visão em um dos olhos. Além dos dois feridos, policiais também agrediram a vereadora de Recife Liana Cirne (PT) durante uma abordagem com uso de spray de pimenta.

“Na portaria que instaura o IC, foi ressaltado que no contexto de enfrentamento à pandemia do coronavírus/covid-19, o dever de preservação da ordem pública imposto à PMPE, notadamente no exercício da fiscalização do cumprimento de eventuais medidas sanitárias restritivas, impostas pelo Governo do Estado, não elimina a necessidade de observância dos direitos das pessoas, entre outros, à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica, à liberdade de expressão e de reunião pacífica em locais abertos ao público”, afirma o MPPE em nota. 

No último domingo, um dia após os protestos, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), negou ter autorizado qualquer tipo de intervenção violenta . Ele também afirmou que a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. A apuração do governo também será acompanhada pelo Ministério Público estadual.

— O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne (agredida durante a abordagem com uso de spray de pimenta) permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação. Sempre vamos defender o amplo diálogo, o entendimento e o fortalecimento das nossas instituições dentro da melhor tradição democrática de Pernambuco — afirmou Câmara.

Estado das vítimas

Em entrevista ao portal de notícias G1, o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, afirmou que passou por uma cirurgia para fazer a retirada do olho atingido pela bala de borracha. O arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos, que também foi atingido pelos policiais, recebeu nesta segunda a notícia de que perdeu totalmente a visão do olho direito. Nenhum dos dois participou das manifestações, mas acabaram atingidos no caminho do trabalho.

— Só Deus sabe o que eu passei e estou passando. Hoje eu acordei muito triste, angustiado, porque sou um jovem novo, com saúde, independente, gosto de trabalhar. Sou muito de família, penso muito nos meus filhos, e o que vai ser de mim agora? Dos meus filhos e da minha esposa, que precisam de mim? Não sei nem o que falar, é só o desespero mesmo, de um pai que corre atrás do sustento da família. Já chorei muito”, disse Jonas Correia ao G1.

Por meio de nota, a Fundação Altino Ventura, onde Correia foi atendido, afirmou que ele foi atendido na emergência da unidade hospitalar, no sábado, após ser encaminhado pelo Hospital da Restauração. Na primeira consulta, a vítima sofria com forte dor no olho direito e os médicos identificaram um edema periocular, além de sangramento intraocular. Ele deve ser operado na próxima quarta-feira. 

Até o momento, “nenhuma cirurgia foi indicada para o caso, mas a conduta pode mudar a partir da evolução do paciente e dos resultados dos novos exames”, declara a nota enviada pela fundação ao G1. Daniel Campelo da Silva está internado no mesmo quarto de Correia, mas não autorizou a divulgação de boletins médicos sobre seu estado de saúde.

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