Comentarista do Big Brother de Portugal, o psicólogo Quintino Aires foi afastado após declarações ofensivas e preconceituosas contra um participante gay do programa e os homossexuais em geral. A repercussão negativa deixou o canal TVI sob pressão para demiti-lo.
Em participação no Big Brother Extra, atração com análises sobre o reality show, ele disparou contra o arquiteto e ativista LGBTQIA+ Bruno Almeida, um dos competidores da edição iniciada no domingo (12).
Tempos atrás, o brother gerou manchetes na imprensa lusa ao fazer um discurso na Assembleia da República contra a discriminação de homossexuais que desejavam doar sangue. O psicólogo disse que Bruno é “um miúdo irresponsável, uma bicha desocupada a achar-se o herói”.
A militância de Bruno ajudou a derrubar, em março deste ano, a norma que aplicava a orientação sexual como exclusão para a doação de sangue em Portugal. Na prática, barrava os gays. Sem provas, Quintino Aires insinuou que o sangue dos homossexuais pode colocar a população em risco.
“Existe uma coisa grave: o fato de agora quem tem sexo com muita gente pode dar sangue ao fim de três meses, quando antes era preciso esperar seis. Preferia que se esperasse 1 ano. O serviço de sangue tem muito cuidado, mas (agora) vai aumentar o risco de precisarmos de uma transfusão”, afirmou.
O comentarista do Big Brother também falou mal da Parada Gay de Lisboa. “(Os homossexuais) continuam a querer mostrar a sua promiscuidade com a marcha da vergonha. Quando se faz a marcha, vão, na sua grande maioria, meio nus a lamberem-se todos. A seguir, aumenta o número de infeções e as instituições (de saúde) preparam-se para isso.”
Conforme informou o blog em post de segunda-feira (13), o Big Brother português é apresentado por dois comunicadores gays, Manuel Luís Goucha e Cláudio Ramos. Há três participantes LGBTs na casa: os também homossexuais Bruno e António, e o homem trans Lourenço. É a edição com maior diversidade em 21 anos do reality show em Portugal.
Horas após Quintino Aires lançar a polêmica, Bruno, sem saber o que aconteceu fora da casa, revelou a seus colegas de confinamento o que viveu certa vez ao tentar doar sangue. “A gaja virou-se para mim e disse: ‘Você é homossexual? Ah, sim, pode dar sangue, mas tem de ficar 1 ano em abstinência sexual’. E eu: ‘O quê? Mas eu fiz mal a alguém?’”, contou.
“Os homossexuais são as pessoas que mais se testam às DST (doenças sexualmente transmissíveis). Um heterossexual nem se lembra de ir fazer um teste, nós (gays) estamos constantemente a pensar no assunto.”
No Brasil, a restrição de doação de sangue por homossexuais caiu em maio de 2020 após decisão do Supremo Tribunal Federal. A maioria dos ministros da corte considerou inconstitucional e discriminatória a regra até então imposta pela Anvisa e o Ministério da Saúde.