Neste mês de 2021, que ainda não terminou, o volume de buscas sobre o câncer de mama chegou ao seu ponto mais alto desde 2004.
Em comparação com outubro do ano passado, o interesse nesse termo de busca já é 27% maior em outubro de 2021, segundo levantamento do Google enviado à BBC News Brasil com exclusividade.
O volume de pesquisas sobre o autoexame de mama, especificamente, cresceu 250% em 2021 na comparação com 10 anos atrás.
Já o interesse pela “mamografia” subiu em 40% na comparação entre 2011 a 2021. Entretanto, apesar do crescimento de pesquisas sobre o autoexame, o volume de buscas sobre a mamografia é em geral mais alto — nos últimos 12 meses, o interesse na mamografia foi sete vezes maior do que o autoexame.
No quadro mundial, o Brasil está apenas na 37ª posição dos países que mais pesquisaram sobre o câncer de mama nos últimos 12 meses, ficando atrás de alguns países latino-americanos como Paraguai (11º), México (14º) e Venezuela (15º).
O câncer de mama é o mais numeroso em casos e mortes de mulheres no Brasil depois do de pele não melanoma, segundo dados do Ministério da Saúde.
“Outubro é o mês de conscientização das questões mamárias, mas a gente não pode parar em outubro: gostaríamos que tivesse o janeiro rosa, o fevereiro rosa, o março rosa, o ano inteiro rosa”, enumera Carlos Alberto Ruiz, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e responsável pelas ações sociais em defesa da mulher na entidade.
O médico diz que, no Brasil, o número de mamografias de rastreamento está longe do ideal, com grandes desigualdades por Estados; e que o diagnóstico do câncer de mama no país ainda é tardio, muitas vezes com nódulos já palpáveis.
Fruto de um longo projeto de pesquisa, o Amazona, uma publicação de 2019 mostrou que entre 4.912 pacientes com câncer de mama tratadas em 28 instituições pelo Brasil em 2001 e 2006, 23,3% tiveram diagnóstico na fase 1 da doença; 53,5% já na fase 2; e 23,2% na fase 3.
“O lema da sociedade (SBM) é quanto antes melhor fazer a mamografia, a biópsia, porque ajuda na curabilidade”, diz Ruiz, apontando que a detecção precoce é importante para garantir a equidade no tratamento entre o sistema público e privado.
A partir da entrevista com o mastologista Carlos Alberto Ruiz e de informações do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), respondemos abaixo algumas das perguntas mais frequentes sobre o câncer de mama registradas no Google Brasil nos últimos 12 meses.
Quando fazer mamografia?
Segundo o Ministério da Saúde, a chamada mamografia de rastreamento, um exame de rotina para quem não tem sintomas do câncer de mama, deve ser feita a cada dois anos por todas mulheres com idade entre 50 a 69 anos.
Alguns grupos específicos, como mulheres mais jovens com histórico familiar de câncer de mama, podem fazer exames anuais para rastreamento, como a ressonância magnética (mais precisa do que a mamografia em mulheres mais jovens), a depender da orientação médica.
Em relação à faixa etária que deve fazer a mamografia de rastreamento, a SBM tem uma divergência com o Ministério da Saúde, defendendo que esta comece aos 40 anos seja anual, e não bienal a partir dos 50.
Além da mamografia de rastreamento, existe a mamografia diagnóstica, para quando há sintomas e lesões suspeitas detectadas na mama.
O autoexame pode substituir a mamografia?
Embora no passado o autoexame fosse recomendado como uma rotina mensal para as mulheres e incorporado como política pública em vários países, hoje as evidências científicas indicam que ele é insuficiente para detectar nódulos de mama com menos de 1 cm. Ou seja, quando ele é palpável, já está em um tamanho acima do desejável.
Por isso a mamografia para os grupos indicados é essencial e insubstituível pelo autoexame, explica Carlos Alberto Ruiz.
“O melhor exame de detecção precoce é a mamografia, que faz um diagnóstico milimétrico. Por isso, o autoexame não substitui a mamografia. Esse é o grande problema: quando a gente começa a falar muito do autoexame, a mulher pode entender que ele substitui a mamografia. Isso confunde. O autoexame não substitui a mamografia, mas ajuda”, explica o mastologista.
Ele reconhece que, na realidade brasileira de diagnóstico tardio da câncer de mama, o autoexame pode ajudar para que os nódulos já não cheguem com 3 ou 4cm, e sim talvez na faixa de 2cm — o que, mais uma vez, não é ideal, pois a mamografia tem uma precisão para detectar nódulos com tamanho abaixo disso.
Apalpar as mamas de vez em quando também é importante para que as mulheres tenham maior consciência do próprio corpo e de eventuais alterações, mas hoje especialistas costumam dizer que não há uma técnica específica para fazer um autoexame.
Ruiz recomenda que a palpação seja feita de 2 a 3 dias depois da menstruação, quando as mamas estão desinchando.
Quem tem silicone pode fazer mamografia?
O mastologista e ex-presidente da SBM explica que mulheres com prótese de silicone podem fazer tranquilamente a mamografia — normalmente, é necessário fazer mais chapas nesses casos (como se fossem mais “fotos”), em que o profissional fará manobras manuais para deslocar a prótese e obter diferentes visões da mama.
Qual a diferença entre mamografia e ultrassonografia?
A mamografia é uma radiografia, ou seja, é um exame de imagem que usa raios X; já a ultrassonografia, que também é um exame de imagem, recorre a ondas sonoras de alta frequência.
A ultrassonografia até pode ser utilizada no diagnóstico de câncer de mama mas, segundo Carlos Alberto Ruiz, ela não é um método tão possível de ser homogeneizado para todas as pessoas — algumas podem demandar 10 minutos de exame e outras, 1 hora, por isso a mamografia é mais indicada.