Governo deve receber 3,7 mi de vacinas da Pfizer para crianças ainda em janeiro

Até o fim do primeiro trimestre, 20 milhões de doses chegarão ao Brasil

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O Brasil deve receber 3,7 milhões de vacinas infantis da Pfizer contra a covid-19 no mês de janeiro. Até o fim do primeiro trimestre, 20 milhões de doses chegarão ao País, no total, de acordo com fontes do governo ouvidas pelo Estadão/Broadcast.

Dados do IBGE mostram que o Brasil tem 20,5 milhões crianças entre 5 e 11 anos, ou seja, haveria como aplicar a primeira dose em toda essa faixa etária até março. Já a quantidade a ser recebida em janeiro seria suficiente para imunizar, por exemplo, todas as crianças de 11 anos (2,8 milhões, segundo o instituto)

Apesar de haver uma audiência pública marcada para amanhã para discutir o tema, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta segunda-feira, 3, que a vacinação deve começar na segunda quinzena deste mês.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, a ideia é dar a primeira dose nesse intervalo e a segunda no segundo trimestre, quando uma nova remessa de 20 milhões de unidades do imunizante deve ser recebida.

A vacina para crianças tem dose menor do que a de adulto, cerca de 1/3, e é fornecida em frascos diferenciados. A vacinação deverá ser feita seguindo, inicialmente, critérios de comorbidade e, em seguida, de idade, do maior para o mais novo.

A primeira remessa, com 1,248 milhão de doses, deve chegar ao País no dia 13 de janeiro. Mais 1,248 milhões de unidades são esperadas para 20 de janeiro e outras cerca de 1,2 milhão até o fim do mês.

Em novembro, o Estadão/Broadcast antecipou que o governo negociava essa quantidade de imunizantes para a faixa etária, já se antevendo a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O fornecimento foi incluído em um contrato já assinado com a Pfizer e condicionado, à época, à aprovação da agência.

O tema, no entanto, enfrenta resistência do presidente Jair Bolsonaro e de apoiadores, o que levou o Ministério da Saúde a criar empecilhos, como uma consulta pública e a audiência marcada para amanhã.

Queiroga hoje chegou a dizer que o Brasil será “um dos primeiros países a distribuir a vacina para crianças que os pais desejem fazer”. A vacinação contra a covid-19 em crianças, porém, já está permitida em pelo menos 31 países de quatro continentes. O imunizante já começou a ser aplicado em países como Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Chile, China e Colômbia.

Na sexta-feira, 31, o Ministério da Saúde afirmou em nota que sua recomendação é “pela inclusão da vacinação em crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas Contra a covid-19”.

“No dia 5 de janeiro, após ouvir a sociedade, a pasta formalizará sua decisão e, mantida a recomendação, a imunização desta faixa etária deve iniciar ainda em janeiro”, informou a pasta.

A aplicação da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos está autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 16 de dezembro. O Ministério da Saúde, no entanto, ainda não anunciou publicamente um cronograma para a imunização deste público até o momento.

Antes do Natal, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), ampliou o prazo para o governo federal se manifestar sobre a atualização do Programa Nacional de Imunização (PNI) para vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a covid antes da volta às aulas no primeiro semestre de 2022. A resposta poderá ser enviada até quarta-feira, 5 – o período inicial era de 48 horas.

Em meio à indefinição do cronograma da vacinação das crianças, o Ministério da Saúde criou uma consulta pública para manifestação da sociedade civil sobre a imunização na faixa etária dos 5 aos 11 anos. O instrumento, criticado por especialistas, foi fechado neste domingo, 2.

A Saúde realiza nesta terça-feira, 4, uma audiência pública sobre o tema. Representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) participarão da reunião.

A vacinação das crianças é um tema que enfrenta dura resistência do presidente Jair Bolsonaro e de sua base ideológica. Bolsonaro entrou em conflito com técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após dizer que divulgaria os nomes dos servidores que autorizaram a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos.

O presidente afirmou também que as mortes de crianças por covid não justificam a adoção de uma vacina contra a doença e informou que não vai imunizar sua filha Laura, de 11 anos.

Início das aulas

Especialistas alertam que as crianças deveriam ser vacinadas antes do início do ano escolar, mas revelam apreensão com o prazo curto – na maioria dos Estados, as aulas presenciais começam em fevereiro. Com isso, na visão dos epidemiologistas, as crianças vão voltar às aulas apenas com a primeira dose aplicada, ou seja, sem a imunização completa.

“Dá para iniciar a vacinação, mas será muito difícil conseguir vacinar todas, pois são cerca de 20 milhões de crianças, lembrando que a proteção ideal é feita com duas doses com intervalo mínimo de 21 dias”, lembra a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde de 2011 até 2019.

Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), concorda. “As crianças vão conseguir tomar apenas a primeira dose. Nós deveríamos ter iniciado a campanha em dezembro”, opina.

As crianças vão voltar às aulas sem a imunização completa mesmo que o processo seja rápido, como explica o infectologista Julio Croda. “Após a chegada das vacinas, a logística de distribuição para os Estados e daí para os municípios leva uma semana. Esse seria o prazo para começar a vacinar as crianças”, diz o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). “Vamos começar a vaciná-las, mas vai ser bem difícil concluir o processo”, opina.

Além do prazo apertado, os especialistas mostram preocupação com a falta de uma campanha de mobilização. Para Carla Domingues, distribuir as vacinas e esperar a demanda espontânea da população não são ações suficientes. “A gente não tem uma comunicação forte do governo falando que são vacinas seguras e eficazes. Por outro lado, existem fake news que propagam a não vacinação. Isso também tem de ser avaliado no impacto da vacinação nas crianças”, alerta.

Julio Croda usa a expressão “desafio da comunicação” para argumentar que as medidas propostas pelo governo federal, como a necessidade de consentimento da mãe e do pai e de prescrição médica são empecilhos para a vacinação. “Isso não foi exigido para nenhuma vacina do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Também não foi necessário para vacinar os adolescentes contra covid, considerando que são menores de idade. Isso vai dificultar o acesso”, prevê.

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