Quase 60% das cidades brasileiras enfrentam resistência à vacinação infantil

Dados são de uma pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM); em BH, apenas 60% das crianças receberam a primeira dose

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Em Belo Horizonte, das 193 mil crianças de 5 a 11 anos, apenas 114 mil receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19, o que corresponde a 59% desse público. Os dados são da prefeitura da capital atualizados nesta segunda-feira (21). Todas as crianças dessas idades já foram convocadas. 

A situação da capital mineira ilustra a pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que aponta que 59% das cidades brasileiras enfrentam resistência à vacinação infantil. O levantamento ouviu gestores de 2.193 cidades entre 14 e 17 de fevereiro. 

Como estratégia para ampliar a cobertura, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que durante as visitas domiciliares os agentes de saúde verificam a situação vacinal das pessoas, incluindo a das crianças. A verificação também é feita nos centros de saúde e por meio de contato telefônico. 

Em todo o Estado, a cobertura vacinal está em 45% para a primeira dose, segundo o vacinômetro da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A pasta informou que “tem orientado os municípios para realizarem a busca ativa dos grupos elencados para vacinação contra a Covid-19. Entre as orientações está a ampliação do horário de funcionamento dos centros de vacinação e a produção de infográficos. 

Causas e consequências. 

O pediatra e epidemiologista José Geraldo Leite atribui a baixa adesão da vacinação infantil a três fatores: a falta impressão de que as crianças não contraem formas graves da Covid-19; o discurso de descrédito às vacinas do governo federal; e a falhas na estratégia do Plano Nacional de Imunizações (PNI).

O especialista ressalta que a Covid-19 é a doença para a qual possui vacina que mais matou crianças nos últimos dois anos no Brasil. 

“A primeira variante causava episódios mais benignos nas crianças embora já detectamos no Brasil desde o início da pandemia a chamada “síndrome multisistêmica inflamatória”, que é uma complicação grave da doença. Quando chegou a ômicron com alta taxa de transmissibilidade, com isolamento social frágil, a doença atingiu de forma muito importante as crianças. A Covid-19 é a doença que tem prevenção por vacina que mais matou crianças nos últimos dois anos”, detalha. 

As falas de membros do governo federal também teriam ajudado a aumentar resistência dos pais à imunização dos filhos contra o coronavírus. “Uma segunda questão foi o fato de autoridades do governo federal terem colocado em dúvida a segurança e a necessidade de se vacinar crianças. Essas autoridades que fizeram isso são lideranças no país e colocaram uma dúvida em muitos pais”, avalia.

Por fim, o epidemiologista que atuou no PNI por mais de 30 anos acredita que o programa tem falhas quanto à imunização e precisa ser reestruturado.

“Outras vacinas, desde 2016 o brasil, estão com dificuldade de atingir cobertura vacinal adequada em crianças. Há uma dificuldade do programa nacional de imunizações a se associar adequadamente à estratégia da saúde da família. Grande parte da população brasileira é atendida pela estratégia de saúde à família, e os agentes e até profissionais de nível superior não foram treinados em imunização”, diz. 

Exemplo. 

A capital de São Paulo tem 74% da população entre 5 e 11 anos de idade vacinada contra o coronavírus. O Estado de São Paulo exige a vacinação para alunos da rede estadual, apesar de não impossibilitar alunos não vacinados de frequentarem as aulas.

O governo estadual de São Paulo também realiza entre 19 e 26 de fevereiro a “Semana E” de vacinação infantil contra a Covid-19 para ampliar a imunização do grupo. 

A Prefeitura de São Paulo iniciou na segunda-feira (21) a busca ativa por crianças não vacinadas nas escolas da cidade. A vacinação é feita por agentes das unidades básicas de saúde no horário de início das aulas e 30 minutos antes do término de cada período. 

Reações adversas.

Segundo a pesquisa da CNM, 2,3% dos gestores ouvidos afirmaram que houve reações adversas graves em crianças que tomaram a vacina contra o coronavírus. Já 94,4% não registraram reações graves e 3,3% prefeituras não responderam a essa questão.

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