A ONU alerta que, em apenas cinco dias de confrontos armados, mais de 400 civis foram atingidos pela guerra na Ucrânia, com 102 mortos e mais de 300 feridos, além de 422 mil refugiados. Os números foram apresentados diante dos governos, nesta segunda-feira, diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
Mas a reunião se transformou numa troca de farpas entre russos e ucranianos, diante da decisão do governo de Kiev de pedir uma reunião de emergência do Conselho. Para a diplomacia ucraniana, Moscou cometeu um ataque contra “todos os países e contra os princípios da ONU”.
Kiev ainda insiste que o impacto da guerra entre a população civil é profundo, com 316 mortos e 1,7 mil feridos, inclusive crianças. Para o governo ucraniano, os atos devem ser tratados como “crimes de guerra”.
O governo russo rejeitou o pedido para realizar uma reunião especial na ONU, criticando os países pode terem ignorado mortes na região do Donbass, nos últimos oito anos. O Kremlin também insistiu que não houve um ataque contra civis.
Para o embaixador russo na ONU, Gennady Gatilov, não faria sentido a convocação de uma reunião especial sobre o tema. “Onde vocês estavam quando as pessoas morriam em Donbass?”, questionou o Kremlin, se dirigindo às potências ocidentais.
A proposta de realizar uma sessão especial teve de ser submetida ao voto e foi aprovada com 29 de apoio, cinco contra e 13 abstenções. O Brasil votou a favor do pedido ucraniano, enquanto China, Cuba e Venezuela foram contrários.
Além do encontro no Conselho para examinar as violações de direitos humanos, a Assembleia Geral da ONU realizará nesta segunda-feira um encontro de emergência. Essa é a primeira vez em décadas que o órgão é convocado de forma extraordinária.
Ao tomar a palavra nesta segunda-feira em Genebra, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, deixou claro que violações estão ocorrendo e que o mundo vive um momento decisivo.
“Ao longo da história, houve momentos de profunda gravidade, que cortaram o curso dos acontecimentos entre um “antes” – e um “depois” muito diferente, mais prejudicial. Estamos em tal ponto de viragem”, disse Bachelet.
“O progresso notável que foi feito ao longo de duas décadas em cada região – na diminuição de conflitos, na redução da pobreza e na expansão do acesso à educação e a outros direitos – está em perigo”, alertou.
“Esgotadas pela pandemia, divididas pela crescente polarização, minadas pelo crescente dano ambiental e corroídas pela desinformação digital, ódio e distorções da democracia, desrespeito ao Estado de direito, muitas sociedades estão evoluindo – ou mergulhando – no aumento da repressão e violência; aumento da pobreza; raiva e conflito”, disse.
“O ataque militar à Ucrânia está pondo em risco inúmeras vidas. Entre a manhã de quinta-feira e a noite passada, nosso Escritório registrou 406 vítimas civis, incluindo 102 mortos (incluindo 7 crianças) e 304 feridos”, disse.
“A maioria desses civis foi morta por armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguete e ataques aéreos. Os números reais são, temo, consideravelmente mais altos”, admitiu.
“Enquanto isso, milhões de civis, incluindo pessoas vulneráveis e mais velhas, são forçados a se amontoar em diferentes formas de abrigos antibomba, tais como estações subterrâneas, para escapar de explosões”, disse. Segundo ela, a ONU relatou que 422.000 pessoas fugiram do país, e muitas mais deslocadas internamente.
Para o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, o mundo não pode deixar a Ucrânia sozinha neste momento. “A escalada das operações militares da Federação Russa na Ucrânia está levando a uma escalada das violações dos direitos humanos”, denunciou.
“Conhecemos o resultado inevitável da guerra: vítimas civis; mulheres, crianças e homens forçados a sair de suas casas: fome, pobreza e enormes perturbações econômicas”, disse.
O secretário-geral ainda criticou Moscou por sua repressão dentro do país. “A liberdade de expressão está sob ataque com relatos de jornalistas e ativistas presos”, disse. “Tenho apelado constantemente para o fim da ofensiva e para o retorno ao caminho de diálogo e diplomacia”, disse.
“Devemos mostrar a todas as pessoas na Ucrânia que estamos ao seu lado em seu tempo de necessidade”, completou.