Conheça o chá chinês que chega a custar mais de R$ 800 mil o quilo

Estrela de um restaurante de luxo de Hong Kong, o Niu Lan Keng Rou Gui é feito de uma planta que cresce em local remoto da China e demora 36 horas para ser processada, explica especialista brasileiro.

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Um chá chinês se tornou a iguaria mais cara de um restaurante em Hong Kong: a porção mínima, de 25 gramas, custa US$ 4.560 — cerca de R$ 23 mil. O quilo sai por quase R$ 820 mil.

O chá é chamado Niu Lan Keng Rou Gui. Seu nome faz referência ao local onde é encontrada a planta da qual ele é feito: o vale Niu Lan Keng, nas montanhas Wuyi, no leste da China.

O vale fica dentro de um parque nacional de preservação ambiental, explica Caio Barbosa, economista e fundador de uma loja especializada em chá chinês, em São Paulo.

“Lá tem os chás mais caros do planeta. A área é de difícil acesso e tem trilhas bem complicadas”, explica.

A “família” de chás da qual o Niu Lan faz parte é chamada de Rou Gui.

“É uma das variedades dos chás que chamamos de oolong, popularmente conhecidos como chás de rocha. O termo rocha surgiu porque o solo dos vales de Wuyi tem muitas pedras e isso resulta em uma planta com alta mineralidade e com características únicas”, descreve o comerciante. As bebidas preparadas com esses chás costumam ser doces e levemente energéticas.

Chá chinês raro é encontrado no leste da China — Foto: Arte/g1

36 horas de preparo da folha

Outro fator que reflete no alto preço do chá é que ele necessita de mestres especializados no seu processo de produção.

A base é a planta Camellia Simenses, que existe em diferentes variedades ao longo da Ásia. Só na China, há mais de 30. “As famílias de chá são as formas como a Camellia é processada. Se você quer um chá branco, vai depender de como a folha será processada. Chá verde, por exemplo, é outro processo. O Rou Gui, a mesma coisa”, explica Caio Barbosa.

No caso do Niu Lan Keng, a colheita tem que ser feita no momento imediato em que a maior parte dos brotos, na primavera, está para se abrir.

“Produtores ficam observando a planta o dia todo, para colher na hora específica em que o broto está com a proporção correta e com níveis certos de polifenóis [compostos orgânicos] e vitaminas”, detalha o especialista.

No final do dia, os produtores levam as folhas para as áreas de produção e começa a segunda etapa: um processo de 36 horas que envolve a oxidação pela qual a folha passará.

“Produtores e mestres dormem no local, e é sempre uma loucura essa fase. A pessoa que processa o chá vai avaliando como ele está ficando, com carvão e com a temperatura branda. Depois, faz a rolagem com as folhas para se oxidarem em bandejas de bambu. Eles vão girando e, por isso, elas ficam mais escuras”, relata Barbosa, que já participou de uma produção em Xangai.

É tudo com muito empenho. A folha fica sendo tratada até que vira esse chá na última torra. Por isso, o alto preço”, justifica.

Motanhas Wyui, no leste da China — Foto: Arquivo Pessoal/Caio Barbosa

Mais chás valiosos

Além da variedade de chá Rou Gui, também há os famosos Da Hong Pao e Shui Xian, todos encontrados nas montanhas Wuyi e que também pertencem à família de chás de rocha.

Contudo, Barbosa ressalta que, além dos “rochosos”, há outros chás caros na China , com valores que chegam a milhares de dólares, como o chá Puerh.

“Puerh é também um chá caro que vem crescendo muito e se espalhando muito pelo mundo. São discos prensados que vão fermentando e que ficam com características probióticas. E, quanto mais velho ele for, é melhor, porque vai vaporizando”, diz o brasileiro.

Chá sendo preparado no restaurante de luxo em Hong Kong — Foto: Reprodução/Instagram Glassbelly Tea

Em 2021, por exemplo, a Sotheby’s Hong Kong fez seu primeiro leilão de chá com o Puerh vint. Um bolo de chá de 330 gramas foi vendido por US$ 72.150, cerca de R$ 350 mil.

“Grandes magnatas chineses têm investimento em Puerh. É um jeito patriótico de mostrar riqueza sendo ativo em um negócio que tem valor cultural”, afirma Barbosa.

Da China para o Brasil

João Campos e Caio Barbosa acompanham produções de chá na China há mais de 10 anos — Foto: Arquivo Pessoal/Caio Barbosa

O comerciante e economista brasileiro trabalhava em uma multinacional quando um amigo que estava morando em Xangai começou a conhecer os chás chineses colhidos à mão e processados com cuidado.

“O João Campos, que também é economista, começou a me mandar sobre o chá. Provei e nunca tinha experimentado igual. Não tinha nada no Brasil sobre vender esse tipo de chá em 2009. Então, avaliamos a proposta de trazer esses produtos”, relembra.

Os dois abriram uma loja online e passaram a vender para todo o Brasil diferentes tipos de chá importados da China.

“Passamos a ir todo ano para a China ver o processo produtivo até criamos oficinas para ensinar como é feito. O negócio foi crescendo tanto que, em 2019, abrimos uma unidade física. Conseguimos colocar nossos chás nos principais restaurantes de São Paulo”.

China prioriza cultivo de chá em todo país — Foto: Arquivo Pessoal/Caio Barbosa

Atualmente, o Brasil tem mais lojas que vendem chás chineses e o interesse pelo consumo tem crescido, ressalta Barbosa, ex-presidente da Associação Brasileira de Chá (abChá).

O Niu Lan Keng, vendido no restaurante de luxo de Hong Kong, não é importado pelos brasileiros. Mas outros chás da família Rou Gui podem ser encontrados.

Na loja online, 10 gramas de um Rou Gui — que rendem ao menos 10 xícaras — são vendidas por R$ 52,30. Já 50 gramas custam R$ 157,90.

Mas ele não é o mais caro entre as opções chinesas do cardápio. Há também o chá verde De Mon Gan, que é vendido por R$ 121,90 o pacote de 10 gramas, e é conhecido por ter sabor doce.

Montanha Wyui, no leste da China — Foto: Arquivo Pessoal/Caio Barbosa

Outro que se destaca é o chá grande amarelo, que é plantado em jardins de altitude elevada. O valor para 10 gramas é de R$ 107,90. Para 25 gramas, são R$ 184,90.

“Os chás amarelos também são conhecidos pelo alto valor, mas não conseguimos trazer muito pra cá porque fica um custo altíssimo para importar”, ressalta Barbosa.

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