O corredor de rua profissional José Oberlan Galdino dos Santos, 30 anos, foi baleado com munição não-letal e ficou com ferimentos nas pernas em uma abordagem da Guarda Municipal de Fortaleza no domingo (3). Com o ferimento, o atleta está sem condição de treinar e cancelou a participação em competições.
Oberlan publicou em redes sociais fotos dos ferimentos nas pernas e um vídeo em que aparece um guarda municipal com uma arma longa em punho. É possível ouvir um dos amigos da vítima revoltado, questionando a motivação do tiro. Em determinado momento, um carro da Polícia Militar chega ao local e manda a testemunha parar a filmagem dos guardas.
A Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec) afirma que foi aberto um processo administrativo disciplinar na Corregedoria, órgão independente da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), para investigar denúncia de agressão a um jovem. O órgão não comentou o motivo de o guarda ter disparado o tiro no atleta.
“É importante frisar que a Sesec e a GMF não corroboram com nenhum tipo de violência, pois são instituições pautadas na legalidade e respeito à dignidade humana, e que o uso moderado da força ou armamento de baixa letalidade é empregado apenas em casos necessários para garantir a própria integridade ou a da população”, diz a nota da Sesec.
Ainda de acordo com a Secretaria, “todos os agentes da GMF passam por capacitações práticas e teóricas de caráter continuado, na área de segurança pública, sobre o uso moderado da força, abordagem humanizada e direitos humanos”.
A Polícia Civil informa que foi registrada, no domingo (3), no 13º Distrito Policial, uma ocorrência sobre a abordagem em via pública, realizada por guardas municipais, no Bairro Prefeito José Walter.
De acordo com a Secretaria da Segurança, durante o procedimento, as partes envolvidas foram ouvidas. “O inquérito foi instaurado no 13º DP e transferido para o 8º DP, unidade policial de circunscrição do fato e que está à frente das investigações.”
Abordagem
Segundo Oberlan, no dia da abordagem, ele saiu do trabalho como vigilante de um órgão municipal e iria jogar futebol com outros dois amigos. Durante o trajeto para o campo, o veículo que os homens estavam foi parado por um carro da Guarda.
“Paramos, eles fizeram busca de arma, não encontraram nada. Depois que fui revistado e ia me virando o guarda efetuou o disparo na minha perna”, relembra o corredor.
Segundo o homem, os amigos ficaram assustados e perguntaram a motivação do tiro. “Ele [guarda] falou que atirou porque na abordagem olhei para trás e ri, mas eu não fiz isso”, disse vítima.
Após o tiro, Oberlan e os amigos foram levados pela equipe da Guarda Municipal ao 13º Distrito Policial, delegacia plantonista da região, no Bairro Cidade dos Funcionários.
“O guarda quis registrar denúncia contra mim por desacato, mas o delegado viu os ferimentos e disse que só iria fazer o registro depois que ele me socorre-se. Então os guardas municipais me levaram para a Upa do Jangurussu, onde foi feita a limpeza dos ferimentos e um curativo”, afirma o corredor.
Após o socorro, a vítima e os amigos retornaram a delegacia, foram ouvidos pelo delegado e liberados. Oberlan fez o exame de corpo de delito e denunciou os agentes na ouvidoria da Guarda Municipal.
Competições adiadas
Corredor desde os 13 anos, Oberlan se divide entre os treinos e o trabalho como vigilante. Por conta dos ferimentos nas pernas causados pelo tiro, ele teve que adiar a participação em competições que ocorrem este mês no Ceará.
Além disso, o corredor sente fortes dores nos ferimentos, mas mesmo assim segue trabalhando, por medo de perder o emprego.
“A minha perna está muito inflamada, mas como entrei na empresa agora não quero colocar atestado, então fui trabalhar mesmo assim. Também não consigo treinar para as competições”, lamenta o atleta.