Encélado, uma das 82 luas de Saturno, está no radar dos astrônomos: ela é uma das principais candidatas a abrigar vida extraterrestre. Já foi encontrado um oceano salgado em sua superfície e acredita-se que essa lua mantenha temperaturas hospitaleiras em seu interior, capaz de sustentar um ecossistema marinho alienígena. Apesar de tantos pontos positivos e favoráveis a essa situação, encontrar vida em Encélado não é nada fácil.
A lua é cercada por uma concha de gelo de aproximadamente 5 quilômetros de espessura em seu ponto mais fino, e o oceano abaixo dela tem 10 quilômetros de profundidade. Esses números, na Terra, já trariam uma dificuldade enorme, imagine em uma lua a meio Sistema Solar de distância. Felizmente, novas pesquisas sugerem que as plumas de água salgada, que aparecem na superfície lunas, podem ser um caminho para essa empreitada, mesmo que não haja tanta vida por lá.
O biólogo evolucionista Regis Ferrière, da Universidade do Arizona, disse que “ao simular os dados de uma espaçonave que coletaria apenas as plumas, nossa equipe agora mostrou que essa abordagem seria suficiente para determinar com confiança se há ou não vida dentro do oceano de Encélado sem realmente ter que sondar as profundezas da lua. Esta é uma perspectiva emocionante.”
Apesar de ser muito diferente da Terra, o fundo do oceano de Encélado pode guardar semelhanças com o que é visto por aqui. A vida no fundo dos oceanos não depende da fotossíntese, e sim do aproveitamento da energia oriunda das reações químicas.
Quando a sonda Cassini voou através dessas plumas há mais de uma década, várias moléculas foram detectadas, inclusive algumas relacionadas às fontes hidrotermais da Terra: metano e menores quantidades de dihidrogênio e dióxido de carbono. Estes compostos podem estar ligados a archaea, produtoras de metano aqui na Terra. “Em nosso planeta, as fontes hidrotermais estão repletas de vida, grandes e pequenas, apesar da escuridão e da pressão insana”, disse Ferrière.
Fundo do mar de Encélado pode ser semelhante ao fundo do mar terrestre
Diante dessa possibilidade, os pesquisadores então modelaram em um estudo a probabilidade de que as células e outras moléculas biológicas fossem ejetadas através das aberturas e quanto desses materiais seriam encontrados.
“Ficamos surpresos ao descobrir que a abundância hipotética de células equivaleria apenas à biomassa de uma única baleia no oceano global de Encélado”, disse o biólogo evolucionista Antonin Affholder, agora da Universidade do Arizona, mas que estava na Universidade Paris Sciences et Lettres, na França, no momento da pesquisa. Mesmo assim, pode não haver material biológico suficiente para ser coletado por uma espaçonave especializada, e a chance de uma célula sobreviver à viagem através do gelo e ser vomitada para o espaço é provavelmente muito pequena.
“Considerando que, de acordo com os cálculos, qualquer vida presente em Encélado seria extremamente escassa, ainda há uma boa chance de nunca encontrarmos moléculas orgânicas suficientes nas plumas para concluir inequivocamente que ela está lá”, diz Ferrière. Enquanto a espaçonave correta ainda precisa ser definida, os cientistas devem investigar essas e outras questões para que a missão possa ser bem-sucedida e o mais completa possível.