Filmes são um meio muito importante para informar a população de um jeito rápido e fácil. Longas como Zona de Interesse, 1917, Infiltrados na Klan, Carandiru e Filadélfia são apenas alguns dos inúmeros filmes que recontam histórias importantes para a conscientização da população. Em 2011, a Coreia do Sul também recebeu um filme assim, que mudaria não somente como o país trataria situações parecidas, como também constituiria uma lei e reabertura do inquérito de um crime.
Em Silêncio é adaptação do livro The Crucible, por Gong Ji-young, que conta o crime que aconteceu na Escola Gwangju Inhwa, local para estudantes com deficiência auditiva fundada em 1961. Por mais de 40 anos, estudantes da instituição foram abusados de diversas formas por professores e todos que trabalhavam lá, mesmo que não participassem ativamente desses crimes.
O longa segue o professor Kang In-ho, o novo contratado para a aula de artes, mas logo descobre que ele é o único do local que realmente sabe e entende libras, e praticamente o único que realmente se preocupa com os alunos que frequentam e moram na instituição. Logo ele também percebe gritos durante a noite, assim como o estranho e evasivo comportamento de alunos. O que ele não contava era que todos os estudantes sofriam nas mãos de superiores, mais especificamente abusos sexuais.
Mesmo recorrendo às forças policiais e até o jurídico, Kang In-ho e todos os alunos que sofreram de algum abuso estavam sozinhos, já que o crime era encoberto por toda a cidade. Não só isso, mas as famílias das próprias crianças também sofreriam nas mãos dessas pessoas, que acabaram oferecendo dinheiro pelo silêncio deles em relação aos crimes cometidos.
Há uma frase muito impactante no longa, em que um garoto fala “Quem perdoou ele? [seu abusador] Eu não o perdoei!” O crime tem inúmeras camadas e é um aviso não somente para a Coreia do Sul mas também para todos outros países, em que muitas vezes abandonam de diversas formas as vítimas de casos como esse ou de violência doméstica. Em “Em Silêncio”, a polícia, o jurídico, os pais e o país inteiro abandonaram essa crianças. As crianças foram silenciadas.
Os mandantes do crime foram presos com uma pena leve, já que ninguém conseguiria “provar” que as crianças estariam falando a verdade, mas logo foram liberados para regime semiaberto. Não só isso, mas o caso foi totalmente prejudicado por conta do relacionamento entre o júri e os acusados, o que acarretou na pena leve dos criminosos.
Após o lançamento do filme em 2011, seis anos após o julgamento, reabriram o inquérito e a Coreia do Sul instituiu a Lei Dogani, removendo qualquer prazo de prescrição para agressão sexual contra crianças menores de 13 anos e pessoas com deficiência. Também elevou a pena máxima por violação de crianças pequenas e pessoas com deficiência para prisão perpétua e aboliu uma cláusula que exigia que as vítimas provassem que eram “incapazes de resistir” devido à sua deficiência.
Em Silêncio está disponível no catálogo da Netflix.