Duas pessoas com Alzheimer afirmaram publicamente que interromperam ou mesmo reverteram a progressão da doença apenas por meio da adoção de mudanças simples, mas rigorosas, no seu estilo de vida.
No novo documentário da CNN norte-americana “The Last Alzheimer’s Patient” (“O Último Paciente de Alzheimer”, em tradução livre), uma das pessoas, Cici Zerbe, relatou se sentir “muito melhor” e ter tido uma “reversão de sintomas” depois de mudar sua dieta para uma baseada em vegetais e adotar uma rotina regrada de exercícios físicos regulares, meditação, ioga e apoio em grupo.
Ela integra um estudo clínico liderado por Dean Ornish, fundador e presidente do Preventive Medicine Research Institute e professor de clínica médica na Universidade da Califórnia (EUA).
Ornish tem explorado os impactos de mudanças significativas no estilo de vida na demência precoce e no comprometimento cognitivo leve devido à doença de Alzheimer. Seu estudo está previsto para ser publicado em junho deste ano no periódico Alzheimer’s Research & Therapy.
E quando se tem risco genético de Alzheimer?
Outro participante do estudo, Simon Nicholls igualmente compartilhou sua experiência, que foi muito semelhante à de Cici Zerbe.
Detentor de duas cópias do gene APOE4, conhecido por aumentar dramaticamente o risco de Alzheimer, Simon, de 55 anos, observou melhorias dramáticas após promover uma revisão no seu estilo de vida.
“Estava muito preocupado”, relatou Simon, em frente às câmeras, a Sanjay Gupta, neurocirurgião e correspondente médico-chefe da CNN. “Tenho um filho de três anos e outro de oito. É realmente importante para mim, à medida que envelheço, tentar estar ao lado deles no futuro”, disse o participante do estudo.
“Há muitas mudanças no estilo de vida que você pode fazer para, com sorte, empurrar a doença para trás e dar a si mesmo mais tempo, que é tudo o que precisamos até encontrarmos uma cura”, continuou Simon, na entrevista.
As experiências anteriores com demência em sua família não foram muito boas. Sua mãe morreu do que se supunha ser Alzheimer aos 70 anos, mas nos últimos dez anos de sua vida, “ela apenas ficou sentada em uma cadeira, balançando-se, enquanto tomava cerca de 14 medicamentos”, disse ele. “Prefiro ter um período de saúde mais longo e ir rapidamente.”
“Simon estava como se o ceifador [ser encapuzado, de manto preto e foice, que simboliza a morte] estivesse espiando por cima de seu ombro”, relatou à CNN o neurologista preventivo Richard Isaacson, que supervisionou o caso dele.
Isaacson disse que ficou surpreso ao ver os biomarcadores de Alzheimer de Simon desaparecerem em pouco mais de um ano.
Qual foi a mudança de estilo de vida?
O regime de Simon começou com a prescrição de tirzepatida, um componente do Mounjaro, uma espécie de primo rico do Ozempic (semaglutida). O medicamento foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em setembro do ano passado para tratamento de diabetes tipo 2, mas também é utilizado no tratamento de obesidade. Apesar de ainda não ser encontrado nas farmácias brasileiras, o Mounjaro é vendido nos EUA.
Além de tomar injeções (de tirzepatida) e se submeter a novas restrições alimentares (eliminação de açúcar, álcool, alimentos ultraprocessados, mudança para uma alimentação baseada em vegetais), Simon também adotou uma rotina séria de exercícios, incluindo treinamento de força. Suas manhãs começavam com uma combinação de caminhada, corrida e ciclismo.
“Quando vi Simon pela primeira vez, ele tinha um pouco de barriga, como a maioria dos homens na casa dos 50 anos. Quando o vi após nove semanas, fiquei surpreso. Ele estava totalmente em forma e musculoso”, disse o neurologista.
“Adoro caminhar todas as manhãs, ao nascer do sol, durante uma hora e meia, ouvindo um podcast. Dou 10 mil passos ou mais todos os dias. Sou muito consistente”, contou Simon. “Também faço um treino completo muito lento, de corpo inteiro, com pesos, três vezes por semana durante uma hora.”
Nessas nove semanas, ele perdeu 9 kg e ganhou músculos.
Dieta mediterrânea é indicada
Estudos sugerem que uma alimentação adequada é essencial para a saúde mental e que os alimentos podem ter um importante papel no retardo da progressão e na prevenção de doenças relacionadas ao cérebro.
Em 2006, por exemplo, uma pesquisa feita pela Universidade Columbia (EUA) analisou 2,2 mil pessoas por quatro anos e descobriu que a dieta mediterrânea pode reduzir os riscos de Alzheimer em até 40%.
Esse tipo de dieta é rica em peixes, azeite, amêndoas, grãos integrais, nozes, tomate e espinafre. Ela ajuda prevenir ou retardar a doença, porque os alimentos presentes nesse plano alimentar contêm ômega 3, que atua no cérebro, melhorando a concentração, a memória, o aprendizado, a motivação, o humor e a velocidade de reação.
A dieta também tem vitaminas, sais minerais e substâncias antioxidantes, que protegem as células sadias do organismo da ação oxidante dos radicais livres (moléculas responsáveis pelo envelhecimento).
Outra pesquisa mais recente, realizada em 2016 por pesquisadores da Universidade Rush (EUA), comprovou que a dieta MIND também pode reduzir o risco de a pessoa desenvolver Alzheimer.
Esse plano alimentar prioriza o consumo diário de vegetais, nozes, feijões, peixes, aves, grãos integrais e azeite. A recomendação é evitar carnes vermelhas, manteiga, margarina, queijos, doces, frituras e fast food.
Segundo os cientistas, que observaram 900 pessoas por cinco anos, os seguidores da dieta MIND têm 53% menos riscos de desenvolver Alzheimer e ainda foram avaliados cognitivamente como se fossem 7,5 anos mais jovens.
É importante ressaltar que não é apenas a dieta que vai prevenir ou retardar a doença. Praticar exercício físico, ler, evitar o tabagismo e o excesso de álcool também postergam o aparecimento da demência. O ideal é deixar o cérebro ativo, de todas as formas possíveis.