Sob pressão da manutenção em alta da Selic – a taxa básica de juros, a inadimplência das empresas brasileiras segue sem cair há um ano no Brasil. No caminho inverso, o valor da dívida empresarial em atraso no país subiu quase R$ 21 bilhões. O cálculo foi feito considerando dados de pesquisas do Serasa Experian entre abril de 2023 e abril de 2024.
Neste período, o número de empresas com CNPJ negativado no país alternou entre 6,5 milhões e 6,7 milhões, se mantendo nesta última marca desde o início deste ano. Somadas as dívidas de todas as organizações negativadas, o valor em atraso apurado pela Serasa, em abril deste ano, era R$ 138,2 bilhões. No mesmo mês em 2023, as contas não pagas contabilizaram R$ 117,5 bilhões.
“É um valor que subiu bem acima da inflação, sendo um dos reflexos do agravamento da situação financeira das empresas”, destaca o economista da Serasa, Luiz Rabi. Para ele, a manutenção em um patamar elevado do número de empresas em inadimplência é um fator de preocupação. “É como se o elevador de um edifício tivesse subido ao vigésimo andar e permanecer parado lá. Não está piorando, mas também não está melhorando. Isso é preocupante”, argumenta o economista.
O endividamento, segundo ele, teve início após a fase aguda da pandemia e se mantém alto para empresas e consumidores. A última pesquisa da Serasa identificou 73,4 milhões de brasileiros com o nome negativado. O cenário é diretamente impactado pela Selic, atualmente em 10,50%. A taxa, no último ano, chegou aos 13,75%.
Em maio, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, em ata, não indicou uma possibilidade de novos cortes da Selic nos próximos meses por preocupações com as expectativas de inflação e o cenário macroeconômico. “Os juros em alta têm um impacto negativo sobre o custo da dívida, fazendo com que a economia ande mais lentamente”, opinou Luiz Rabi.
Como superar a inadimplência?
Desafio para 6,7 milhões de empresários, superar a inadimplência não é tarefa fácil e que depende de outros fatores, além da redução da taxa básica de juros. Um deles é, justamente, a diminuição no número de consumidores endividados. “É uma cadeia, porque se o consumidor não pagar as contas dele as empresas e os prestadores de serviço vão ficar em dificuldade financeira porque o dinheiro não entrou no fluxo que deveria”, observou Luiz Rabi.
O especialista citou que programas como o Desenrola Pequenos Negócios aliviam, mas não resolvem todo o problema. Ele sugere que os empresários também procurem os credores para renegociar os débitos, tentando abater os juros incluídos nos valores. “Ter uma boa gestão de caixa, tentando cortar despesas, já que a receita não está aumentando tanto, é uma alternativa para tentar obter um pouco mais de folga financeira”, sugeriu Rabi.
Estados com maiores dívidas
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os três estados com os maiores níveis de inadimplência entre os empresários. No estado paulista, são 2,1 milhões de CNPJs negativados, enquanto há 632 mil empresários mineiros com as contas em atraso e 609 mil cariocas na mesma posição.
Empresas do setor de serviços lideraram o ranking de inadimplentes em abril, representando 55,4%, seguidas pelo comércio com 36%. A inadimplência ocorre mesmo com o bom desempenho no primeiro trimestre deste ano, quando os setores foram responsáveis pelo crescimento do PIB nacional.
“O grande problema é que a inadimplência é um problema de médio e longo prazo. Para que eles possam sair da inadimplência, pagando ou negociando com seus credores, não basta apenas um trimestre positivo”, arrematou o economista da Serasa.