Pesquisadores apontaram pela primeira vez uma associação entre o autismo e alterações no microbioma intestinal de crianças, identificando diferenças substanciais no conjunto de microrganismos do tipo entre crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro autista (TEA) e seus pares neurotípicos.
A pesquisa, publicada nesta semana na revista científica “Nature Microbiology”, NÃO prova uma relação de causa-efeito, ou seja, não elimina a possibilidade de que existam outras explicações plausíveis para a associação com o quadro.
Segundo os pesquisadores, no entanto, essa descoberta poderia facilitar testes diagnósticos mais simples para pessoas que vivem no espectro.
Atualmente, o diagnóstico de autismo depende principalmente das informações dos pais sobre o comportamento da criança e da observação de profissionais, um processo que pode levar anos e que vem ficando cada vez mais comum.
No Estados Unidos, por exemplo, o número de diagnósticos aumentou significativamente nos últimos 20 anos, passando de 1 caso a cada 150 crianças para 1 a cada 36. No Brasil, mais de 2 milhões de pessoas já foram identificadas com TEA.
Como a pesquisa foi feita
No estudo, os pesquisadores analisaram amostras de fezes de 1.627 crianças de um a 13 anos, incluindo algumas com autismo, para investigar diferenças na microbiota intestinal.
Com isso, eles identificaram alterações significativas em várias espécies de bactérias, vírus, fungos e outros micróbios entre as crianças autistas e as não autistas.
Usando inteligência artificial, eles conseguiram identificar crianças autistas com até 82% de precisão com base em 31 micróbios e funções biológicas no sistema digestivo.
Por isso, os cientistas apontam que esses 31 marcadores podem ser úteis para diagnosticar o transtorno de forma mais precisa em diferentes grupos de pessoas.
Limitações do estudo
Os pesquisadores destacaram algumas limitações na pesquisa, como o fato de que os dados não permitem determinar se as diferenças no microbioma intestinal causam o autismo ou se são consequência de dietas e outros fatores ambientais associados às crianças que vivem no espectro.
Além disso, numa análise independente publicada na mesma revista, um grupo de cientistas renomados destacou que a pesquisa precisa ainda ser replicada por outros grupos e em diferentes populações para validar plenamente os resultados.
Ao g1, o pesquisador Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), que realiza pesquisas avançadas sobre autismo e outras doenças neurológicas também apontou para a limitação da baixa diversidade da amostra e da análise estatística limitada com um grupo pequeno de crianças.
“Agora pode auxiliar em fechar o diagnóstico, junto a análise médica especializada e exames genéticos”, acrescentou.