Pragas descontroladas, meses sem chuva e lavouras destruídas: essa é a nova realidade para os cafeicultores brasileiros, que enfrentam os efeitos do aquecimento global e das ondas de calor.
“É uma condição muito severa, como nunca vimos antes”, diz Pedro Berengani, produtor de Cerqueira César (SP).
A série “PF: prato do futuro” revelou como produtores estão buscando soluções, como o plantio de café sob árvores, para mitigar os danos.
Café em risco com o aquecimento global
O café, assim como outras culturas perenes, está entre os alimentos mais vulneráveis ao aumento da temperatura. O momento mais crítico é a florada, que ocorre entre setembro e novembro. Altas temperaturas e seca podem causar o aborto floral, reduzindo drasticamente a produção.
Com o aumento de 1°C desde os níveis pré-industriais, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o cenário já é preocupante. Entre 2030 e 2050, espera-se um aquecimento de mais 1,5°C, impactando diretamente o café arábica, que suporta temperaturas de 18°C a 22°C.
“Nos últimos 34 meses, tivemos temperaturas muito acima da média e seca prolongada”, afirma Ana Paula Cunha, do Cemaden.
Produção nacional já sente os impactos
A safra atual teve queda de 1,9% em relação a 2023, segundo a Conab, devido à estiagem e ao calor nas fases críticas dos frutos. Em estados como São Paulo e Minas Gerais, tradicionais na produção, as áreas aptas para cultivo estão diminuindo.
Projeções da FGV Agro indicam que, com o aumento de 3°C, 76% das terras em Minas Gerais e 69% em São Paulo se tornarão impróprias para o café.
Enquanto isso, o Sul do Brasil pode ganhar relevância, mas enfrenta desafios como falta de tradição cafeeira e preferência por culturas como soja e milho.
Preços mais altos e menor acesso
O aumento no consumo global de café, somado à redução da área de cultivo, eleva os preços e pode limitar o acesso à bebida. Além disso, o clima afeta a qualidade do grão.
Marcelo Gasparoto, especialista em torrefação, explica: “Cafés dessa safra estão difíceis de torrar devido à menor quantidade de água nos grãos.”
Por outro lado, pesquisas estão em andamento para desenvolver variedades mais resistentes e técnicas de manejo sustentável, que podem ajudar a preservar a produção.