A Morte de Atriz de Doramas Expõe Cultura Cruel Contra Celebridades na Coreia do Sul

A morte de Kim Sae-ron reacende o debate sobre a pressão das celebridades coreanas. Cyberbullying e exclusão social são perigos reais da indústria do entretenimento.

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A morte da atriz Kim Sae-ron, em um aparente caso de suicídio, reacendeu as críticas ao setor de entretenimento da Coreia do Sul, conhecido por criar estrelas mas também por submetê-las a uma pressão imensa.

O Caso de Kim Sae-ron e o Impacto do Cyberbullying

Kim Sae-ron tinha 24 anos quando morreu em sua residência, em Seul, no dia 16 de fevereiro. A polícia ainda não divulgou mais detalhes sobre o caso, mas sua morte revelou um padrão preocupante dentro da indústria do entretenimento sul-coreano.

Desde sua condenação por dirigir embriagada em 2022, a atriz sofreu ataques constantes. A imprensa destacou seu nome em coberturas negativas, enquanto discursos de ódio online ampliaram sua exclusão do meio artístico. Especialistas apontam que situações como essa ocorrem com frequência, levando celebridades a enfrentarem sérias consequências psicológicas e, em alguns casos, a tirarem a própria vida após campanhas de difamação nas redes sociais.

Mesmo com a repercussão do caso, analistas afirmam que são poucas as chances de mudanças significativas na indústria. O entretenimento sul-coreano se mantém como um dos mais populares do mundo, com mais de 220 milhões de fãs globalmente. No entanto, esse sucesso esconde um lado obscuro, onde as celebridades sofrem pressão extrema para atender às expectativas públicas.

A Cultura da Pressão e as Consequências na Sociedade Coreana

A Coreia do Sul registra uma das mais altas taxas de suicídio entre países desenvolvidos. Embora a taxa geral tenha diminuído, entre jovens na faixa dos 20 anos, os números continuam a crescer.

As celebridades enfrentam uma carga ainda maior. Além da exigência de manter uma imagem impecável, precisam lidar com “superfãs” obsessivos que podem impulsionar ou arruinar suas carreiras. Pequenos erros são amplificados, resultando no ostracismo público. No caso de Kim Sae-ron, sua impopularidade cresceu tanto que suas cenas foram removidas de produções como Cães de Caça, da Netflix.

O crítico cultural coreano Kim Hern-sik destaca que a punição social ultrapassa as sanções legais. “Não basta que as celebridades sejam punidas pela lei. Elas se tornam alvos de críticas implacáveis”, declarou à BBC.

Casos semelhantes ocorreram com estrelas do K-pop, como Sulli e Goo Hara, que cometeram suicídio em 2019 após sofrerem perseguições online. Esses episódios demonstram como o cyberbullying e as expectativas culturais podem ser devastadores.

O Lucro por Trás do Cyberbullying

Para alguns, ataques online se tornaram uma fonte de lucro. Kim Hern-sik explica que “YouTubers ganham visualizações, fóruns obtêm engajamento e veículos de notícias aumentam o tráfego” ao explorar escândalos. Esse ciclo cria incentivos financeiros para perpetuar a cultura de difamação.

O pai de Kim Sae-ron acusou um YouTuber de contribuir para a morte da filha, alegando que os vídeos prejudiciais causaram um sofrimento emocional profundo. Meios de comunicação locais também receberam críticas por fomentar a animosidade pública ao divulgarem rumores sem verificação.

O grupo Citizens’ Coalition for Democratic Media exigiu o fim do ciclo de difamação promovido pela mídia. Na Jong-ho, professor de psiquiatria da Universidade de Yale, comparou a pressão sofrida pelas celebridades a uma versão real da série Round 6. “Nossa sociedade abandona aqueles que tropeçam e segue em frente como se nada tivesse acontecido. Quantas vidas mais serão perdidas antes de pararmos com essa vergonha destrutiva?”, questionou.

Diferenças no Tratamento de Figuras Públicas

Nem todas as figuras públicas enfrentam a mesma severidade de julgamento. Políticos, como Lee Jae-myung, já foram condenados por dirigir embriagados, mas reconstruíram suas carreiras. Para artistas, a recuperação se torna muito mais difícil, pois sua imagem de “perfeição” é essencial para o sucesso profissional.

Jeff Benjamin, colunista de K-pop, observa que no Ocidente, escândalos nem sempre são destrutivos. “Em Hollywood, controvérsias podem até agregar um certo ‘charme’ de estrela do rock. Já na Coreia do Sul, é extremamente difícil para artistas darem a volta por cima”, afirmou.

O entretenimento sul-coreano tem investido em iniciativas para melhorar a saúde mental dos artistas, mas a eficácia dessas medidas ainda levanta dúvidas. Para que uma mudança real aconteça, é essencial eliminar os incentivos financeiros que sustentam essa cultura invasiva.