No documento enviado a Aras, Moro diz que o porteiro pode ter se confundido ou ter sido manipulado por terceiros para prejudicar o presidente.
“É ainda possível que o depoente em questão tenha simplesmente se equivocado ou sido utilizado inconscientemente por terceiros para essas finalidades”, afirmou o ministro.
No dia do crime, o porteiro trabalhava na guarita que controla os acessos ao condomínio. Às 17h10 da data do crime, ele escreve no livro de visitantes o nome de quem entra, Élcio, o carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa que o visitante iria, a de número 58.
Élcio é acusado pela polícia de ser o motorista do carro usado no crime.
O Jornal Nacional apurou o teor de suas declarações. O porteiro contou que, depois que Élcio se identificou na portaria e disse que iria pra casa 58, ligou para a casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar.
Disse também que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do “Seu Jair” – ele confirmou isso nos dois depoimentos.
O porteiro explicou que, depois que Élcio entrou, ele acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o carro tinha ido para a casa 66 do condomínio. A casa 66 era onde morava Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle e Anderson.
Lessa é apontado pelo Ministério Público e pela Delegacia de Homicídios como autor dos disparos.
O porteiro disse, em depoimento, que ligou de novo para a casa 58, e que o homem identificado por ele como “Seu Jair” teria dito que sabia para onde Élcio estava indo.
No documento enviado à PGR, Moro disse que, como a reportagem da TV Globo mostrou, Bolsonaro estava na Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia 14 de março. Isso, segundo o ministro, mostra “inconsistência” no depoimento do porteiro.
“A inconsistência sugere possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro ou eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do Presidente da República no crime em questão, o que pode configurar crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa, neste último caso tendo por vítima o Presidente da República, o que determina a competência da Justiça Federal e, por conseguinte, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal”, afirmou o ministro.
O pedido de Moro foi encaminhado à PGR depois de o presidente Jair Bolsonaro ter dito que solicitaria essa providência ao ministro da Justiça.
“Estou conversando com o ministro da Justiça o que pode ser feito para tomar, via Polícia Federal, o depoimento novamente desse porteiro. Agora pela PF, para esclarecer de fato. De modo que esse fantasma que querem botar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez”, afirmou o presidente em Riad, na Arábia Saudita, onde participa de encontros com autoridades locais.
Questionado por jornalistas o que Moro pode fazer no caso, o presidente respondeu: “Com toda certeza, tomará a medida cabível, que é pedir uma investigação dos que investigavam o caso Marielle através do Ministério Público”.
Bolsonaro também disse que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, conduziu o processo para atingir o presidente da República.
“É uso político por parte do governador Witzel que agiu, no meu entender, criminosamente, não só conduzindo para onde queria o inquérito bem como tendo acesso a um processo que tramitava em segredo de justiça. No meu entender um ato criminoso do governador do rio de janeiro que tem ambições políticas”, concluiu o presidente.