DEPRESSÃO E ANSIEDADE: A SÍNDROME QUE ATINGE 20 MILHÕES DE BRASILEIROS

Pesquisa inédita indica que um em cada cinco trabalhadores do país sofre de 'burnout', doença relacionada a estresse permanente do trabalho

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Chega uma hora em que o estresse crônico com o trabalho não passa. A sensação de falta de energia ou de exaustão é constante. Todos os pensamentos sobre a vida profissional são negativos, cínicos, distantes. Um sentimento de impotência toma conta, e a produtividade vai lá para baixo. Não se trata de “mimimi” de jovens despreparados para os rigores da vida adulta, tampouco de um esgotamento que só atinge altos executivos de agendas extenuantes. A descrição acima é a do “burnout” (“queima total”, numa tradução livre), um mal de nossos tempos que, neste ano, passou a ser classificado como síndrome pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já atinge quase 20 milhões de brasileiros, como indica uma pesquisa inédita da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), obtida com exclusividade por ÉPOCA.

“Muita gente diz que burnout é depressão, estresse ou ansiedade. No burnout, podemos ter tudo isso”, explicou a psiquiatra Carmita Abdo, professora de medicina e coordenadora do estudo da USP, que ouviu 6.070 pessoas com idades entre 21 e 65 anos, de diferentes cidades e classes sociais. “As áreas cerebrais afetadas são as mesmas. Mas a peculiaridade do burnout é que ele se desenvolve especificamente devido ao trabalho”, completou Abdo. A pesquisa constatou que um em cada cinco trabalhadores brasileiros sofre de burnout. Quando se levam em consideração também os que tiveram ao menos algum dos sinais, mas não “queima total”, fica-se diante de um quadro que atinge metade da força de trabalho do país.

Como trabalho sempre foi sinônimo de algum grau de estresse, uma das interrogações lançadas pela investigação da USP é justamente o que estaria causando esses índices. Nas últimas cinco semanas, ÉPOCA ouviu médicos, psicólogos, psicanalistas, especialistas em mercado de trabalho e vítimas do esgotamento para entender o motivo dessa síndrome de alcance mundial. A conclusão é que a rotina profissional piorou de tal maneira nos últimos anos — impulsionada por avanços da tecnologia, mudanças na sociedade e no mercado de trabalho e novas dinâmicas empresariais —, que acabou por abalar a saúde mental das pessoas.

Para Rosylane Rocha, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), não há dúvida de que a pressão aumentou. “Hoje é tudo ‘urgente’”, disse ela. A carga horária do trabalhador brasileiro se manteve estável em 40 horas semanais, segundo os dados do IBGE, mas a verdade é que esse número não capta as muitas mensagens de WhatsApp e e-mails de chefes e colegas que começaram a chegar fora do horário de expediente. “Todos estão dependentes e escravizados por aplicativos”, disse Rocha. Além disso, sistemas de metas para vários níveis de funcionários, raros há algumas décadas, hoje são mais comuns. Para adicionar um ingrediente brasileiro a um problema que é global, o momento do mercado de trabalho por aqui também não tem ajudado. Há três anos, as taxas de desemprego estão em dois dígitos, o que aumenta a tensão nas empresas.

Leia a matéria completa:

O impacto do burnout sobre 20 milhões de brasileiros

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