A prevalência da obesidade no mundo é cada vez maior e as comorbidades relacionadas ao sobrepeso são as mesmas que desencadeiam a maior parte dos quadros de doença renal: diabetes e hipertensão.
“Na maior parte das vezes, a adiposidade faz com que haja uma piora dessas comorbidades (diabetes e hipertensão), que, por sua vez, são as principais causas da doença renal crônica”, destaca a médica nefrologista Andrea Pio de Abreu, professora da Faculdade de Medicina da USP e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Nefrologia.
Ainda, como o excesso de peso está fortemente ligado a maus hábitos alimentares, com alto consumo de sódio e carboidratos, o risco de desenvolver quadros clínicos de cálculo renal é mais alto em pessoas obesas.
Realizada pelo Ministério da Saúde, pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2018 aponta que um a cada cinco brasileiros é obeso. Mais da metade dos entrevistados têm excesso de peso – um aumento de 30,8% desde 2006, quando foi feito o primeiro levantamento.
Insuficiência renal
A doença ou insuficiência renal crônica consiste na perda progressiva das funções renais, podendo levar à paralisação dos rins. Nos casos mais graves, é preciso fazer hemodiálise, que é um procedimento de filtragem do sangue, para compensar a perda dos órgãos responsáveis por esse trabalho no organismo. Dependendo do quadro do paciente, pode ser necessário um transplante.
A médica Andrea Pio de Abreu explica que, quando existe obesidade, uma série de substâncias são liberadas no metabolismo, causando alterações que resultam na piora de doenças cardiovasculares, as quais acabam prejudicando os rins de forma indireta.
Mas também pode haver dano direto ao funcionamento dos órgãos quando o excesso de gordura afeta uma estrutura interna dos rins chamada glomérulo, aumento o risco de ocasionar o que se chama de glomerulomegalia (o aumento dessa estrutura). “Isso leva a uma maior permeabilidade dos rins, então passam pelos glomérulos substâncias que não deveriam passar, como a proteína, que acaba sendo eliminada pela urina”, explica a nefrologista.
Obesos graves
Embora haja evidências da associação entre obesidade e doenças renais, nem todo o obeso vai desenvolver insuficiência renal. De acordo com a endocrinologista Jacqueline Rizzolli, do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), a perda de função renal é mais comum em obesos graves, com 40 ou mais quilos de sobrepeso.
“A gordura intra-abdominal visceral, que fica perto dos órgãos internos, pode ativar um sistema que faz com que os rins trabalhem excessivamente, atingindo graus progressivos de perda de funcionamento devido à sobrecarga”, explica Jacqueline.
Segundo a médica, quando descoberto precocemente, é possível reverter esse quadro somente com a perda de 10 a 15% do peso e alguns cuidados alimentares, como reduzir o consumo de sódio e alimentos industrializados. A perda de peso reduz a sobrecarga, podendo reabilitar as funções renais sem a necessidade de outras intervenções.