Baseada em dados de localização de celulares, uma pesquisa mostra que menos de 40% da população do Acre tem seguido as recomendações do governo do estado, que decretou calamidade pública e pediu o isolamento social para ajudar a conter a contaminação pelo novo coronavírus.
Os dados foram divulgados pelo professor de Teoria Geral do Estado e Ciência Política de uma universidade particular de Rio Branco, Charles Brasil. Além disso, Brasil também compõe o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal do Acre (Ufac).
O levantamento foi feito pela In Loco, empresa de tecnologia que usa dados enviados por aplicativos parceiros para aferir deslocamentos dos usuários.
Com os dados analisados, a equipe do pesquisador constatou que a segunda-feira (13) registrou o menor índice de isolamento no estado desde o anúncio dos primeiros casos da doença confirmados no Acre.
“No dia 13 de abril, temos um índice de isolamento de 39,7%, ou seja, o mais baixo depois do dia 17 de março, o que pode sugerir uma hipótese de que as pessoas já estão relaxando o isolamento social”, destaca o estudo.
Nesta primeira fase, o pesquisador diz que foram analisados os dados de todo o estado, mas que pretende depois fazer a análise em cada cidade.
“Em breve queremos poder também fazer essa análise em Rio Branco e em cada cidade do estado que tiver tendo o coronavírus. O levantamento é feito a cada dois dias, então a informação que temos é de segunda [13]. E vemos a queda abrupta desse índice e isso tem sido uma constante”, preocupa-se.
Isolamento chegou em 69%
Porém, nem sempre foi assim. E março, com o anúncio dos primeiros casos, o estudo mostra que houve uma mudança comportamental. A partir do dia 17 de março, houve um aumento no índice de isolamento social, chegando a 69% no dia 22 de março.
A conclusão da pesquisa é que, mesmo com o decreto e a fiscalização, é possível comprovar que serviços não essenciais ainda interferem nesta movimentação.
“Durante os dias de segunda a sábado, mais da metade da população do Acre se encontra em risco eminente de contrair a doença e contaminar involuntariamente as pessoas por Covid-19”, pontua a pesquisa.
Pela análise, constata-se que grande parte da população continua seguindo uma rotina normal, o que pode interferir nos próximos dados da doença no estado.
“Em resumo, os acreanos estão levando uma vida normal, como se nada estivesse acontecendo e não estão cumprindo a determinação do governador do isolamento. A gente corre o risco de uma crescente no número de contaminação e, consequentemente, de mortos”, avalia.
Brasil destacou ainda que, com a falta de testes e vacinas contra a doença, o isolamento ainda é a medida mais eficaz contra a disseminação do vírus e diz que relaxar as medidas de isolamento é arriscado.
“Se o governador abrandar o isolamento, corremos o risco desnecessário de aumentar ainda mais as contaminações e as mortes. Não se trata de alarde, muito menos de futurismo. É uma questão pragmática, baseada em dados. Como estamos em uma situação de contaminação comunitária, a lógica é: quanto mais pessoas se movimentando, mais pessoas infectadas e mais mortes acontecendo”, finaliza.
Números no Acre
Nos últimos dias, os casos confirmados do novo coronavírus têm aumentado consideravelmente no Acre, e, nesta terça-feira (14), chegou a 99 o número de pessoas diagnosticadas com Covid-19. Os dados são do boletim da Secretaria de Saúde.
O vírus já circulas em seis, das 22 cidades do estado e já matou três pessoas. De acordo com a Saúde, 48 pacientes não têm mais o vírus no organismo e são considerados recuperados, sendo assim, 51 pessoas seguem em tratamento. Do total de pacientes com a doença, apenas sete estão hospitalizados.
A Saúde informou que recebeu 1.008 casos suspeitos, descartou 814, confirmou 99 e mais 95 seguem em análise. Todos os casos confirmados estão sendo acompanhados de perto pela equipe da Vigilância Epidemiológica no âmbito estadual e municipal.