“É uma classe média que depende muito do trabalho assalariado e que está sofrendo bastante por causa dessa crise”, afirma o diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini.
Pelo levantamento, a classe A – com renda média domiciliar de R$ 25.554,33 – deve ser a segunda mais prejudicada, com uma perda do potencial de consumo de 7%.
“Apesar de ser mais abastarda, a classe A sente muito o impacto dessa crise nos investimentos, como o recuo da bolsa de valores, por exemplo”, afirma Pazzini. “Essa população vai consumir menos diante da queda da rentabilidade (das aplicações financeiras).”
A única classe que deve apresentar um crescimento forte é a B2. Para esse grupo, o avanço esperado é de 9% – a alta, no entanto, é atribuída ao fato de muitos brasileiros terem migrado do estrato da B1, o que contribuiu para aumentar o potencial dessa classe. As demais vão ficar próximo da estabilidade.
Há um risco desse quadro ser ainda pior se as projeções mais pessimistas para a economia brasileira se confirmarem. Neste mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atualizou a sua previsão para a atividade econômica mundial. Para o Brasil, o órgão projeta uma recessão de 5,3%.
Nesse cenário, a perda do potencial de consumo será maior em todas os estratos em relação ao cenário-base e seguirá mais intenso para as famílias com renda domiciliar de R$ 3 mil. Em 2020, com uma recessão de 5,3%, a classe C1 poderá perder R$ 131 bilhões em potencial de consumo, uma queda de 14% em relação ao observado no ano passado.
Auxílio socorre os mais pobres
Com os estragos provocados pela pandemia na economia, a equipe econômica anunciou uma série de medidas para tentar mitigar os efeitos da crise. A mais importantes delas é um auxílio emergencial de R$ 600 – por três meses inicialmente – para trabalhadores informais, desempregados, contribuintes individuais do INSS e Microempreendedor Individual (MEI)
“As classes mais baixas nem sempre têm uma regularidade na renda e agora pode passar a ter ao menos de forma momentânea”, afirma o diretor-executivo da consultoria Plano CDE, Maurício Prado. “Nos lugares mais pobres, como no interior do Nordeste, o auxílio pode até trazer um boom de consumo.”
O auxílio também poderá englobar os beneficiários do Bolsa Família se o valor for mais vantajoso do que o oferecido pelo programa.
Um exercício da consultoria Tendências dá uma dimensão do impacto que essa ajuda pode representar no orçamento doméstico. As 13,1 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família recebem, em média, R$ 200 mensais. Com o auxílio, a estimativa é de que o valor recebido por elas suba para R$ 1 mil por mês.
“É claro que muitos que estão no Bolsa Família trabalham de maneira informal e deve estar perdendo a renda do trabalho, ficando só com esse benefício”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. “E na hora que a economia voltar e o benefício acabar, esse grupo vai sentir o baque.”
Consumo contribuiu para o crescimento
Ao todo, o levantamento da consultoria IPC Marketing indicou que o país deve perder R$ 30 bilhões em potencial de consumo, num cenário no qual a recessão é de 2%. Se a queda da atividade for de 5%, a redução será de R$ 161 bilhões.
A piora do quadro também marca uma inversão. Nos últimos anos, foi o consumo das famílias que mais contribuiu para o crescimento, ainda que tímido, da economia brasileira.
Desde 2017, o crescimento do consumo da famílias dentro do PIB tem sido de cerca de 2%. Neste ano, a Tendências prevê uma queda de 5%, o que vai contribuir negativamente para uma recessão de 4,1%, segundo o cenário da consultoria.