Com subnotificação de casos, número de mortes por Covid-19 em Manaus pode ser até 7 vezes maior

Em uma semana, mais de 200 pessoas foram sepultadas por óbito sem causa determinada, além de 395 por síndromes respiratórias ou suspeita de coronavírus.

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A quantidade de mortes por síndromes respiratórias e causas indeterminadas registradas durante a pandemia do novo coronavírus no Amazonas aponta que o número de pessoas que morreu por Covid-19 pode ser sete vezes maior do que o divulgado oficialmente. Entre os dias 21 e 28 de abril, o governo divulgou que ocorreram 118 óbitos em decorrência do novo coronavírus em Manaus, sendo que, neste mesmo período, 262 pessoas foram enterradas por causa indeterminada nos cemitérios públicos da capital.

Segundo a Prefeitura, dos 988 sepultamentos nos últimos sete dias, apenas 77 foram de casos confirmados de Covid-19. Além disso, 395 foram registrados por suspeita de Covid-19 ou síndromes respiratórias (como insuficiência respiratória e pneumonia), que podem ter sido provocadas pelo novo coronavírus.

Se todos as mortes – por causas indeterminadas e síndromes – se confirmassem por Covid-19, o número de óbitos em Manaus poderia ultrapassar a casa dos 700 na semana analisada, uma vez que os números de sepultamentos em cemitérios particulares não entraram na análise. Pelo menos 266 mortes que ocorreram dentro de casa no mesmo período, de acordo com a Prefeitura, também entram na contagem.

Conforme boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira (29) pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), 51 óbitos registrados no Amazonas estão em investigação pelo Laboratório Central de Saúde (Lacen-AM).

No mês passado, o Estado do Amazonas entrou em estado de alerta após registrar, entre novembro e março, 329 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS).

Embora seja comum o aumento de síndromes no período sazonal – de novembro a maio, durante o regime de chuvas – no último dia 19 de abril, o número de mortes pelo novo coronavírus no Amazonas já havia superado as mortes por SRAG, em 2019: foram 182 mortes por Covid-19 neste dia, enquanto no ano inteiro de 2019 o número de óbitos por SRAG chegou a 89.

O governo estadual admitiu que é possível que haja subnotificação de mortes por Covid-19 no Amazonas já que o Estado realiza testagem para o vírus apenas em casos graves da doença. As confirmações são realizadas por diagnóstico laboratorial de pacientes internados. Porém, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria das pessoas (cerca de 80%) apresenta sintomas leves da doença.

Com uma média atual de 100 sepultamentos por dia, enterros noturnos e conflitos sobre o sistema de agrupamento de caixões, a Prefeitura de Manaus estima que a situação ainda pode piorar. Segundo projeção divulgada pelo Poder Municipal, o número de enterros na capital pode chegar a 4,2 mil no mês de maio. No domingo (26), Manaus registrou o maior número de enterros desde o início da pandemia do novo coronavírus, com 140 sepultamentos.

Cemitério em Manaus realiza enterros durante a noite para atender demanda. — Foto: Chico Batata/Divulgação

A subnotificação de casos já havia sido alertada por um estudo elaborado pelo chefe do Departamento de Matemática da Ufam, professor Dr. Alexander Steinmetz – em conjunto com Prof. Dr. Sandro Bitar – que analisou os números da pandemia no estado.

No início de abril, Steinmetz afirmou ao G1 que quando o Amazonas chegasse a 2 mil casos confirmados, era possível que existissem, na realidade, entre 14 mil e 20 mil casos totais, incluindo assintomáticos e não testados. “É uma estimativa de todos os casos na população. Muitos casos passam por debaixo do radar porque a pessoa nem percebe que tem a doença”, disse.

Mortes por insuficiência respiratória

O ex-sogro de Jean Carlos morreu, aos 70 anos, na tarde desta terça-feira (28) com sintomas que podem ser da doença. Ele contou que o idoso estava há mais de sete dias com falta de ar e que chegou a ir ao hospital mas foi mandado de volta pra casa. Depois que os sintomas se agravaram, ele foi internado.

“Ele foi pro HPS Delphina Aziz antes de piorar e eles não aceitaram. Mandaram ele para policlínica do bairro, e lá ele também foi destratado. Passaram um remédio e ele foi pra casa em casa. Até que ele foi piorando e o filho conseguiu levar ele pro hospital de novo, porque ele não queria mais ir. Ele foi internado no Platão Araújo e lá ele faleceu”, contou o pedreiro.

À reportagem, Jean Carlos declarou que não acredita que a causa da morte tenha sido Covid-19, porque “se fosse, todo mundo em casa estaria contaminado”.

Acreditando que o idoso tenha morrido por insuficiência respiratória, Jean foi ao cemitério N.S. Aparecida solicitar a abertura da cova da ex-esposa, para que o ex-sogro possa ser enterrado junto da filha.

Na última sexta-feira (24), o técnico em enfermagem Alessandro Pascoal de Souza, de 40 anos, morreu após oito dias internado na própria unidade onde trabalhava, HPS Platão Araújo. Ele apresentava sintomas semelhantes aos de Covid-19, mas faleceu antes que o resultasse do exame ficasse pronto. Na certidão de óbito, a causa da morte foi registrada como síndrome respiratória aguda grave.

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