Atletas franceses suspeitam ter contraído coronavírus em outubro na China

Membros da delegação francesa que esteve nos Jogos Mundiais Militares de Wuhan, em outubro, relataram sintomas parecidos com os da Covid-19. Declarações devem acirrar discussão sobre origem do vírus.

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Vários esportistas da delegação francesa que viajou a Wuhan para participar dos Jogos Mundiais Militares, no fim de outubro de 2019, disseram ter estado doentes, com sintomas similares aos do novo coronavírus, quando regressaram da China, noticiaram nesta terça-feira (5) a emissora BFM TV e o jornal “Le Parisien”.

De forma anônima, um dos 281 atletas que representaram a França em Wuhan relatou à BFM TV que, depois do retorno, teve febre e dificuldades para respirar e permaneceu em repouso por três dias. Pelas redes sociais, ele descobriu que vários de seus colegas também estavam doentes, com sintomas parecidos, afirmou.

O caso chamou a atenção para declarações anteriores dadas pela atleta de pentatlo moderno Elodie Clouvel, que, em fins de março, dissera à emissora Télévision Loire 7 que acreditava ter sido contaminada na China em outubro do ano passado.

Questionada sobre eventuais temores de viajar ao Japão para participar dos Jogos Olímpicos (logo em seguida adiados para 2021), Clouvel respondeu que não tinha medo por acreditar já ter passado pelo vírus, assim como seu companheiro, o desportista Valentin Belaud.

“Estivemos em Wuhan nos Jogos Mundiais militares de fim de outubro, e depois todos passamos mal. Valentin faltou três dias aos treinos. Eu também estive doente. Tive coisas que não havia tido antes, mas não nos preocupamos porque então não se falava disso”, declarou Clouvel, que é citada pelo jornal “Le Parisien”.

Ela acrescentou que, mais tarde, o médico militar teria dito a ela que muitos membros da delegação estiveram doentes. O “Le Parisien” noticiou que vários atletas da delegação sueca também ficaram doentes depois de estarem em Wuhan, alguns deles com febre forte. Mas nenhum deles testou positivo para covid-19, afirmaram as Forças Armadas suecas, citadas pelo jornal, já em meados de abril.

Os Jogos Mundiais Militares ocorreram de 18 a 27 de outubro em Wuhan, e deles participaram 10 mil atletas de mais de cem países.

A China notificou em dezembro de 2019 à Organização Mundial da Saúde (OMS) que havia detectado o novo coronavírus em Wuhan. O primeiro caso reconhecido data de 17 de novembro.

Troca de acusações

As declarações dos atletas franceses devem acirrar ainda mais a discussão sobre a origem do vírus e o comportamento inicial das autoridades chinesas.

Enquanto o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirma ter evidências de que o vírus tem origem num laboratório em Wuhan, o Ministério do Exterior da China declarou que o vírus pode ter sido levado a Wuhan pela delegação de esportistas dos EUA que participaram dos Jogos Mundiais militares.

A OMS afirmou que não recebeu qualquer evidência dos Estados Unidos de que a origem do vírus está num laboratório em Wuhan e acrescentou que as informações disponíveis indicam que o novo coronavírus surgiu de forma natural.

Primeiro caso na França já em dezembro

No domingo passado, um médico francês confirmou o diagnóstico do vírus num paciente que esteve internado em 27 de dezembro num hospital em Bobigny. O homem se chama Amirouche Hammar, tem 42 anos, e vive nos subúrbios de Paris. Ele pode ter sido o primeiro paciente de Covid-19 na França, várias semanas antes do primeiro caso oficial, em 24 de janeiro.

Hammar disse à emissora BFMTV que estava com dores no peito e dificuldades para respirar quando resolveu ir, ele mesmo dirigindo, ao hospital. “Eles me disseram: ‘Talvez você esteja com uma infecção pulmonar. O que você tem é muito sério'”, declarou à emissora.

O hospital Avicenne, em Bobigny, testou amostras sanguíneas antigas de pacientes com pneumonia e confirmou o caso. O médico Yves Cohen disse que o teste de Covid-19 foi feito duas vezes para ter certeza do resultado. As amostras haviam sido recolhidas para detectar uma eventual contaminação por gripe ou pelos outros coronavírus e foram depois congeladas.

Hammar não viajou para a China recentemente. A suspeita dos médicos é de que ele tenha tido contato com uma pessoa infectada e assintomática.

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