OMS suspende pela segunda vez testes com hidroxicloroquina contra a Covid-19

Decisão se refere a testes dentro dos ensaios Solidariedade. Anúncio foi feito nesta quarta-feira (17); entidade afirmou que evidências científicas apontam que a substância não reduz a mortalidade de pacientes internados com o novo coronavírus.

0
649

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou, nesta quarta-feira (17), que vai suspender, pela segunda vez, os ensaios clínicos com hidroxicloroquina contra a Covid-19. Segundo a entidade, as evidências científicas apontam que a substância não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.

A decisão da OMS se refere aos testes dentro dos ensaios Solidariedade, iniciativa global que busca tratamentos para o novo coronavírus.

“Hoje, há cinco minutos, nós finalizamos uma ligação com todos os pesquisadores no ensaio. Com base nas evidências disponíveis, a decisão tomada foi de parar a randomização com o ensaio da hidroxicloroquina”, explicou a médica Ana Maria Henao Restrepo, do programa de emergências em saúde da organização.

Restrepo explicou que a decisão foi adotada com base nas evidências encontradas no ensaio “Recovery”, do Reino Unido, que não encontrou benefícios em usar a hidroxicloroquina contra a Covid-19, e em dados disponíveis nos próprios ensaios Solidariedade.

A entidade já havia suspenso os testes com a substância, que é usada para tratar doenças autoimunes e alguns tipos de malária, no dia 25 de maio. Depois, entretanto, retomou os ensaios.

Ensaios Solidariedade

Os ensaios Solidariedade foram anunciados pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em 18 de março. Vários hospitais, no mundo inteiro, fazem parte da iniciativa. Segundo a OMS, no dia 25 de maio, havia 35 países recrutando pacientes para estudos em mais de 400 hospitais ao redor do mundo.

A organização afirma que a iniciativa pode diminuir em 80% o tempo necessário para ensaios clínicos, que geralmente levam anos para serem desenhados e conduzidos.

Qualquer adulto com Covid-19 que seja internado em um hospital participante pode fazer parte das pesquisas. Os pacientes são distribuídos, de forma aleatória por um computador, entre 5 opções de tratamento:

  1. Um grupo de pacientes recebe apenas a forma de tratamento padrão do local onde está.
  2. O segundo grupo recebe essa forma de tratamento + o antiviral remdesivir, que já foi testado para o ebola e teve resultados promissores contra a Sars e a Mers, também causadas por vírus da família corona (como o Sars-CoV-2, o novo coronavírus).
  3. O terceiro grupo recebe o tratamento padrão + hidroxicloroquina (suspenso pela segunda vez).
  4. O quarto grupo recebe o tratamento padrão + os antivirais lopinavir e ritonavir, usados para tratar HIV. Ainda não há evidências de que sejam eficazes no tratamento ou prevenção da Covid-19, segundo a OMS.
  5. O quinto grupo recebe o tratamento padrão + interferon beta-1a, usado para tratar esclerose múltipla.

Antes do “sorteio” do tratamento, o paciente é avaliado por uma equipe médica para descartar medicamentos que definitivamente não poderiam ser dados a ele.

No Brasil, os ensaios do Solidariedade são coordenados pela Fiocruz.

Novo remédio

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e o diretor de emergências da organização, Michael Ryan, também destacaram que o corticoide que demonstrou ter efeito em casos severos de Covid-19 deve ser usado apenas por pacientes em estado grave pela doença, e que as pessoas NÃO devem usar a medicação por conta própria ou para prevenir a doença.

Médico sobre uso indiscriminado de corticoide: ‘risco de aumento de complicação viral’

Além disso, os diretores destacaram que mais estudos são necessários para entender o mecanismo de ação da substância. A eficácia do remédio foi apontada por pesquisadores dos ensaios “Recovery”, liderados pela Universidade de Oxford, mas nenhum estudo científico com os resultados foi publicado ainda.

Tedros Adhanom Ghebreyesus — Foto: Salvatore Di Nolfi/Keystone/AP

Tedros Adhanom Ghebreyesus — Foto: Salvatore Di Nolfi/Keystone/AP

“Esses medicamentos devem ser usados ​​apenas sob supervisão clínica”, pontuou Tedros.

Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) — Foto: Christopher Black/OMS

Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) — Foto: Christopher Black/OMS

“É excepcionalmente importante que essa droga seja usada sob supervisão médica”, destacou Ryan. “Não é para casos leves, não é para profilaxia [prevenção]”.

“Essa droga é um anti-inflamatório muito, muito poderoso. Pode resgatar pacientes que estão em condição muito grave, quando os pulmões e o sistema cardiovascular estão muito inflamados. Ela permite, talvez, que os pacientes consigam oxigenar o sangue em um período muito crítico, ao rapidamente reduzir a inflamação em um período muito crítico da doença”, esclareceu o diretor de emergências.

“Não é um tratamento para o vírus em si”, explicou Ryan. “Não é uma prevenção. Na verdade, esteroides, principalmente esteroides poderosos, podem ser associados à replicação viral. Em outras palavras, eles podem facilitar a divisão e a replicação do vírus”, disse.

“Então, é excepcionalmente importante, neste caso, que essa droga seja reservada a pacientes gravemente doentes, que podem se beneficiar dessa droga, claramente. Isso é uma ótima notícia, mas é parte da resposta de que nós precisamos clinicamente. Oxigênio, ventilação, o uso de antivirais, o uso de esteroides – e achar uma combinação de terapias que nos permita salvar a maior quantidade possível de pacientes”, explicou Ryan.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui