Uma análise genética de pacientes com Covid-19 sugere que o tipo sanguíneo pode influenciar se alguém desenvolve a forma grave da doença provocada pelo novo coronavírus, o Sars-Cov-2.
Os cientistas que compararam os genes de milhares de pacientes na Europa descobriram que aqueles que tinham sangue tipo A eram mais propensos a ter a forma grave da doença, enquanto aqueles com tipo O eram menos propensos.
O relatório divulgado no “New England Journal of Medicine”, na quarta-feira (17), não prova uma conexão do tipo sanguíneo, mas confirma um estudo anterior chinês sobre essa relação.
Parameswar Hari, especialista em sangue da Faculdade de Medicina de Wisconsin, afirmou que a maioria dos especialistas desconsiderou esse primeiro estudo feito na China, mas que com esse novo levantamento ele passou a acreditar.
“Pode ser muito importante [a relação entre o tipo sanguíneo e a evolução da doença]”, afirmou, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
No entanto, outros especialistas pedem cautela. Eric Topol, que chefe do Instituto Translacional de Pesquisa Scripps, em San Diego (EUA), afirmou que o estudo ainda não é suficiente para ter certeza do papel do tipo sanguíneo.
Cientistas na Itália, Espanha, Dinamarca, Alemanha, entre outros países, compararam cerca de 2 mil pacientes em estado grave de Covid-19 com milhares de outras pessoas saudáveis ou que apresentavam apenas sintomas leves ou inexistentes.
Os pesquisadores vincularam variações em seis genes à probabilidade do paciente desenvolver a forma grave da doença, incluindo alguns que poderiam ter um papel na vulnerabilidade das pessoas ao novo coronavírus, o Sars-Cov-2. Eles também vincularam grupos sanguíneos a possíveis riscos.
A maioria dos estudos genéticos como esse é muito mais amplo, por isso, na avaliação de Eric Topol era preciso outros cientistas tenham a oportunidade de avaliar novos grupos de pacientes para constatar se existem as mesmas relações entre sangue e gravidade da Covid-19.
Existem quatro tipos principais de sangue: A, B, AB e O. Mary Horowitz, chefe científica do Centro Internacional de Pesquisa em Transplante de Sangue e Medula, explicou que as pessoas com o tipo O são mais capazes de reconhecer certas proteínas como estranhas.
Parameswar Hari explica que essa propriedade pode se estender às proteínas da superfície do novo coronavírus. O especialista lembra que, durante o surto de SARS, causado por um tipo de coronavírus, observou-se que pessoas com tipo sanguíneo O eram menos propensas a contrair formas grave da doença.