Tratamento da Covid-19 com plasma ainda é experimental, alerta OMS

Uso da substância contra a doença foi aprovado no domingo (23) pela agência reguladora dos Estados Unidos. Entidade também falou sobre um possível caso confirmado de reinfecção em Hong Kong.

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A cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, alertou nesta segunda-feira (24) que o tratamento da Covid-19 com plasma convalescente (material com anticorpos retirado do sangue de pacientes que já se recuperaram da doença) ainda é experimental.

“Os resultados têm sido inconclusivos”, afirmou Swaminathan, reforçando que o uso da substância só deve ser feito dentro de ensaios clínicos.

“O que envolve é coletar plasma de pessoas que se recuperaram da Covid e usar para transfundir em alguém que está doente. Geralmente, é usado em pacientes gravemente doentes, hospitalizados”, explicou a cientista.

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A foto, tirada em um hospital em Bogotá, na Colômbia, no dia 12 de agosto, mostra bolsas de plasma doadas por um médico que se recuperou da Covid-19. O tratamento pode ajudar pacientes que estão infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). — Foto: Raúl Arboleda/AFP

A foto, tirada em um hospital em Bogotá, na Colômbia, no dia 12 de agosto, mostra bolsas de plasma doadas por um médico que se recuperou da Covid-19. O tratamento pode ajudar pacientes que estão infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). — Foto: Raúl Arboleda/AFP

“No plasma convalescente, um dos desafios é cada indivíduo pode ter concentrações diferentes de anticorpos neutralizantes, e é muito difícil realmente testar e padronizar isso. Não é uma terapia padrão, porque o sangue está sendo retirado de diferentes pacientes e sendo transfundido”, continuou Swaminathan.
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“Existem vários ensaios clínicos acontecendo ao redor do mundo, olhando para o plasma convalescente comparado ao tratamento padrão. Apenas poucos deles relataram resultados”, disse. “Claro que países podem fazer o uso emergencial se acharem que os benefícios superam os riscos, mas isso normalmente é feito enquanto se espera por evidências mais definitivas”, ponderou.

No domingo (23), a agência reguladora dos Estados Unidos, a FDA (espécie de Anvisa americana), aprovou o uso emergencial da substância para tratar a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).

“Em todas as terapias, pode haver riscos”, pontuou Bruce Aylward, conselheiro sênior do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Profissional de saúde segura bolsa de plasma doada por médico que se recuperou da Covid-19 em hospital de Bogotá, na Colômbia, em foto tirada no dia 12 de agosto. O tratamento com plasma convalescente pode ajudar pacientes infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) a combater a doença.  — Foto: Raúl Arboleda/AFP

Profissional de saúde segura bolsa de plasma doada por médico que se recuperou da Covid-19 em hospital de Bogotá, na Colômbia, em foto tirada no dia 12 de agosto. O tratamento com plasma convalescente pode ajudar pacientes infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) a combater a doença. — Foto: Raúl Arboleda/AFP

“No caso do plasma convalescente, há uma série de efeitos colaterais, de relativamente leves, como calafrios, febre, até outros, como dano aos pulmões ou até sobrecarga circulatória”, destacou. “Os ensaios clínicos são extremamente importantes para saber se temos um benefício claro”.

Possível reinfecção

Maria van Kerkhove, líder técnica do programa de emergências da OMS — Foto: Christopher Black/OMS

Maria van Kerkhove, líder técnica do programa de emergências da OMS — Foto: Christopher Black/OMS

A líder técnica da OMS, Maria van Kerkhove, foi questionada sobre um possível caso de reinfecção em Hong Kong, onde um paciente de 33 anos teria se infectado pela segunda vez com a Covid-19. De acordo com van Kerkhove, os cientistas da universidade encontraram várias mutações no Sars-CoV-2 na segunda infecção.

“O que entendemos é que pode ser um caso de reinfecção. É possível”, afirmou a líder técnica.

Segundo van Kerkhove, os cientistas fizeram um sequenciamento genético do vírus encontrado na segunda infecção, e descobriram 24 partes do código genético que era diferente do primeiro vírus.

“Acho que é importante colocar isso em contexto. Houve mais de 24 milhões de casos relatados até agora, e precisamos olhar para isso a nível de população. É muito importante que documentemos isso, e, em países que podem fazer isso, que o sequenciamento seja feito. Isso ajudaria muito. Mas não podemos pular para nenhuma conclusão, mesmo que esse seja o primeiro caso documentado de reinfecção”, disse.

Ela lembrou ainda, que, segundo o que se sabe até agora, todos que são infectados pelo Sars-CoV-2 desenvolvem algum nível de imunidade contra ele – a questão é saber o quão protetora ela é e por quanto tempo dura.

No Brasil, a USP apontou, no início do mês, um possível caso de reinfecção pela doença em uma técnica de enfermagem, em Ribeirão Preto. Ela apresentou, pela segunda vez, os sintomas da doença, e teve um segundo resultado positivo no teste diagnóstico.

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Em junho, pesquisadores brasileiros sequenciaram, em parceria com a Universidade de Oxford e o Imperial College de Londres, mais de 400 códigos genéticos diferentes do coronavírus no país. Os cientistas já haviam conseguido sequenciar, em tempo recorde, o genoma do vírus responsável pelo primeiro caso brasileiro, em fevereiro.

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